GeralInternacionaisPolítica

Com nova imagem, herdeiros do fascismo podem chegar ao poder na Itália

A Itália se prepara para ser governada pelos herdeiros políticos, intelectuais e até de sangue dos movimentos fascistas que assombraram o país há quase cem anos. Diante do colapso da aliança de centro-esquerda, a líder do partido Irmãos da Itália, Giorgia Meloni, aparece como a provável vitoriosa da eleição marcada para ocorrer no dia 25 de setembro.

Se em 2018, o partido de Meloni conseguiu apenas 4% dos votos, hoje ela disputa a liderança e, com aliados, conseguiria formar um governo e se apresentar como primeira-ministra.

Ela conta, por exemplo, com o apoio de Matteo Salvini, próximo ao presidente Jair Bolsonaro e que já deu demonstrações de simpatia à extrema direita brasileira. Para governar, ela ainda costurou uma aliança com o partido Forza Itália, do populista Silvio Berlusconi.

Por mais que seu partido insista que não tem relações com um passado negro da história da Itália, os atos e suas declarações ambíguas apontam em outra direção que obrigam o país a debater seu passado.

Meloni, hoje com 45 anos, presidiu a ala jovem da Aliança Nacional, um bloco político que nasceu das cinzas do fascismo. Suas declarações também apontam para um governo ultraconservador. Há dois meses, num evento organizado pela extrema direita espanhola, ela deixou claro sua política sobre família e o papel da mulher. “Sim à família natural, não ao lobby LGBT”, declarou.

Contra a imigração, contra o aborto e contra o casamento homossexual, seu lema de campanha mistura patriotismo, família e religião. “Eu sou uma mulher, uma mãe, uma italia e uma cristã e vocês não vão tirar isso de mim”, diz.

Para alguns analistas na Itália, Meloni e seu partido representam o que poderia ser chamado de “movimento pós-fascista”.

Seus críticos apontam que o movimento de Meloni está repleto de símbolos do passado. Sua sede, por exemplo, continua sendo na Via della Scrofa 39, o mesmo local ocupado desde 1946 pelos grupos nacionalistas que herdaram o movimento político de Benito Mussolini.

Ao longo dos últimos anos, o jornal ligado ao grupo político, Secolo d’Italia, publicou colunas que flertavam com algumas das principais ideias fascistas.

No partido que hoje se apresenta como uma das forças políticas do país está ainda Rachele Mussolini, neta de Benito Mussolini e vereadora de Roma pelo partido de Meloni.

Durante sua meteórica carreira política, as declarações de Meloni deixaram margem para dúvidas. Numa delas, ela disse que Mussolini tinha uma “personalidade complexa”. Numa autobiografia, ela tampouco rompe com o passado. “Somos os filhos de nossa história, de toda nossa história”, disse. “O caminho que percorremos é complexo, muito mais complicado que muitos querem que acreditemos”, escreveu.

Assim como Bolsonaro, Meloni mantém uma estreita relação com o húngaro Viktor Orbán, com a ultradireita da França e da Espanha, além de participar de eventos políticos e religiosos nos EUA ao lado ex-presidente Donald Trump.

“Moderada”, líder do partido pede que aliados evitem saudação fascista

Mas, assim como ocorreu na França com Marine Le Pen, Meloni passou a suavizar seu tom ultraconservador nas últimas semanas. A meta é a de ampliar sua base de votos.

Uma das decisões foi a de enviar uma orientação a todos os membros de seu partido, instruindo aos candidatos e apoiadores a não usar a saudação fascista em eventos. Ela também pediu que declarações extremistas sejam abandonadas e que os grupos evitem fazer referências ao fascismo.

Sua agenda também foi modificava. No lugar dos temas tradicionais da extrema direita, a ordem é a de focar em benefícios para as famílias, redução de burocracia e impostos. Mas o tema da imigração não desapareceu e um de seus slogans é direto: “Itália e os italianos primeiro”.

Ao contrário de outros movimentos de extrema direita na Europa, ela evitou qualquer sinalização positiva ao presidente russo, Vladimir Putin, e insiste que, se eleita, a Itália estará ao lado dos ucranianos. Meloni também abandonou em parte das críticas contra a Comissão Europeia, uma das bandeiras dos ultranacionalistas. A mudança de tom surtiu efeito e sua base de apoio foi ampliada para além das zonas rurais.

Mas tanto a oposição como grupos de direitos humanos alertam que a mudança de tom pode ser apenas uma estratégia eleitoral. Um exemplo para muitos é o que ocorreu em 2017 quando a extrema direita chegou ao poder na pequena cidade de Ladispoli.

Uma das medidas anunciadas foi rebatizar a praça central. O nome escolhido: Giorgio Almirante, um dos ministros do governo fascista de Mussolini. E a inauguração da nova placa chegou a ser benzida por um bispo local.

Fonte: UOL/Jamil Chade

Imagem: Riccardo de Luca – 21.jul.22/Anadolu/AFP

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo