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Crise Israel-Palestina: chefe de direitos da ONU renova apelos para cessar a violência e libertar reféns

Nesta sexta-feira, o chefe de direitos da ONU, Volker Turk, reforçou que “a água é escassa e o medo é generalizado” em Gaza. 

Ele falou com a imprensa em Amã, Jordânia, após relatos de um bombardeio no Hospital Al Shifa, na Cidade de Gaza, onde milhares de palestinos deslocados estavam abrigados.

Mulher se recupera no Hospital Al Hilo na Cidade de Gaza após ser soterrada em escombros e passar por uma cesariana de emergência
© UNFPA/Bisan Ouda – Mulher se recupera no Hospital Al Hilo na Cidade de Gaza após ser soterrada em escombros e passar por uma cesariana de emergência

Acesso a ajuda humanitária

Turk fez um apelo pelo fim da violência e a segurança dos trabalhadores humanitários, bem como acesso seguro para garantir que a assistência possa ser entregue.

Ele renovou seu pedido pela libertação de todos os reféns e um fim “sustentável” para a situação “aterrorizante” das pessoas que estão sitiadas no enclave.

Ao se referir ao grande número de funcionários da ONU que perderam a vida em Gaza, Turk disse que a situação é “sem precedentes, ultrajante e profundamente desoladora”. 

Nesta sexta-feira, a Agência da ONU de Assistência aos Refugiados Palestinos, Unrwa, confirmou que mais de 100 de seus funcionários foram mortos desde o início dos bombardeios israelenses.

Falando sobre as atrocidades cometidas pelo Hamas no sul de Israel em 7 de outubro, Türk disse que esses ataques “deveriam indignar a todos nós”. Para ele, deve haver justiça, responsabilidade e reparação para as vítimas. 

Ele pediu o retorno dos 240 reféns às suas casas e o fim dos ataques contra Israel por grupos armados palestinos.

O chefe de direitos da ONU estava concluindo uma visita de cinco dias ao Oriente Médio e falou de sua visita ao Hospital El Arish em Rafah, Egito, onde viu crianças pequenas gravemente feridas em Gaza.

Ele disse que essas crianças sofreram terrivelmente, “mas ainda estão vivas e recebendo tratamento médico adequado”, Turk lembra que, segundo as autoridades de saúde, cerca de 4,4 mil outras crianças foram mortas em Gaza no último mês e mais de 26 mil ficaram feridas.

“Inferno na Terra”

Após relatos de que Israel concordou em implementar pausas de quatro horas nos combates em áreas do norte de Gaza para permitir que civis se desloquem para o sul, a ONU reiterou os pedidos urgentes por um cessar-fogo humanitário e acesso seguro e sem impedimentos para a entrega de ajuda ao enclave palestino.

O porta-voz do Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU, Ocha, afirmou que “se há um inferno na Terra hoje, seu nome é norte de Gaza”. 

Jens Laerke afirmou que as pessoas que permanecem na região são assombradas pela morte, privação e desespero. Além disso, ele ressalta que “toda” Faixa de Gaza foi “mergulhada na escuridão” desde 11 de outubro, quando a rede elétrica foi desligada e o combustível foi interrompido.

O Ocha relata que milhares de pessoas que permanecem no norte continuam lutando para encontrar o mínimo de água e comida para sobreviver. 

Todos os poços de água municipais foram fechados novamente devido à falta de combustível, interrompendo o fornecimento de água para usos domésticos não potáveis.

O Hospital Infantil An Naser na cidade de Gaza foi atingido durante um ataque aéreo, supostamente matando três pessoas e ferindo dezenas.

Um menino de 8 anos da Cidade de Rafah, senta-se entre os escombros da casa destruída de sua família.
© UNICEF/Eyad El Baba – Um menino de 8 anos da Cidade de Rafah, senta-se entre os escombros da casa destruída de sua família.

Deslocamentos

OCHA relatou que na quarta-feira cerca de 50 mil pessoas fugiram de áreas ao norte de Wadi Gaza, um vale que separa a parte norte da parte sul, por meio de um “corredor” aberto pelo exército israelense. 

