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Alemanha lembra vítimas LGBTQ do nazismo

Deutsche Welle – O Bundestag, o Parlamento alemão, homenageou nesta sexta-feira (27/01) todas as vítimas de assassinatos cometidos durante o regime nazista. Neste ano, pela primeira vez, houve um foco especial nas pessoas perseguidas por causa de sua orientação sexual.

As vítimas do nazismo são lembradas anualmente na Alemanha. A data marca tanto o Dia em Memória das Vítimas do Nazismo quanto o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto.

Na cerimônia, a presidente do Bundestag, Bärbel Bas, disse que as vítimas que foram perseguidas, ameaçadas, privadas de direitos e assassinadas pelos nazistas nunca devem ser esquecidas.

“A homenagem de hoje  concentra-se num grupo de vítimas que tiveram de lutar por reconhecimento durante muito tempo: pessoas que foram perseguidas pelos nazistas por causa da sua orientação sexual ou identidade de gênero”, afirmou.

Ela destacou que o fim da era nazista não representou o término da perseguição do Estado aos LGBTQ. Mesmo após o fim da era nazista, especialmente homens gays seguiram sendo ameaçados pelo artigo 175 do Código Penal – introduzido na época do Império alemão, em 1871, e reforçado em 1935 sob o regime nazista –, que criminalizava atos sexuais entre homens. O parágrafo só foi abolido na Alemanha reunificada em 1994.

De acordo com a agência federal alemã antidiscriminação, até 50 mil homens gays foram presos sob o parágrafo 175 durante a era nazista, e cerca de 15 mil foram enviados para campos de concentração. Muitos deles morreram em consequência do trabalho forçado e das condições desumanas. Estigmatizados, tinham que usar sobre seus uniformes de prisioneiros um triângulo cor-de-rosa.

Discriminação persiste

A presidente do Parlamento alertou também para a discriminação que as pessoas queer ainda enfrentam nos dias de hoje. “Os crimes hostis aos queer estão aumentando”, disse. “Gays, lésbicas e trans são insultados, assediados e atacados”, completou.

Bas também alertou que, em relação ao Holocausto, é perigoso pensar que os alemães aprenderam a lição. “Devemos continuar a confrontar nosso passado”, disse. “Também me preocupam tentativas de relativizar a singularidade do Holocausto“, destacou a presidente do Bundestag. 

Ela ressaltou que o “antissemitismo, o anticiganismo e o racismo” estão novamente em ascensão. “Em média, cinco crimes antissemitas são registrados na Alemanha todos os dias. Memoriais são profanados. Instituições e sinagogas judaicas são atacadas,  pessoas são hostilizadas, ameaçadas e atacadas porque são judias. É uma vergonha para o nosso país”, lembrou.

Além de judeus e pessoas da comunidade LGBTQ, integrantes das minorias sinti e roma, entre outros grupos, foram perseguidos durante o nazismo.

Klaus Schirdewahn fala ao Parlamento
Klaus Schirdewahn, preso em 1964 devido à sua orientação sexual, falou ao ParlamentoFoto: Bernd von Jutrczenka/dpa/picture alliance

Depoimentos

O ativista queer Klaus Schirdewahn discursou durante a cerimônia no Parlamento. Ele foi preso na Alemanha Ocidental em 1964, sob o parágrafo 175 e, atualmente, trabalha para garantir que essa parte da história não seja esquecida, “especialmente hoje, quando a comunidade queer está novamente sujeita a grandes hostilidades em todo o mundo”, destacou.

Diferentemente de Schirdewahn, muitas das vítimas morreram sem terem recebido indenizações ou reconhecimento do governo alemão. Na cerimônia, eles foram representados pelos atores Jannik Schümann e Maren Kroymann, que leram textos sobre duas vítimas cujas histórias são exemplos da perseguição de minorias sexuais durante a era nazista.

A sobrevivente do Holocausto Rozette Kats, de 80 anos, também falou no Parlamento. Ela nasceu em 1942 e sobreviveu à Shoah com um casal em Amsterdã. Seus pais biológico e seu irmão mais novo foram assassinados no campo de concentração de Auschwitz. No discurso, ela alertou que todas as vítimas dos nazistas deveriam ser igualmente lembradas. “Todo mundo que foi perseguido naquela época merece ser lembrado com respeito”, disse.

Kats destacou semelhanças entre sua história e a de pessoas queer perseguidas, lembrando que todas têm em comum o fato de terem aprendido, quando crianças, a esconder e negar sua identidade.

 Rozette Kats
“Todo mundo que foi perseguido naquela época merece ser lembrado com respeito”, afirmou Rozette Kats, sobrevivente do Holocausto, no BundestagFoto: Bernd von Jutrczenka/dpa/picture alliance

Perseguição

Em 27 de janeiro de 1945, o antigo campo de concentração de Auschwitz foi libertado pelas forças soviéticas – por essa razão, a data foi escolhida como Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto.

Durante o regime nazista, cerca de 6 milhões de judeus foram exterminados. Milhares de gays, lésbicas, bissexuais e transexuais também foram presos e assassinados pelos nazistas.

Na era nazista, mulheres lésbicas foram denunciadas por sua sexualidade “desviante” e entraram no foco da polícia. No geral, no entanto, o destino das detentas lésbicas de campos de concentração ainda é muito menos pesquisado do que o dos homens gays. Parte disso se deve ao fato de que não havia uma categoria separada de prisioneiros para designá-las – elas foram enviados para campos de concentração sob vários pretextos, como pessoas sem-teto, prostitutas ou mulheres que atraíam a atenção através de um “estilo de vida imoral”. 

Durante décadas, grupos de vítimas do nazismo classificados durante o regime como “associais”, como integrantes da minoria sinti e roma e homossexuais, foram excluídos das homenagens às vítimas e da compensação financeira concedida pelo governo alemão.

Somente após a reunificação da Alemanha, no início da década de 1990, uma placa em memória das vítimas de perseguição nazista devido à sexualidade foi instalada no Memorial de Sachenhausen, onde funcionava um campo de concentração.

le/lf (DPA, AFP, DW, ots)/Foto: Michele Tantussi/REUTERS

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