O Piauí foi destaque no começo deste fim de semana com duas notícias envolvendo os dois principais ícones da política piauiense neste momento: governador Wellington Dias (PT) e o senador Ciro Nogueira, presidente nacional do Progressistas (PP), que deverão se confrontar na campanha eleitoral do ano que vem. O governador foi exaltado na revista Veja como grande político de articulação nacional, principalmente em relação ao enfrentamento da pandemia da Covid-19. Já o senador foi o destaque da revista Crusoé por suposto envolvimento em esquema de corrupção no âmbito de compra de vacinas contra a doença.
Sobre o senador Ciro Nogueira, a apuração da Crusoé mostra um suposto esquema de corrupção capitaneado pela alta cúpula do Partido Progressista no Ministério da Saúde.
O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP), e o presidente do PP Brasil e senador da República, Ciro Nogueira, são apontados como autores de pressão para ampliação do valor do contrato de logística no Ministério da Saúde, realizando pressão, inclusive, contra o então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello. As revelações podem jogar luz no que Pazuello queria dizer quando deixou o ministério, dizendo que foi vítima de pressão de figurões da política após se recusar a liberar o ‘pixulé’.
“O informante envolve a cúpula do Progressistas, além do próprio Roberto Dias, em um suposto esquema de desvio de dinheiro no contrato de distribuição de vacinas com a VTCLog. Foram nominalmente citados, além de Ricardo Barros, Arthur Lira, Ciro Nogueira, políticos responsáveis diretos por indicações a postos de comando dentro do ministério, além da advogada Andreia Lima, que se apresenta como CEO da empresa e já teve sua convocação aprovada pela CPI na semana passada, para explicar os negócios nebulosos celebrados com o ministério. Pedidos de quebras dos sigilos bancário, fiscal e telefônico da empresa e da executiva também já foram apresentados na comissão”, diz Crusoé.
A revista aponta que o esquema seria operado por um indicado do atual comandante da Câmara: “Lira, um dos supostos beneficiários do esquema, foi o responsável pela indicação do então coordenador-geral de material e patrimônio do Ministério da Saúde Alexandre Lages Cavalcante. Foi Cavalcante quem assinou o contrato hoje recheado de indícios de irregularidades entre a pasta e a VTCLog em julho de 2018. Cavalcante já foi secretário de Gestão em Alagoas, apadrinhado pelo atual presidente da Câmara e por seu pai, o ex-senador Benedito de Lira”.
Cavalcante migrou do MS para o governo do Distrito Federal, onde foi exonerado cinco meses após assumir o cargo por conta da suspeita de envolvimento em um escândalo milionario: “Ele deixou o ministério no início de 2019, após ser nomeado subsecretário de Saúde no governo do Distrito Federal. Foi exonerado cinco meses depois, com a repercussão negativa em torno da ação movida contra ele pelo Ministério Público Federal no mesmo caso em que Barros e a empresa Global Gestão em Saúde também são réus: o pagamento de 19,9 milhões de reais por remédios para tratar doenças raras que nunca foram entregues. A Global é a sócia da Precisa Medicamentos, a empresa intermediária que assinou o contrato de 1,6 bilhão de reais da vacina indiana Covaxin”.
Apurações do Ministério Público Federal mostra que Alexandre Cavalcante foi quem assinou, ainda em 2017, a ordem de pagamento antecipado para Global, empresa conhecida por não entregar os produtos contratualizados ou entregar produtos de uma qualidade inferior.
“Segundo o MPF, foi Alexandre Cavalcante quem também assinou, em 2017, a ordem de pagamento antecipado para a Global, após um servidor da pasta, depois de pressionado, ter se recusado a fazê-lo por suspeitar de irregularidades no procedimento. O relato se assemelha ao depoimento prestado por Luis Ricardo, irmão do deputado Luis Miranda, sobre uma pressão interna para permitir o pagamento antecipado de 45 milhões de dólares em uma conta em Singapura aberta por uma filial do laboratório indiano Bharat Biotech, que não constava do contrato intermediado pela Precisa com o Ministério da Saúde. A nova denúncia envolvendo o negócio com a VTCLog aponta para uma pressão política para turbinar o contrato de transporte de vacinas”, explica Crusoé.