As imagens mostraram pessoas caminhando, empurrando cadeiras de rodas com idosos e deslocados, ou usando carroças puxadas por burros. 

O deslocamento deve agravar a situação das instalações já superlotadas da Unrwa. Os locais estão sobrecarregados pelo número de pessoas em busca de refúgio dos bombardeios israelenses.

Turk acrescentou que o cerco, que dura mais de um mês, impede que os moradores de Gaza tenham suas necessidades básicas supridas. Por isso, ele insistiu que “todas as formas de punição coletiva devem chegar ao fim”.

Até o momento, um total de 821 caminhões de ajuda foram autorizados a entrar em Gaza vindos do Egito através da passagem de Rafah, desde que as entregas foram retomadas em 21 de outubro. Antes da crise atual, em média, 500 caminhões por dia atravessavam a fronteira.

O chefe de direitos da ONU também pediu uma investigação sobre os ataques, afirmando que não há acesso à ajuda para centenas de milhares de pessoas que permanecem no norte de Gaza.

Ele reiterou que, embora os civis devam ser protegidos pelo direito internacional “onde quer que estejam”, neste momento “nenhum lugar em Gaza é seguro” e as zonas seguras designadas pelas Forças de Defesa de Israel levantam dúvidas sobre garantias reais de segurança.

Pausas humanitárias

Na quinta-feira, em reação ao anúncio dos Estados Unidos de que Israel concordou em interromper as operações militares no norte de Gaza para permitir pausas humanitárias diárias de quatro horas, o porta-voz da ONU, Stéphane Dujarric, disse que qualquer plano para pausas de curto prazo nos combates em Gaza deve ser realizado em coordenação com a ONU e após acordo de todas as partes.

Falando sobre os ataques intensos a hospitais e nas proximidades de hospitais na Cidade de Gaza, Turk enfatizou que o direito internacional humanitário concede proteção especial às unidades médicas e exige que sejam protegidas e respeitadas a todo momento.

Turk considerou “inaceitável” que em escolas administradas pela Unrwa, mais de 600 pessoas deslocadas em busca de abrigo foram mortas ou feridas. “Há um princípio de inviolabilidade de instalações da ONU”, destacou.

Cisjordânia

Quanto à Cisjordânia ocupada, Turk pediu às autoridades israelenses que garantam a proteção dos palestinos, pois enfrentam diariamente “violência das forças israelenses e assentados, maus-tratos, prisões, despejos, intimidação e humilhação”.

Cerca de 200 palestinos já haviam sido mortos na Cisjordânia antes de 7 de outubro, e mais 176 foram mortos desde então. Segundo Turk, a violência dos colonos está destruindo vidas e meios de subsistência e alimentando o deslocamento em meio à “impunidade contínua”.

Turk pediu as autoridades israelenses que implementem as recomendações dos “numerosos relatórios de direitos humanos do Escritório sobre o Território Palestino Ocupado” e atendam os apelos por “investigações e responsabilização para pôr fim a esse ciclo de violência e vingança contra comunidades inteiras”.

Respeito ao direito internacional

O alto comissário, que ainda não recebeu acesso a Israel e ao Território Palestino Ocupado como parte de sua visita à região, disse que havia falado por telefone com defensores dos direitos humanos das duas partes.

Os defensores palestinos “destacaram as falhas da comunidade internacional em cumprir sua obrigação de garantir o respeito ao direito internacional humanitário e usar sua influência para interromper o sofrimento inconcebível de civis em meio a essa loucura”, disse ele.

O chefe de direitos da ONU pediu que a comunidade internacional cumpra suas responsabilidades, enfatizando a necessidade de aplicar padrões universais “em cada situação ao redor do mundo”.

“Os Estados-membros com influência precisam trabalhar mais do que nunca para levar as partes a um cessar-fogo, sem mais demora”, afirmou.

Fonte: ONU News – Imagem: © OHCHR

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