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Ao completar 171 anos, Teresina vive desafios de se tornar sustentável e inovadora

Teresina sempre conviveu com esse calor, que estimulou até a criação de uma expressão para caracterizar o período do ano em que ele se intensifica: B R O Bró (terminação “bro” dos meses setembro, outubro, novembro e dezembro). E nesses 171 anos, a cidade que se criou nas margens de rios, lagoas e riachos, já sente os efeitos das mudanças climáticas e inicia um trabalho para preservar suas reservas naturais, com respeito ao meio ambiente e foco na sustentabilidade. Trata-se do Viver+Teresina, que tem como proposta para utilizar soluções de engenharia e arquitetura baseadas na natureza de forma inovadora para que a cidade possa conviver melhor com essa quentura que está se intensificando a cada ano por conta das mudanças climáticas.

Lançado em abril deste ano, o Viver+Teresina é um grupo ligado à Secretaria Municipal de Planejamento e Coordenação – Semplan que se baseia em estudos sobre a real e atual situação da capital no contexto da emergência climática para buscar um freio desse processo.

Com base nos estudos realizados pela equipe da Agenda 2030, também ligada à Semplan, constatou-se que Teresina tem apresentado nível de aquecimento superior ao que é sentido no resto do mundo. Isso representa o agravamento de problemas em várias áreas, como saúde, educação e gestão pública.

Causas e efeitos

A localização de Teresina, logo abaixo da linha do Equador, uma posição de extremo do clima quente, favorece esse aquecimento. A temperatura aqui aumenta a uma velocidade duas vezes mais rápida se comparada à média global (de 1,1°C), de acordo com mapas que analisam o aumento de temperatura superficial média no último século (NASA, 2022).

Os efeitos disso já podem ser sentidos pela população. As chuvas estão se tornando tempestades. Sua intensidade tem aumentado, provocando estragos maiores a prédios públicos e privados, causando mais alagamentos e demandando mais do poder público. Também é possível sentir um aumento do período chuvoso com a elevação brusca das temperaturas assim que as chuvas cessam. Se antes os meses de maio, junho e julho eram caracterizados pela brisa e ventos que amenizavam a sensação térmica, hoje tem-se um aumento do período de calor. Ou seja, o B R O Bró está chegando mais cedo.

Estudo publicado pelo Cesu – Centro de Eficiência em Sustentabilidade Urbana da UFPI afirma que “além de aumentar as temperaturas em Teresina, as mudanças climáticas exacerbam fenômenos climáticos extremos. No município isso representa tempestades mais intensas e aumento da duração da estação chuvosa. Segue-se que as frequentes enchentes fluviais, pluviais e repentinas que acontecem em Teresina tendem a se tornar mais frequentes e graves, com impacto na oferta de infraestrutura e serviços, representando perdas econômicas para o município e agravando a exposição ao risco de famílias em situação de vulnerabilidade (CRGP, 2021).”

Ainda de acordo com estudo do Cesu, “quando se trata da crise climática, a situação de Teresina é de risco a extremo risco, de acordo com dados do Índice de Vulnerabilidade do Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF, 2014). Teresina apresenta valores que performam abaixo da média nacional, para as variáveis “vulnerabilidade à mudança climática”4, “exposição”5, “sensibilidade”6 e “capacidade adaptativa”7. Teresina apresenta, portanto, alta vulnerabilidade à mudança climática, extrema exposição, alta sensibilidade e baixo risco com relação à capacidade adaptativa (que apresenta resultados apenas em nível nacional) (CAF, 2014 apud TERESINA, 2018c). É importante reconhecer que a mudança climática impacta nos territórios dentro da cidade de forma diferente, expondo populações vulneráveis a um risco maior de sofrerem com efeitos mais severos. Nesse caso, o índice reflete uma média da realidade local, mas não evidencia os pontos de maior fragilidade.”

