O presidente Jair Bolsonaro (PL) fará na tarde desta segunda-feira (18) o que está chamando de “apresentação técnica” sobre o sistema eletrônico eleitoral do país em encontro com embaixadores estrangeiros em Brasília.
O presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Edson Fachin, recusou convite de Bolsonaro. Em ofício enviado ao cerimonial do Planalto, nesta sexta-feira (15), Fachin agradeceu o convite, mas disse que não poderia participar, por conta do seu “dever de imparcialidade”.
A reunião com os representantes estrangeiros, que nem sequer consta na agenda oficial da Presidência, deverá ser mais uma forma de o presidente repetir mentiras, teorias conspiratórias e ameaças sobre o sistema e as urnas eletrônicas.
Bolsonaro nunca apresentou provas ou indícios sobre as urnas, mas repete o discurso golpista como uma forma de esconder os problemas de seu governo, a alta reprovação e as recentes pesquisas que o colocam distante do líder, o ex-presidente Lula (PT).
Por meio de uma profusão de mentiras, Bolsonaro vem fomentando a descrença nas urnas. No entanto, ao invés de ser barrado por aqueles ao seu redor, o mandatário tem contado com o respaldo de militares, membros do alto escalão do governo e seu partido em sua cruzada contra a Justiça Eleitoral.
As Forças Armadas têm repetido o discurso de Bolsonaro. Em ofício recente, solicitaram ao TSE todos os arquivos das eleições de 2014 e 2018, justamente os anos que fazem parte da retórica de fraude do presidente.
No Brasil, nunca houve registro de fraude nas urnas eletrônicas, em uso desde 1996.
A organização da reunião desta segunda-feira é vista como uma resposta de Bolsonaro ao encontro de junho do ministro Edson Fachin, presidente do TSE, com os representantes estrangeiros e mais um capítulo da crise entre o Planalto e o TSE.
Vão participar pelo governo, disse Bolsonaro, os ministros Ciro Nogueira, da Casa Civil, e o da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira. O ex-ministro Braga Netto também foi convidado, segundo ele.
“Será um convite a todos eles. O assunto será um PowerPoint, nada pessoal meu, para nós mostrarmos tudo que aconteceu nas eleições de 2014, 2018, documentado, bem como essas participações dos nossos ministros do TSE, que são do Supremo, sobre o sistema eleitoral”, disse o presidente.
Antes de ser eleito em 2018, Bolsonaro já dizia que só não ganharia se houvesse fraude.
O discurso aparenta assim funcionar como um plano B para o caso de perder o pleito. Também funcionou como uma tentativa de pressionar o Congresso pela aprovação do voto impresso.
No mesmo dia da votação da PEC do voto impresso, em 2021, Bolsonaro foi protagonista de um desfile de veículos militares em frente ao Palácio do Planalto. Entretanto, apesar das seguidas manifestações golpistas do presidente ao longo do ano, o projeto foi derrotada pelo plenário da Câmara dos Deputados.
Foram 229 a favor do texto, 218 contra e uma abstenção. Eram necessários ao menos 308 votos dos 513 deputados —60%— para que a proposta de impressão do voto dado pelo eleitor na urna eletrônica fosse adiante. Ou seja, faltaram 79 votos para que a PEC fosse aprovada. Diante do resultado, ela foi arquivada.
A votação enterrou a proposta que mobilizou a escalada de ataques de Bolsonaro a integrantes do STF (Supremo Tribunal Federal) e do TSE e que agravou uma crise entre os Poderes.
Em 2020, Bolsonaro chegou a prometer mostrar provas “brevemente” de fraude na eleição de 2018 —ele disse que deveria ter sido eleito no primeiro turno, e não no segundo.
“Eu acredito, pelas provas que eu tenho nas minhas mãos, que vou mostrar brevemente, eu fui eleito em primeiro turno”, afirmou Bolsonaro na ocasião. “Nós temos não apenas uma palavra, nós temos comprovado. Nós temos de aprovar no Brasil um sistema seguro de apuração de votos”, disse.
No ano passado, veio a mais forte ameaça golpista ligada ao tema. Em conversa com apoiadores, Bolsonaro disse que “a fraude está no TSE” e ainda atacou o então presidente da corte eleitoral e ministro do STF, Luís Roberto Barroso, a quem chamou de “idiota” e “imbecil”.
“Não tenho medo de eleições, entrego a faixa para quem ganhar, no voto auditável e confiável. Dessa forma [atual], corremos o risco de não termos eleição no ano que vem”, disse.
A fala ocorreu após uma sequência. No dia anterior, também ao falar com apoiadores, o mandatário fez outra ameaça semelhante: “Ou fazemos eleições limpas no Brasil ou não temos eleições”.
Pesquisa Datafolha realizada em março mostrou que 82% dos entrevistados confiam nas urnas, atacadas pelo presidente Bolsonaro.
Fonte: Folha de São Paulo