A suspeita é que o pixulé, citado pelo ex-ministro da Saúde no desembarque do pasta, seria o resultado de um flexão do gestor para atender os interesses nada republicanos dos parlamentares fisiológicos.
“Os senadores da CPI da Covid suspeitam que esse caso guarde relação direta com os pedidos de “pixulé” — um eufemismo para propina — que o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello disse, no dia em que deixou o ministério, ter recebido de políticos interessados no polpudo orçamento da pasta. À CPI, o deputado Luis Miranda afirmou que, em conversa reservada durante um voo, três dias antes de sua demissão, Pazuello lhe confidenciou que um político ameaçou tirá-lo do cargo caso não liberasse o “pixulé” do ministério no fim de 2020. Depois do depoimento, segundo integrantes da comissão, Luis Miranda teria dito que o nome citado por Pazuello foi o de Arthur Lira. Ao ser questionado sobre o fato, durante o programa Roda Viva, da TV Cultura, na última segunda-feira, 12, Miranda afirmou que ex-ministro é que deveria revelar o nome, mas não negou que o político citado tenha sido o do atual presidente da Câmara. “O Pazuello sabe o que ele falou. Se ele mentir, eu desminto ele”, declarou Miranda”, lembra revista do grupo O Antagonista.
A relação de Ciro Nogueira e com o dono da VTCLog, Carlos Alberto de Sá, conhecido como Carlinhos, pode ter sido fruto de uma falha moral do senador do PP:
“A Crusoé, Flavinho admitiu não apenas cultivar relação com os políticos citados, incluindo Flávio Bolsonaro, que jogaria “futebol em sua casa”, como afirmou, em nome da manutenção da “amizade com Ciro Nogueira”, ter perdoado um caso extraconjugal de sua própria mulher com o senador que hoje integra a tropa de choque do governo na CPI. Segundo a denúncia que chegou aos ouvidos de Luis Miranda e da própria CPI, o suposto escândalo envolvendo a traição só não foi detonado porque Ciro, colocado contra a parede por Flavinho, pressionou Roberto Dias a assinar o aditivo com a VTCLog no momento em que o contrato estava sob risco. No fim, com o contrato renovado, como numa ação entre amigos, todos se deram bem: Flavinho, o dono da VTCLog e os expoentes do Centrão, que mantiveram, segundo a denúncia, seus esquemas na Saúde”, pontua Crusué.
Segue a revista destacando que “num primeiro momento, Flavinho negou ter usado a história envolvendo sua mulher para favorecer a VTCLog. Também rechaçou conhecer qualquer tipo de falcatrua na Saúde. “Jamais pedi ao Ciro (ajuda nos negócios do Carlinhos, dono da VTCLog). O Ciro nunca me deu abertura para isso. Eu nem sabia que o Carlinhos precisava dessa ajuda”, afirmou. Informado na quinta-feira, 15, que seu nome seria incluído na reportagem, o empresário mudou o tom. Disse que, se Crusoé topasse retirar seu nome da matéria, “ele poderia ajudar com informações”.
Acompanhe a seguir, na íntegra, reportagem com Wellington Dias na Veja:
O senhor segue a mesma linha dos oposicionistas de que o governo adotou uma política genocida no enfrentamento da pandemia? Ninguém pode negar que tivemos uma tragédia no Brasil. Cito um dado apenas: o Brasil tem 2,7% da população mundial e já alcançou mais de 13% do número de óbitos do mundo. O Brasil tem cerca de quatro vezes mais óbitos do que a proporção de sua população. É uma tragédia. Não seguir a ciência levou a essa tragédia. Não ter monitoramento, não ter a compra de insumos, não ter plano para prevenção e tratamento, não fazer a compra de vacina quando teve oportunidade, tudo isso junto levou a esse resultado desastroso.
