O ex-governador de São Paulo e pré-candidato à Presidência da República João Doria criticou a movimentação interna para tirar o seu nome da disputa eleitoral e chamou de ‘golpe’, em uma carta enviada ao presidente do PSDB, Bruno Araújo, neste sábado (14).
No texto, Doria afirmou estar surpreso que as “tentativas de golpe continuam acontecendo”, mesmo após ter vencido as prévias, no fim do ano passado, contra o ex-governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite.
O ex-governador ainda aceita eventuais conversas com outros partidos em busca de um nome da terceira via, mas considera precoce que seu nome seja retirado por causa do desempenho nas pesquisas de opinião.
Em resposta, Araújo convocou uma reunião do PSDB para terça-feira (17) a fim de “dar conhecimento à Executiva Nacional da carta supracitada” e cita as alegações expostas por Doria nessa carta.
A crise no partido também foi exposta pelo deputado Aécio Neves (MG) que teceu duras críticas ao ex-deputado e acusou o partido de trair o ex-governador em entrevista à Folha.
O parlamentar diz que Araújo “optou por ser muito mais advogado dos interesses da candidatura de Rodrigo Garcia [para o Governo de São Paulo] do que presidente nacional do PSDB, um partido que poderia estar liderando a terceira via.”
A avaliação da campanha é que existe espaço para Doria crescer na disputa à Presidência com o aumento das inserções televisivas.
Caso o PSDB opte por trocar de candidato, Doria não descarta judicializar a questão, já que o entendimento em seu entorno é que após a convocação das prévias o partido tem obrigação de seguir o resultado.
“A carta é o seguinte, vocês estão indo por um caminho errado, e não vai me restar outra alternativa a não ser buscar os meus direitos. E não é só os direitos do João, são dos 30 mil filiados. Teve R$ 12 milhões de gastos de dinheiro público”, disse Arthur Rollo, advogado de João Doria.
Segundo a carta enviada pelo ex-governador paulista, as desculpas para a tentativa de se trocar o candidato do PSDB na disputa presidencial desse ano são as “mais estapafúrdias, por exemplo, a de que estaríamos mal colocados nas pesquisas de opinião e com altos índices de rejeição”.
Ele ainda disse que pesquisa de opinião não pode ser ‘guia único’ para definir os destinos do partido.
Na carta de convocação à reunião, Araújo responde que todas as negociações para uma candidatura única foram levadas em consideração “com notória anuência do ex-governador de São Paulo, pré-candidato do PSDB à Presidência, e com o aval da Executiva Nacional do Partido e das bancadas no Congresso Nacional”.
Diante da saída da União Brasil das negociação de partidos da terceira via, o PSDB optou por manter as conversas com MDB e Cidadania, seguindo um roteiro que deve levar à queda de João Doria (PSDB) e escolha de Simone Tebet (MDB) —e que já vem provocando reações no partido.
Aliados de Doria afirmam não haver chance de que o ex-governador desista e pregam que o PSDB tenha uma candidatura própria, conforme definido nas prévias de novembro vencidas pelo paulista. Eles consideram Doria mais competitivo que Tebet.
Já entusiastas do ex-governador gaúcho Eduardo Leite (PSDB) também dizem preferir uma candidatura própria, mas não a de Doria —que, na visão deles, prejudicaria a eleição de candidatos a governador e a deputado.
Tem crescido no partido a cobrança para que tucanos tenham coragem de demonstrar oposição à candidatura de Doria. A costura de uma solução política, afirmam os adversários do paulista, poderia construir outra candidatura tucana em vez de delegar para a terceira via a derrubada de Doria.
Fonte: Folha de São Paulo