Coreia do Norte dispara mais de 20 mísseis em um dia
Deutsche Welle – As tensões entre a Coreia do Norte e a do Sul se acirraram nesta quarta-feira (02/11), com ambas disparando mísseis em águas próximas às costas dos dois países.
O Exército sul-coreano afirmou que Pyongyang disparou ao menos 23 mísseis, um recorde diário conforme registros dos últimos anos. E, pela primeira vez desde a separação das duas Coreias, em meados do século 20, um míssil norte-coreano caiu próximo às águas da Coreia do Sul, a menos de 60 quilômetros da costa do país. O míssil curuzou a chamada Linha de Limite Norte, uma contestada linha de demarcação marítima entre as duas Coreias.
O Norte também efetuou mais de 100 disparos de artilharia de sua costa leste para uma zona militar neutra, violando um acordo de 2018, disse o Exército da Coreia do Sul.
O presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk-yeol, descreveu o episódio como “invasão territorial”. Em resposta, caças sul-coreanos dispararam pelo menos três mísseis terra-ar no mar, incluindo um de precisão fabricado nos EUA e que pode atingir alvos a até 270 quilômetros de distância.
Os disparos por parte da Coreia do Norte ocorreram horas depois de o país ameaçar usar armas nucleares contra os Estados Unidos e a Coreia do Sul para que ambos “paguem o mais terrível preço da história”, em protesto contra exercícios militares em curso de americanos e sul-coreanos. Pyongyang considera as manobras uma provocação e um ensaio para uma invasão.
A resposta da Coreia do Sul, por sua vez, ocorreu depois que o gabinete do presidente decretou uma “rápida e firme resposta” para que a Coreia do Norte “pague o preço da provocação”.
“A provocação da Coreia do Norte hoje foi um efetivo ato de invasão territorial por um míssil que ultrapassou a Linha de Limite Norte pela primeira vez [desde a divisão das duas Coreias]”, divulgou o gabinete.
Respostas proporcionais
Ao menos um dos mísseis disparados pela Coreia do Norte teria caído a apenas 167 quilômetros da ilha de Ulleung, no sul do país, onde sirenes de emergência foram acionadas.
“Ouvimos as sirenes por volta das 8h55, e todos nós no edifício fomos para o local de evacuação, no subsolo. Ficamos lá até por volta das 9h15, depois de ouvirmos o armamento cair no mar”, disse um funcionário municipal da ilha à agência Reuters.
Para o professor Leif-Eric Easley, da Universidade Ewha, em Seul, o disparo de mísseis por parte da Coreia do Norte parece ter a intenção de pressionar a Coreia do Sul, a fim de que seu governo mude suas políticas.
“A expansão das capacidades e testes militares da Coreia do Norte são preocupantes, mas oferecer concessões sobre cooperação de alianças ou reconhecimento nuclear tornaria as coisas piores”, afirmou Easley.
O analista Cheong Seong-Chang, do Sejong Institute, na Coreia do Sul, disse que o perigo de confrontos armados entre as Coreias ao largo de suas costas ocidentais ou orientais está aumentando.
Ele afirmou que a Coreia do Sul precisa realizar “respostas proporcionais” às provocações da Coreia do Norte, mas sem “respostas exageradas”, para evitar que as tensões saiam do controle, o que poderia levar o Norte a usar armas nucleares táticas.
Tensão constante na região
Após os disparos de mísseis pela Coreia do Norte nesta quarta-feira, o presidente sul-coreano, Yoon Suk-yeol, convocou uma reunião de emergência com altos funcionários da segurança do país.
De acordo com informações divulgadas pelo gabinete presidencial, os participantes do encontro “lamentaram as provocações cometidas durante um período de luto nacional e apontaram que isso mostra claramente a natureza do governo norte-coreano”.
O luto oficial na Coreia do Sul ocorre devido aos mais de 150 mortos em uma festa de Halloween em Seul, no último sábado.
O primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, chamou os contínuos testes de mísseis norte-coreanos de “absolutamente inadmissíveis”.
O ministro da Defesa do Japão, Yasukazu Hamada, disse a jornalistas que pelo menos dois mísseis balísticos disparados pela Coreia do Norte tiveram “trajetória irregular”. Isso sugere que esse armamento seria o míssil KN-23, que é manobrável e tem capacidade nuclear, inspirado no míssil russo Iskander.
Nos últimos anos, as tensões têm sido constantes na região. Até o final de setembro de 2022, a Coreia do Norte bateu um recorde de disparos de mísseis, com mais de 30 balísticos lançados, incluindo o primeiro míssil intercontinental desde 2017, o Hwasong-12, em 30 de janeiro.
Fonte: DW Brasil – gb/lf (AP, Reuters)