‘Explodiu tudo’: o relato do combate que matou 2 brasileiros na Ucrânia
Mísseis russos atingiram o alojamento onde estavam dois brasileiros aliados das tropas ucranianas mortos em combate na madrugada de ontem (2) na cidade de Kharkiv, segundo relato dado pelo comando do pelotão às famílias de Douglas Búrigo e Thalita do Valle horas após a batalha.
Já são três casos de brasileiros mortos em meio à guerra na Ucrânia. Na madrugada de 5 de junho, André Hack Bahi morreu ao ser atingido em um confronto em Sieverodonetsk, um dos principais campos de batalha no leste do país.
Procurado pelo UOL, o Itamaraty (Ministério das Relações Exteriores) não se manifestou sobre o relato das mortes de Douglas e Thalita até a publicação desta reportagem. O órgão levou quatro dias para confirmar a morte de André. A família de Douglas disse ter sido procurada pela embaixada brasileira na Ucrânia. Contudo, os parentes de Thalita ainda não foram localizados.
Douglas e Thalita integravam o mesmo pelotão de André Hack, o primeiro brasileiro morto na guerra da Ucrânia. Menos de um mês depois, a unidade volta a enfrentar baixas de combatentes vindos do Brasil.
Segundo o relato repassado ontem por chamada de vídeo à família de Douglas, a tropa conseguiu fugir do alojamento após os primeiros bombardeios atingirem o local. No entanto, Douglas retornou ao perceber que Thalita não havia saído. Foi nesse momento, ainda de acordo com a família, que mísseis atingiram a unidade.
“O comandante do pelotão nos informou que a tropa conseguiu escapar depois do primeiro bombardeio. Mas o Douglas voltou para buscar a companheira de farda, que ficou para trás. Foi quando os mísseis atingiram em cheio o alojamento. Explodiu tudo”, lamentou o empresário Carlos dos Reis, cunhado de Douglas.
Natural de Uruguaiana (RS), Douglas foi militar do Exército brasileiro. Nos últimos anos, passou a morar com os pais na cidade de São José dos Ausentes, também no Rio Grande do Sul, onde era dono de uma borracharia.
Ele deixou o Brasil ao embarcar em um voo no aeroporto internacional de Guarulhos (SP) em 24 de maio. No dia seguinte, pisou pela primeira vez no país invadido. O combatente brasileiro tinha uma filha de 15 anos.
Cunhado de Douglas, o empresário Carlos dos Reis diz que a família tentou convencê-lo a não se alistar junto às tropas ucranianas. “Mas não adiantou. A ideia dele era ir à Ucrânia para ajudar na reconstrução do país”, relata.
Segundo o relato de combatentes, os caminhos de Douglas e Thalita se cruzaram na Ucrânia, quando ele ainda buscava uma oportunidade para se alistar junto às tropas ucranianas.
“A Thalita levou um dinheiro para ele e o indicou para o pelotão [onde ele se alistou]. Depois, ela foi para um batalhão da Geórgia [país do Leste Europeu]. Não deu certo, e ela passou a integrar a mesma unidade de Douglas”, disse o ex-militar Fabio Júnior de Oliveira, 42, que também esteve na Ucrânia.
Em seu perfil no LinkedIn, Thalita se identificava como advogada e integrante da comissão de direito dos refugiados da OAB-SP (Ordem dos Advogados do Brasil de São Paulo). “Ajuda humanitária em áreas de conflito pelo mundo. Atuação em áreas remotas e de escombros”, descreve na página.
Fonte: UOL