De acordo com o Relatório de Vulnerabilidade Climática do Piauí, publicado em 2019, Teresina apresenta riscos decorrentes de secas prolongadas, enchentes, deslizamentos de terra e aumento da temperatura, que afetam a qualidade de vida da população e a economia local. A cidade já sofreu com eventos climáticos extremos, como as enchentes ocorridas em 2019 e 2020, que resultaram em prejuízos para as famílias e para o comércio local.
Em consonância com os ODS, a Prefeitura também tem adotado medidas de adaptação e mitigação às mudanças climáticas, como a elaboração do Plano de Ação Climática e a Análise de Risco Climático, objeto deste produto, visando minimizar os impactos climáticos sobre a cidade e a população. A avaliação de risco climático inclui a avaliação da exposição, das ameaças climáticas e das vulnerabilidades das cidades ao longo do tempo.

O Viver+Teresina, como braço operacional, propõe iniciativas que busquem, por exemplo, a diminuição dos pontos de calor na cidade. Além de novos parques, aumentando a cobertura vegetal, alguns equipamentos públicos deverão ser reformulados, como os mercados públicos. Esses locais concentram grande número de pessoas principalmente aos fins de semana e deverão ter sua estrutura repensada para que sejam pontos em que a temperatura seja mais amena, propício ao caminhar dos frequentadores, e com melhor organização do seu funcionamento. Também estão no escopo dos investimentos, a urbanização de áreas alagáveis degradadas, transformando-as em locais de prática esportiva, cultural e social, com foco na sustentabilidade e recuperação ambiental. Ainda estão no radar, projetos que buscam melhorar a drenagem e acesso ao saneamento, criação de um ecossistema de inovação e fortalecimento social a partir de fomento à economia sustentável.

A equipe é multidisciplinar e busca desenvolver um trabalho transversal com outros órgãos do município, elaborando projetos e ações com foco em inovação e soluções baseadas na natureza. Ela vem passando por qualificações técnicas e se aperfeiçoando constantemente. A preocupação é em desenvolver e aplicar novas soluções baseadas na natureza, com foco em sustentabilidade, utilização de materiais reaproveitados, inovação e uma nova forma de implementação de obras públicas.

Para este ano, estão programados R$ 17 milhões em investimentos. Entre as obras estão: Urbanização Nova Brasília

Já iniciada, a obra que já está sendo licitada é trata da urbanização de uma área próxima à lagoa no bairro Nova Brasília, orçada mais de R$ 2 milhões. Serão implementados equipamentos públicos inovadores para a prática esportiva e socialização. A obra compreende o trecho da rua Anísio Pires com a rua Santa Inês até a rua Radialista Jim Borralho, nas proximidades do terminal de integração da Rui Barbosa e a UBS da Nova Brasília.

O projeto foi discutido e aprovado pela população em encontro ocorrido neste mês de abril. Nele, estão previstas a instalação de mesa de concreto para prática de futmesa, que é uma modalidade que vem sendo difundida em vários bairros da capital; academia de musculação de concreto; mesa de concreto para tênis de mesa, equipamento que já vem sendo experimentado em outras praças com sucesso; quadra poliesportiva coberta com duas arquibancadas; quadra de volei de areia, modalidade bastante apreciada pela população; playground com brinquedos construídos com madeira, além de bancos, iluminação pública, arborização e outras melhorias.

Parque Primeira Infância

Em parceria com a Urban95 e Agenda 2030, o Viver+Teresina está elaborando o projeto de um parque totalmente voltado para a primeira infância que será construído no residencial Parque Brasil, localizado na Grande Santa Maria da Codipi. O parque tem uma proposta inovadora, tanto no uso de materiais não convencionais como no seu objetivo.

