Aliados do presidente Jair Bolsonaro (PL) avaliam que as políticas defendidas pelo ministro Paulo Guedes (Economia) podem retirar votos do candidato à reeleição em 2022 e defendem “esconder” o chefe da equipe econômica durante a campanha.
Além disso, temem declarações polêmicas do ministro, como quando falou recentemente que há mais iPhones no Brasil do que população. Palacianos mais pessimistas dizem acreditar que a inflação, de forma geral, não cederá a ponto de fazer diferença positiva na vida das pessoas.
A discussão é levantada em um momento de incógnitas no entorno do ministro quando o assunto são as eleições. De acordo com os relatos, Bolsonaro e Guedes ainda não conversaram sobre como será a participação do ministro na campanha.
A indefinição tem afastado Guedes de debates públicos ao lado de assessores econômicos de outros pré-candidatos sobre as políticas a serem adotadas pelo país nos próximos quatro anos.
Aliados do ministro ouvidos pela Folha reconhecem as incertezas, mas minimizam a ausência do ministro nos debates dizendo que a plataforma defendida por Guedes já é conhecida. Estão na agenda as reformas, a diminuição do tamanho do Estado, as privatizações e as concessões à iniciativa privada.
Além disso, mencionam que o ministro continua tendo participação ativa no cotidiano do governo e aparecido em eventos ao lado de Bolsonaro em Brasília, como no lançamento do Plano Anual de Fertilizantes, uma agenda do Ministério da Agricultura.
O afastamento de Guedes da campanha do presidente não é unanimidade entre os aliados mais próximos de Bolsonaro.
Há quem compare Guedes com a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) na campanha do petista Luiz Inácio Lula da Silva: quanto mais tentar esconder, mais os adversários vão explorar.
Integrantes da campanha confirmam que os detalhes sobre eventual participação mais direta de Guedes nas propagandas do PL, que começam em junho, ainda não foram discutidos.
Mas os mesmos que defendem que o chefe do Executivo “assuma” o ministro da Economia dizem que mesmo que Guedes não apareça no horário eleitoral ou no material de campanha com tanta frequência quanto em 2018, ele estará presente por sua política econômica.
Recentemente, em meio às discussões sobre aumento no preço dos combustíveis, Bolsonaro criticou a Petrobras, mas voltou a dizer que, para qualquer outra medida para baixar o preço da gasolina, precisaria ouvir primeiro Guedes —a quem se referiu como ministro de sua confiança.
Mesmo com as demonstrações públicas de apoio, nos últimos anos os dois bateram de frente muitas vezes. Bolsonaro defende corporativismos, como de militares, por exemplo, e medidas que desafiam o ajuste fiscal.
O ministro da Economia menciona a aliados que o apoio do presidente à agenda liberal já foi superior a 90% e hoje mal passa de 50%.
Ao longo de todo o mandato, o presidente não participou ativamente da defesa das reformas (como a da Previdência) e ainda adiou o envio de outras (como a administrativa) por medo da reação popular.
Além disso, muitas vezes Guedes acaba defendendo seu posicionamento praticamente sozinho –e acumula desgastes com a própria equipe em meio às discussões. O maior exemplo disso foi a debandada de integrantes do Ministério da Economia no ano passado em meio ao drible no teto de gastos para acomodar o pagamento dos precatórios e um Auxílio Brasil de no mínimo R$ 400 (Guedes era contra inicialmente, mas acabou cedendo).
O ministro da Economia tem resistido às desavenças internas e defendido que abandonar a agenda liberal seria um tiro no pé para Bolsonaro –pois afastaria votos em vez de atrair.
Guedes continua demonstrando admiração por Bolsonaro e diz que sempre estará ao lado “da centro-direita” nos embates com a esquerda. Os problemas acumulados ao longo do mandato, entretanto, fizeram o ministro criar desde o fim do ano passado uma espécie de demanda para avaliar sua eventual continuidade. Dúvidas similares são levantadas inclusive por integrantes da campanha de Bolsonaro.
O ministro tem sinalizado que precisa sentir a existência de apoio à agenda liberal para poder prosseguir ao lado do chefe, colocando em dúvida sua permanência caso sinta que suas propostas serão deixadas de lado.
O sentimento, expresso a aliados há algum tempo, foi externado em entrevista à TV Jovem Pan News no mês passado. Ao ser questionado se estava pronto para mais quatro anos de governo, Guedes respondeu que isso dependia de sentir entusiasmo.
“É o que eu digo do entusiasmo. Se você tem a crença dentro [bate no peito], se ver que essa aliança de conservadores e liberais está seguindo, você está entusiasmado. Agora, se for um governo só conservador e não tiver…”, afirmou, sem completar a frase.
“Eu acredito no presidente Bolsonaro, acho que ele quer o caminho da prosperidade. Agora, há atrativos, há entornos, tem gente que quer desviá-lo, tem gente que acha que as estatais são boas, que Correios, Casa da Moeda, Petrobras têm que ficar com governo mesmo”, disse. “Se trocar dirigismo de esquerda para dirigismo de direita, a gente conhece as experiências históricas e o que vai acontecer”, afirmou.
Fonte: Folha de São Paulo