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Alemanha pede ajuda ao Brasil para doar blindados à Ucrânia

A Alemanha quer a ajuda do Brasil de Jair Bolsonaro, presidente que prestou solidariedade à Rússia de Vladimir Putin uma semana antes da invasão de fevereiro da Ucrânia, para viabilizar a entrega de blindados de defesa antiaérea para Kiev se defender de Moscou.

Mais vistosa vitória política dos Estados Unidos em seu esforço para envolver os membros mais reticentes da Otan na Guerra da Ucrânia, o envio dos Flakpanzer Gepard foi anunciado na terça (26), mas empaca na falta de munição para o modelo dos anos 1970, que Berlim deixou de operar em 2010.

Em 2013, o Exército brasileiro comprou 34 Gepard versão 1A2 da Alemanha, visando a segurança de grandes eventos: a Jornada Mundial da Juventude com o então novo papa Francisco, a Copa das Confederações e a Copa de 2014.

Segundo disseram pessoas com conhecimento do assunto à Folha, o Exército havia procurado a Alemanha para revender os blindados, sem sucesso, e chegou a oferecê-los ao Qatar —que acabou por comprar 15 unidades de Berlim para usar na proteção aos estádios da Copa, em novembro.

Agora, os alemães voltaram a sondar o governo brasileiro, mas não há definição. Oficialmente, a intenção não chegou ao Exército, que opera os blindados.

“O Centro de Comunicação Social do Exército informa que, até o presente momento, o Exército brasileiro não recebeu nenhum pedido para fornecimento de munição do sistema antiaéreo Gepard para a Alemanha, a fim de ser encaminhada à Ucrânia”, disse a Força. Procurado, o Itamaraty não respondeu até aqui acerca do assunto. De todo modo, como disse um diplomata em Brasília, é altamente improvável que o governo Bolsonaro fizesse tal negócio dada sua posição de neutralidade crítica à guerra.

Além da visita do presidente a Putin às vésperas do conflito, que gerou mal-estar com os EUA e internamente, o Brasil condenou tanto a invasão quanto as sanções impostas à Rússia ao votar sobre o tema na ONU. Mais importante, de olho sobretudo na manutenção do fluxo de fertilizantes russos para o país, não aderiu às punições ocidentais, ficando assim fora da lista de países adversários de Moscou.

Além do Brasil, só Jordânia (60 blindados) e Romênia (36), esta um membro da Otan, operam o veículo. O caso havia sido revelado pelos jornais Frankfurter Allgemeine Zeitung e Bild, e a situação parece vexatória para a Alemanha, que vinha resistindo a enviar material mais pesado a Kiev devido à sua decantada dependência de gás e petróleo russos, que apesar das sanções seguem fluindo para o país.

Quando a Rússia anunciou o corte do gás natural para Polônia e Bulgária, nesta semana, a Alemanha apareceu em relatos como um dos países que toparam pagar pelo produto em rublos, numa conta do banco da Gazprom, estatal russa do gás, na Suíça, como exigiu Putin para valorizar sua divisa nacional.

O problema é que a KMW, fabricante do Gepard que tem cerca de 50 guardados em estoque, só tem, segundo os periódicos, 23 mil cartuchos de 35 mm usados pelos canhões do modelo contra alvos aéreos em baixa altitude. Com uma cadência de 1.100 tiros por minuto, isso dá pouco mais de 20 minutos de operação em apenas um blindado.

Para complicar a situação, o governo suíço afirmou que não permitiria a exportação da munição em poder da Alemanha. Os canhões do Gepard são feitos no país alpino pela Oerlikon, e a autorização é estipulada em contrato com os alemães. A Suíça permanece neutra na guerra, apesar de ter adotado sanções econômicas contra Moscou.

Os jornais, assim como a agência americana Bloomberg, citaram apenas conversas com o Brasil e com os países árabes, supondo que a Suíça não protestaria, deixando de forma curiosa a Romênia de lado. As reportagens falam em aquisição de 300 mil cartuchos, o que também obrigaria economia nos tiros.

“Se a Defesa alemão fracassar em adquirir munição nos próximos dias, a Ucrânia provavelmente vai ter de recusar a oferta”, disse o embaixador de Kiev na Alemanha, Andjij Melnik, à N-TV alemã na quarta (27).

Os Gepard são o chassi de um antigo tanque Leopard-1 com uma torre com dois canhões. Ele é usado para defesa de ponto, como no caso dos estádios da Copa, ou para cobrir colunas de blindados em movimento —um provável emprego na Ucrânia, onde aviões de ataque russos Su-25 voam bastante baixo.

A intenção do Brasil de se livrar dos Gepard decorre da obsolescência dos modelos e do fato de que o país não tem uma defesa aérea coesa, algo que está em estudo agora. Hoje, opera mísseis russos portáteis e esses canhões, insuficientes para deter ameaças mais sérias.

Fonte: Folha de São Paulo

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