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De olho em 2026, PL aposta no desgaste econômico do governo Lula

Oposição também aposta na crise do INSS para ampliar base eleitoral

Enquanto o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) enfrenta desafios na economia e na gestão do INSS, o Partido Liberal (PL), liderado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, já se movimenta com foco nas eleições de 2026. A sigla intensificou sua ofensiva política e midiática, apostando no descontentamento popular com o custo de vida e com escândalos envolvendo benefícios previdenciários.

Na última quarta-feira (20), o PL começou a veicular uma nova propaganda partidária na televisão em diversos estados. Nela, o presidente da legenda, Valdemar Costa Neto, critica duramente a política econômica do governo e ironiza o slogan de programas sociais petistas. “O slogan do governo Lula deveria ser ‘Inflação Para Todos’”, afirma Valdemar, numa provocação direta a iniciativas como Luz para Todos — lançado originalmente em 2003 e relançado em 2023 — e o mais recente Gás para Todos, criado em 2024.

A campanha sinaliza uma mudança tática do PL: em vez de focar prioritariamente em pautas de costumes — bandeiras tradicionais do bolsonarismo —, a sigla pretende concentrar esforços em temas que afetam diretamente o bolso da população, como a inflação e a alta nos preços de alimentos e serviços essenciais. A estratégia visa ampliar a comunicação para além da base bolsonarista tradicional e alcançar eleitores moderados ou insatisfeitos com o governo atual.

“O governo que está aí faz a inflação chegar onde ela nunca chegou: aqui no supermercado e na mesa do povo brasileiro”, diz Valdemar em um dos trechos da propaganda. Ele também relembra promessas de campanha de Lula, como a de “fartura com picanha e cerveja”, e contrapõe com a frase: “Agora está tirando ovo e café da mesa de muita gente”.

Outro foco de ataque é o escândalo recente envolvendo descontos irregulares em aposentadorias e pensões pagas pelo INSS. O caso, revelado por denúncias de beneficiários que tiveram valores indevidamente descontados em nome de associações e sindicatos, gerou forte repercussão nas redes sociais e virou munição para a oposição.

Aproveitando o tema, Bolsonaro gravou uma propaganda com a frase: “Aposentadoria é sagrada. Quem rouba não cuida”, buscando colar a imagem de corrupção e descaso ao atual governo.

Mudança de tom e foco pragmático

Aliados de Bolsonaro avaliam que, embora as pautas morais continuem sendo importantes para mobilizar a base mais fiel, o debate econômico e a crítica à gestão da máquina pública são mais eficazes para atrair o eleitorado flutuante e atingir a chamada “bolha do centro”.

A estratégia reflete também um reposicionamento de Bolsonaro no cenário político: enquanto o ex-presidente ainda enfrenta restrições judiciais e incertezas sobre sua elegibilidade, o PL busca mantê-lo como principal referência da oposição, ao mesmo tempo em que testa novos discursos e figuras para fortalecer o partido no cenário nacional.

Em meio às críticas, o governo Lula tenta reagir. Em abril, o Palácio do Planalto anunciou um pacote de medidas para conter a inflação dos alimentos, incluindo incentivos à produção agrícola e negociações com varejistas para conter abusos de preço. Também foi prometida uma revisão nos mecanismos de descontos em benefícios previdenciários, com maior controle e transparência.

A disputa narrativa rumo a 2026

Com pouco mais de um ano e meio até o próximo pleito presidencial, a propaganda do PL deixa claro que a disputa por corações e mentes dos eleitores já começou. E, ao que tudo indica, será travada menos no campo ideológico e mais no cotidiano das famílias brasileiras — nos preços do supermercado, na fatura da conta de luz e no extrato do INSS.

Resta saber se o governo Lula conseguirá reverter a percepção de descontentamento econômico a tempo ou se o PL conseguirá capitalizar essa insatisfação e expandir sua influência para além do núcleo bolsonarista.

Edição: Damata Lucas – Imagem: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

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