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Centrão: “Se gritar pega … não fica um, meu irmão!”

“Se gritar pega centrão, não fica um, meu irmão”, cantarolava um dos expoentes de Bolsonaro durante campanha. O que mudou?

O jornal Folha de São Paulo lembrou, na edição desta terça-feira (27), de um episódio que marcou o discurso contra a chamada “velha política” na campanha de Jair Bolsonaro nas últimas eleições para a Presidência da República, protagonizado pelo atual ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), Augusto Heleno.

“Se gritar pega centrão, não fica um, meu irmão”, teria cantado o general num ato partidário de 2018. Em sua versão, ele canta “centrão” no lugar de “ladrão”, que consta na letra original de uma música de grande sucesso composta por Ary do Cavaco e Bebeto Di São João.

Critica a Folha que pouco mais de dois anos depois, o discurso mudou radicalmente. “Eu nasci de lá [do centrão]”, afirmou Bolsonaro na quinta-feira (22), também em entrevista. “Eu sou do centrão.”

Mas o que realmente mudou no governo atual ao ponto de Jair Bolsonaro desdizer tudo que já disse do que ele chamava de “velha política” que iria rechaçar no seu governo? Só que desde que assumiu, não tem feito outra coisa a não ser praticar o que ele tanto criticava.

A atitude mais robusta de Bolsonaro nesse sentido foi justamente convidar o senador pelo Piauí Ciro Nogueira, presidente nacional do Progressistas, para assumir a principal pasta do seu governo. E não nos esqueçamos de que o progressista já caiu no presidente só de fascista e afirmando que ele não teria condições de assumir governo. Mas Bolsonaro contemporiza e diz que isso ficou no passado.

Mas o buraco é mais embaixo. Buraco porque o governo Bolsonaro está caindo em um abismo sem fundo. E para evitar, inclusive, um impeachment, pelo que ocorre na CPI da Covid no Senado, onde os podres do seu governo estão vindo à tona recheado de prevaricação e corrupção, o presidente se socorre no centrão, formado por partidos 100% fisiológicos, a exemplo do Progressistas de Nogueira, preocupados apenas em consolidar projetos de poder pessoal e econômico.

Levando o centrão para o seu governo, Bolsonaro pode se livrar de dissabores maiores no Congresso Nacional, tendo em vista que os partidos que compõem esse segmento têm grande poder de decisão nas votações, tanto na Câmara dos Deputados, comandada por um progressista, Artur Lira, como no Senado, sob a presidência de Rodrigo Pacheco, do DEM, também do centrão.

O acordo seria justamente livrar Bolsonaro de um processo de impeachment e garantir que termine seu governo e possa ainda concorrer à reeleição.

É disso que estamos falando, de um povo brasileiro refém da fisiologia do poder e sem poder de se livrar de um gestor que não lhe representa, pelo menos para grande parte da população brasileira. E tendo sobre seu guarda-chuva fisiológicos que só se interessam mesmo em engordar seu patrimônio econômico e fortalecer projetos de poder.

O tempo dirá.

JP

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