Um levantamento realizado após um pedido de partidos ecologistas da Europa revela que quase metade dos empresários afirma estar preocupado com impacto ambiental que um acordo comercial entre o Mercosul e a UE poderia gerar. 49% deles ainda afirmam que a melhor maneira de garantir que o Brasil cumpra suas obrigações ambientais, num acordo entre a UE e o Mercosul, seria por meio de medidas legalmente vinculantes, inclusive por meio de sanções.
O estudo, publicado nesta segunda-feira, foi realizado com 2,4 mil empresários na Alemanha, Bélgica, Holanda, Espanha, Itália e França. Os resultados revelam que apenas 22% estavam familiarizados com acordo comercial e que 40% dizem que o tratado não vai ter impacto em seus negócios.
O acordo foi negociado por 20 anos e, em 2019, os dois blocos finalmente chegaram a um entendimento sobre a abertura dos mercados. Mas, para entrar em vigor, o acordo precisa ser ratificado por todos os parlamentos nacionais europeus, assim como pelo Legislativo do bloco, em Bruxelas.
Mas, diante do aumento do desmatamento no Brasil, o processo foi interrompido e a própria diplomacia de países como França já avisou que, da forma que está, não haverá uma ratificação.
No Itamaraty, a questão é tratada como uma manobra de setores protecionistas europeus que não querem a concorrência dos produtos brasileiros.
Mas, segundo a pesquisa conduzida pela YouGov, depois de uma solicitação de parlamentares, 46% dos empresários indicaram que estão preocupados com as consequências ambientais de um acordo com o Mercosul.
“Os líderes empresariais querem padrões de sustentabilidade que possam ser sancionados no acordo UE-Mercosul”, dizem os deputados, numa nota que divulga o estudo.
“A maioria dos líderes empresariais pesquisados (49%) acredita que a melhor maneira de abordar essas preocupações ambientais seria através de cláusulas juridicamente vinculativas, incluindo sanções em caso de não conformidade”, aponta.
“Apenas 22,7% prefeririam compromissos sem sanções. Um grande grupo (28,3%) não sabia como as preocupações ambientais poderiam ser melhor tratadas”, destaca.
Para os deputados ecologistas, o resultado “envia um sinal claro à Comissão Europeia, que atualmente se opõe aos padrões de sustentabilidade sancionáveis no acordo UE-Mercosul”.
“Em vez disso, a Comissão está procurando criar um instrumento adicional com os países do Mercosul. Isto poderia incluir compromissos de proteção ambiental, mas deixaria de haver sanções em caso de não cumprimento, o que está longe de ser suficiente”, completa.
Anna Cavazzini, eurodeputada e relatora dos ecologistas para o Acordo UE-Mercosul, aponta que o levantamento desmente a Comissão Europeia, o braço executivo do bloco e que quer um acordo com o Brasil sem sanções.
“Repetidamente ouvimos o mesmo argumento: O setor quer o acordo comercial UE-Mercosul. Mas esta afirmação não tem nada a ver com isso. Na verdade, a pesquisa mostra que o apoio ao controverso acordo comercial UE-Mercosul não é particularmente alto na comunidade empresarial europeia”, diz.
“Os líderes empresariais compartilham nossas preocupações sobre o impacto do acordo sobre o clima e as florestas tropicais, enquanto muitos não veem nenhuma consequência positiva direta para sua empresa. Isto não é surpreendente, já que o acordo UE-Mercosul tem muitas falhas”, disse.
“A maioria dos líderes empresariais europeus apoia a exigência de incluir padrões de sustentabilidade sancionáveis no acordo. A Comissão Europeia deve finalmente mudar seu rumo a fim de fazer isso acontecer”, defende.
Yannick Jadot, deputado europeu e candidato à presidência na França, também destaca o resultado da pesquisa e diz que os dados “são claros” da preocupação dos empresários com o impacto ambiental. “Para as pequenas e médias empresas em particular, é um acordo muito pobre, escrito para beneficiar as maiores empresas, como a BASF e a Bayer Monsanto, que poderiam mais facilmente exportar pesticidas perigosos que são proibidos na UE”, disse.
“Além disso, o acordo aumenta a concorrência entre as maiores empresas e as demais. O texto do acordo não oferece nenhuma garantia de que as pequenas empresas não ficariam expostas à concorrência indevida. Trata-se de um acordo prejudicial para o meio ambiente, para a saúde e para as pequenas e médias empresas”, conclui.
Fonte: Uol/JC