No sábado (9), o canal do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no Telegram atingiu 1 milhão de seguidores.
A marca foi impulsionada pela queda do WhatsApp, ocorrida no último dia 4 e que fez o presidente ganhar mais de 20 mil seguidores em um único dia; e pelo empenho do Palácio do Planalto em migrar as redes bolsonaristas para a plataforma.
Com essa marca, Bolsonaro se tornou o líder em inscritos no aplicativo. Segundo dados internos da ferramenta, o presidente possui uma média de oito publicações por dia. Até o fechamento da reportagem, o presidente contava com 1.039.089 inscritos.
O que acontece no grupo de Bolsonaro?
O presidente Jair Bolsonaro tem utilizado a ferramenta para divulgar vídeos e publicações dos atos e projetos do governo federal. Embora seja um canal privado, ele tem sido tratado como “institucional”.
Lá, o presidente compartilha pronunciamentos, fotos e conteúdos que são produzidos e divulgados pelos respectivos órgãos de comunicação de diversos ministérios e entidades da União.
Pelo canal, é possível ver e fazer comentários nas postagens. A cada post dentro do Telegram, os seguidores enviam mensagens de apoio a Bolsonaro e suas políticas. Mas a cada comentário negativo contra o presidente, uma legião de fãs sai em defesa do mandatário.
Em uma das postagens divulgadas na ferramenta sobre o número de empresas abertas no segundo quadrimestre de 2021, uma seguidora elogiou o mandatário. “Parabéns meu presidente! Estamos aqui! Longe do Instagram e do Twitter”, afirmou.
Outra seguidora aproveitou o espaço para criticar a oposição e disse que o “Brasil cresce mesmo com os golpistas boicotando todo o tempo”.
Um apoiador do presidente denominado Adiel, porém, usou as redes para cobrar que o presidente se esforce, “mais do que nunca”, na indicação de André Mendonça para o STF. A sabatina do ex-ministro ainda não foi marcada na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado.
Grupo não tem apenas apoiadores
No canal do presidente, porém, não é todo mundo que apoia o governo. E, quando alguém critica, um debate em torno das opiniões logo começa, inclusive, descambando até para palavras de baixo calão.
Em um vídeo sobre ações desenvolvidas pelo MDR (Ministério do Desenvolvimento Regional), que obteve 1.768 comentários, uma seguidora aproveitou a ferramenta para criticar os seguidores do presidente.
“É muita gente que gosta de ser enganada. Fora Bozo e leva sua turma junto”, declarou a seguidora insatisfeita com o governo. Não houve comentários em resposta a ela.
Em uma resposta a um apoiador do presidente, o internauta chamado Rogério usou uma matéria para retrucar uma informação falsa postada por um apoiador do presidente.
“Renan [Calheiros] avalia propor pena de dois anos de prisão a divulgadores de fake news”, escreveu, ao anexar a reportagem.
O mesmo perfil também retrucou um apoiador e criticou os problemas econômicos vividos pelo governo. “Psiquiatra é para quem puxa saco de político que o faz pagar R$ 120,00 no gás de cozinha e R$ 7,00 na gasolina”, afirmou.
No grupo também há quem apoiava o governo, mas se arrependeu. Uma seguidora chamada Efra demonstrou que havia apoiado Bolsonaro, mas que se decepcionou com a condução da presidência da República.
“Bolsonaro teve méritos em chegar à presidência, feito bem difícil, mas falhou miseravelmente ao tomar decisões erradas em todos os sentidos. Vai perder essa eleição para ele mesmo”, disse.
Canal é plataforma de campanha
Desde o começo do ano, a família Bolsonaro tem investido na plataforma, que permite criar grupos de conversa e uso de mensagens programadas via robôs (bots). O Telegram possui funcionalidades exclusivas, como enquetes, e também é possível impulsionar o compartilhamento de informações.
Sob a coordenação do filho “02” do presidente, o vereador carioca Carlos Bolsonaro (Republicanos), que tem atuado nos bastidores da comunicação do governo federal, o Planalto decidiu antecipar a campanha eleitoral e investir na rede social russa, segundo fontes do próprio governo.
A estratégia de Carlos Bolsonaro seria de tentar retomar o modelo de disparo de conteúdo nas redes sociais, como foi feito nas eleições de 2018. Desta vez, os disparos seriam feitos fora do país, como antecipou o UOL.
De acordo com fontes do governo e fontes ligadas à inteligência, a internacionalização dos disparos seria uma forma de “driblar” a atuação do STF (Supremo Tribunal Federal) e do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), que têm atuado para combater a disseminação de notícias falsas. No caso do Supremo, dois inquéritos de ofício foram abertos para investigar a proliferação de fake news.
O investimento na plataforma russa também tem sido feito por alguns dos principais ministérios, como o da Saúde, para ajudar a aumentar o número de seguidores para as redes do presidente e de aliados bolsonaristas.
Fonte: Uol