Uma parcela de 55% da população avalia que é preciso se preocupar com a possibilidade de Jair Bolsonaro (PL) tentar invalidar as eleições, o que reforça a percepção geral colhida na mais recente pesquisa Datafolha de que o presidente deverá agir para desestabilizar o pleito de outubro.
Segundo o levantamento, feito na quarta (25) e quinta-feira (26), há ainda uma fatia de 40% que diz não ser necessário temer a hipótese de invalidação antes ou depois da votação. Um grupo de 5% não sabe responder à questão.
O instituto ouviu 2.556 eleitores acima dos 16 anos em 181 cidades de todo o país. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou menos. O levantamento, contratado pela Folha, está registrado no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) sob o número BR-05166/2022.
Outras questões feitas aos entrevistados demonstram um avanço de Bolsonaro na estratégia de fazer ilações sobre a segurança das urnas eletrônicas, espalhar rumores infundados de fraude e obrigar instituições a reagirem à sua escalada de tom golpista e contrária à ordem democrática.
A naturalização dos temas no debate público pode ser lida em resultados como os de que 56% dizem que é preciso levar a sério as ameaças do mandatário, 55% veem alguma chance de ocorrer fraude nas eleições e no recuo de 82% em março para 73% agora que afirmam confiar na urna digital.
Nos últimos meses, o presidente dá indícios de que pode contestar o resultado caso seja derrotado. Ele hoje está em segundo lugar nas intenções de voto, com 27%, atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que lidera a corrida ao Planalto com 48%.
Além do discurso que põe em xeque a integridade do sistema, o que vai na contramão de especialistas em segurança e do próprio TSE, Bolsonaro agiu para incluir as Forças Armadas no acompanhamento do processo e disse que seu partido colocará uma empresa para fazer uma auditoria privada.
Se na média geral 55% julgam ser necessário se preocupar com a tentativa de invalidação da eleição pelo mandatário antes ou depois da votação, o percentual é ainda superior quando observados grupos específicos.
Dentro da parcela que considera que a ofensiva de Bolsonaro contra a votação eletrônica atrapalhará muito as eleições, correspondente a 39% dos entrevistados, o temor de anulação é visto como justificável por 78% das pessoas.
Entre os que reprovam o governo Bolsonaro, o percentual atinge o patamar de 73%. A gestão federal é vista como ruim ou péssima por 48% do total de participantes da pesquisa.
O índice de preocupação também é mais encorpado entre aqueles que declaram voto em Lula (70%). Já na fatia que pretende votar em Bolsonaro, cai para 26%.
Os percentuais são diferentes também no recorte por gênero. A possibilidade de que o presidente despreze a eleição deve ser vista como algo preocupante na opinião de 52% dos homens, ao passo que 57% das mulheres pensam assim. A resposta oposta foi citada por 45% e 36%, respectivamente.
O presidente vem fazendo diversas insinuações golpistas em relação ao sistema eleitoral brasileiro, que mereceram nas últimas semanas respostas duras de ministros do TSE e do STF (Supremo Tribunal Federal). O mandatário rebateu parte delas, mantendo em ebulição a crise institucional.
Um levantamento da Folha no início do mês mostrou que autoridades e representantes de Poderes têm se calado diante das atitudes de Bolsonaro.
Na quinta-feira (26), ele deu mais uma demonstração de que não se compromete em aceitar o resultado das eleições, ao responder evasivamente a essa pergunta durante entrevista em Brasília.
Questionado se pode assegurar que respeitará a contagem das urnas eletrônicas, mesmo que não seja reeleito, ele disse apenas: “Democraticamente, eu espero eleições limpas”.
A investida contra o sistema eleitoral por Bolsonaro começou com a defesa do voto impresso, derrotada no Congresso. Depois, o presidente aproveitou o convite da corte eleitoral para as Forças Armadas integrarem a Comissão de Transparência das Eleições para elevar o tom contra o tribunal.
Testes públicos do sistema de votação feitos no início deste mês pelo TSE não encontraram vulnerabilidades, segundo o órgão. Os estudos, que incluíram simulações de ataques hackers, concluíram pela inexistência de brechas que possam atrapalhar o pleito deste ano.
Fonte: Folha de São Paulo