As equipes realizaram processos de escuta ativa e elaboraram um diagnóstico da situação de vulnerabilidade dessa comunidade e das condições de vida das crianças de 0 a 6 anos e seus cuidadores. Com base nesse diagnóstico, concluiu-se que há a necessidade de um espaço de convivência, brincadeira e ludicidade para essas crianças. O projeto está sendo pensado para contemplar áreas de brincar, jardins, convivência e experimentação da natureza, além de espaços para que os cuidadores também possam socializar. Estarão contidos nesse projeto diversos tipos de materiais inovadores para que as crianças possam desenvolver a motricidade, os sentidos e a socialização entre elas. Além disso, o espaço será totalmente arborizado, contribuindo para que a comunidade possa ter uma área verde, o que ajuda na queda das temperaturas e sensação térmica.

O projeto está em fase de elaboração e deverá ser licitado no segundo semestre desse ano.

Fossas ecológicas

Esse projeto-piloto contempla a construção de 50 fossas ecológicas no povoado Santa Luz, zona rural leste de Teresina. O projeto, já finalizado, utiliza pneus e resto de entulho para construir os equipamentos e proporcionar que famílias em situação de vulnerabilidade possam ter acesso a saneamento, atendendo a um dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável preconizados pela ONU.

O sistema da fossa ecológica é sustentável porque reutiliza pneus e restos de entulho de construção. A camada de pneus funciona como uma câmara de fermentação do material que vem do vaso do banheiro. Ao redor da camada e pneus, é colocada uma outra de entulho cerâmico que abrigam os microorganismos que decompõem o esgoto. Por cima fica uma camada grossa de brita, seguida por uma de areia e outra de terra. Esse sistema permite a perfeita decomposição de todo o material que vem do vaso do banheiro e finaliza com a evaporação do que sobra, que é água.

Na camada mais superficial, estão plantas de espécies frutíferas com folhas grandes, como bananeiras. É essencial que sejam desse tipo porque elas requerem mais água para se desenvolverem.

Se houver nos dejetos qualquer agente que cause doenças nos dejetos que chegam ao sistema fica retido, já que o sistema é todo fechado por uma parede de cimento. Por isso, os frutos produzidos pelas plantas são comestíveis. Existem estudos comprovando a qualidade dos alimentos produzidos e a inexistência de microorganismos provenientes dos dejetos.
Em cada sistema de fossas são utilizados 28 pneus. Elas medem 1,40m de altura; 1,30m de largura e 5m de comprimento. A construção segue as normas da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas).

Cada família beneficiada será atendida também com treinamento sobre o manejo adequado do sistema, para que ele funcione plenamente.

O projeto piloto contemplará a construção de 50 fossas na comunidade Santa Luz, zona rural leste de Teresina. A equipe de agentes de saúde da região estão fazendo um mapeamento para a definição das famílias que serão beneficiadas. E a equipe social do Viver+Teresina está fazendo o reconhecimento de campo para, em breve, iniciar o processo de escuta ativa junto à comunidade.

 

Jardins de chuva

Quando se pensa em drenagem, a imagem que se cria na mente é de um conjunto de galerias e canais por onde a água da chuva deve se escoada, com alto investimento e obras que demoram para serem finalizadas.

Porém, o Viver+Teresina está elaborando um projeto que objetiva diminuir o impacto das fortes chuvas nos bairros mais atingidos em todas as zonas da cidade. Os jardins de chuva são estruturas com camadas filtrantes no solo e plantas que permitem o escoamento de parte da água das chuvas de forma mais rápida. Por não necessitarem de grande espaço para serem construídas, essas estruturas podem ser espalhadas por toda a cidade.
O projeto está em fase de concepção e elaboração.

Urbanização do São Joaquim

O Viver+Teresina vai iniciar em breve a urbanização de uma área de degradação ambiental no bairro São Joaquim. O projeto foi construído em parceria com a população e contemplará a instalação de equipamentos esportivos, de lazer e socialização para todas as faixas etárias.

Além disso, voltará um olhar especial para a lagoa, degradada por conta do acúmulo de lixo ao longo de muitos anos. Além do lixo que é jogado pela população, a lagoa recebe esgoto, o que compromete sua fauna e flora. O projeto está em fase de finalização e em breve será licitado.

Fonte: Redação Semcom

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