O presidente teria deixado de fazer isso deliberadamente para matar as pessoas? Precisa ser analisado se o objetivo era causar as mortes ou se tinha mesmo alguém que acreditava que a propagação do vírus era uma forma de se livrar rápido do problema. A ciência negou isso o tempo inteiro. Se houve mesmo incentivo à propagação do vírus para se livrar da pandemia, foi uma política genocida. Vamos esperar o resultado da CPI.
Qual a impressão que o senhor tem do presidente Bolsonaro? Eu convivi com o deputado Jair Bolsonaro no Congresso. Nesse período atuamos em um mesmo bloco e mantivemos relação sempre respeitosa. O presidente precisa colocar o interesse do país acima das disputas políticas. Infelizmente, ele procura manter um tensionamento permanente. A disputa política fica sempre em primeiro plano e a pauta de interesse público em segundo.
E sobre o governo Bolsonaro? Além dos problemas no combate à pandemia, o que precisamos hoje na política é de diálogo. Na área econômica, não é possível acreditar apenas no livre mercado. Há necessidade de ter um plano, uma presença forte do governo estimulando o setor privado para que a gente tenha chance. O país está dependendo das commodities muito mais do que antes. Commodities que, sob o ponto de vista econômico, geram crescimento, mas não muito emprego e renda. Também estamos estragando nossas relações internacionais, metendo-nos o tempo todo em assuntos impróprios. A imagem do Brasil no exterior é péssima, especialmente por causa da política ambiental, da questão indígena, da forma como tratamos a segurança. O armamento vai na contramão da história. Em resumo: o governo é muito ruim.
“Lula se coloca como alternativa pela sua capacidade de dialogar, ouvir e tolerar. Há a necessidade de alguém com experiência democrática”
Por que o eleitor deve acreditar que o PT é alternativa a todos esses problemas? Temos uma situação tão grave no Brasil que devemos priorizar o diálogo. Lula se coloca como alternativa pela sua reconhecida capacidade de dialogar, ouvir e tolerar. Há a necessidade de alguém com experiência democrática, alguém empenhado em fortalecer as instituições que foram atingidas nesse período. Há a necessidade de criar uma política de pacificação dentro do país, aliada a um plano que possa fortalecer a economia, gerar emprego e renda.
A corrupção não será um empecilho a esse projeto eleitoral do ex-presidente? Hoje é mais fácil responder sobre isso. Foram dezessete processos que criaram para o Lula e para outros líderes uma imagem de corrupção. Destes, catorze já foram arquivados. O que houve, na verdade, foi uma estratégia política coordenada pelo juiz Sergio Moro, que depois se tornou ministro do governo que ajudou a eleger com pretensões de ir ao Supremo. Eu sempre disse que a Lava-Jato era uma ação contra os líderes políticos e empresariais. Nós vamos defender o combate à corrupção, que ainda é grave no Brasil. Mas não dessa maneira.
O senhor fala como se não tivesse havido casos gravíssimos de corrupção durante os governos do PT. Pagou e pagará qualquer um que cometer crime de corrupção em nossos governos. Quem cometeu, quem a Justiça comprovou que cometeu, foi expulso do PT. O que precisa ser dito, em alto e bom som, é que, enquanto partido, continuamos defendendo a ideia de que quem cometer corrupção terá de pagar. O que não podemos é permitir o espetáculo processual, expondo pessoas inocentes.
O PT se corrompeu? Digo que pessoas do meu partido, em meio a 1,5 milhão de militantes, infelizmente, também foram para o descaminho.
Quem? O ex-ministro Palocci confessou em depoimentos, não sou eu quem o está julgando. Era uma pessoa preparada, com capacidade técnica extraordinária.
O senhor acredita na formação de uma frente ampla para enfrentar o presidente Bolsonaro em 2022? Sinceramente, não. Um campo político com o apoio que tem o ex-presidente Lula dificilmente abrirá mão de utilizar essa vantagem. O que estou dizendo: é possível que o ex-ministro Ciro Gomes seja candidato? Sim. Que o campo do ex-presidente Fernando Henrique, Doria, Eduardo Leite, lancem candidato? Sim. Defendo o entendimento pensando no interesse maior.
Hoje o PT critica a aliança que o governo fez com o chamado Centrão, mas o partido fez a mesma aliança quando estava no poder. Em todos os lugares do mundo você governa com os partidos que ajudaram a construir a vitória. Qualquer presidente precisa confiar a composição de um governo a um conjunto de líderes. Evidentemente, o ideal é que as escolhas priorizem afinidade, conhecimento e experiência nas áreas de atuação. Fui governador entre 2003 e 2010, período em que Lula foi presidente. Vi de perto a capacidade dele de dialogar, construindo uma maioria no Congresso que permitiu a aprovação de projetos importantes. O que não pode é submeter o país a qualquer caminho que seja prejudicial ao interesse da população.
O senhor considera que as escolhas foram adequadas nos governos petistas? Tanto foram adequadas que isso foi o que gerou problemas, principalmente na gestão da presidenta Dilma. O conflito que ela enfrentou tinha a ver com determinados anseios de aliados que queriam indicação em determinadas áreas que não foram atendidas.
O senhor faz muitos elogios ao governo Lula, mas pouco fala sobre o governo Dilma, que foi destituída por um processo de impeachment. Dilma foi uma presidenta honesta, uma presidenta com elevado espírito público. Em 2009, eu avaliava que não seria uma tarefa fácil substituir um dos maiores presidentes da história deste país. Havia a necessidade de ter alguém que tivesse uma experiência maior em relação à política. Dilma foi eleita para o primeiro mandato e seguiu o programa daquele primeiro mandato. Em 2014, havia a oportunidade de uma alternância, mas o Lula nunca sugeriu isso a ela. Foi aí que começaram os problemas.
Lula errou ao não impor sua candidatura em 2014? O que o presidente Lula diz é que, quando houve a alteração constitucional prevendo a reeleição, Fernando Henrique exerceu esse direito. Ele também teve o direito à reeleição. Por isso, não seria razoável a primeira mulher presidente do Brasil não exercer esse direito. O problema é que era um momento muito tenso e exigia uma capacidade de diálogo, de articulação, realmente muito elevada, e ela tinha essa dificuldade.
Mas o que a ex-presidente poderia ter feito de diferente? Eu estava no Congresso Nacional, no Senado Federal, era líder do bloco de apoio ao governo da presidenta Dilma. Repito: uma pessoa honesta, uma pessoa de grande espírito público, mas tinha muitas dificuldades em relação aos líderes. Você não é obrigado a dizer sim aos pleitos que são apresentados. Mas é razoável que ouça, é razoável que receba e responda. E que responda com uma justificativa adequada e uma política de respeito. Olhando para trás, acho que, se Lula tivesse sido candidato em 2014, creio que não teríamos enfrentado os problemas que enfrentamos.
“Não podemos banalizar o instrumento do impeachment. Ou existe uma prova muito concreta, robusta, ou temos de respeitar a soberania da vontade popular”
Defender o impeachment do presidente Bolsonaro é uma estratégia correta? Compreendo que a democracia prevê a figura do afastamento de um presidente da República, mas não podemos banalizar o instrumento do impeachment. Ou existe uma prova muito concreta, robusta, ou temos de respeitar a soberania da vontade popular. No caso de Bolsonaro, na minha opinião, ainda não há uma comprovação que permita o impeachment. Não duvido que venha a surgir. Se tiver desvios, especialmente nesse caso da Covaxin, aí muda tudo. Se o remédio necessário for o impeachment, vamos usar. Mas não podemos levar o país a aventuras.
É verdade que o senhor chegou a cogitar a possibilidade de formar uma chapa com Aécio Neves em 2010? Na época teve aquela dobradinha em Minas Gerais, de Lula e Aécio, o Lulécio. Esse diálogo foi aberto pela boa relação dele com o Lula, pela possibilidade de ele se filiar a um partido da nossa base e como um líder destacado, citado para ser candidato a presidente pelo campo político apoiado pelo Lula. Eu estava no segundo mandato de governador e meu nome era lembrado como alternativa para vice. Hoje eu brinco que ele perdeu a chance de ser presidente e ainda tirou a minha de ser vice.
Fontes: Jogo do Poder, Revista Crusoé, Off News e Revista Veja