Uma semana depois dos atos criminosos registrados em Brasília, quando apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) invadiram as sedes dos Três Poderes e destruírem o patrimônio público, aliados de presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) analisam como, politicamente, as ações podem influenciar os próximos anos do mandato que mal começou.
O entendimento nos bastidores do Palácio do Planalto é de que as prioridades mudaram.
Se, antes, a ideia era dar uma resposta econômica já nos primeiros 100 dias de governo –em especial na tentativa de cumprir as promessas aos mais pobres de se acabar com a fome e ao mercado financeiro de se criar uma nova âncora fiscal, por exemplo–, agora é como se um novo governo começasse.
A visão de aliados de Lula é de que a maneira como o presidente e seus comandados estão lidando e vão lidar com a crise democrática faz com que uma espécie de nova oportunidade tenha chegado até o PT.
Durante a semana passada houve uma aproximação entre o Executivo e o Judiciário, além do Legislativo que, antes mais resistente, passou a dar ao Executivo federal um respaldo até então inimaginável.
No Congresso Nacional, hoje, até mesmo alguns parlamentares mais bolsonaristas evitam criticar com ênfase as ações de Lula.
No dia em que o decreto de intervenção na segurança pública do governo do Distrito Federal foi votado e aprovado pelos parlamentares, alguns senadores e deputados ainda se posicionaram na tribuna da Câmara e do Senado contra a intervenção do governo Lula.
No entanto, após a Polícia Federal encontrar na casa do ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança Pública do DF Anderson Torres uma minuta de projeto para propor “estado de defesa” visando alterar o resultado das eleições presidenciais, o silêncio da oposição tem chamado a atenção de governistas ouvidos pela CNN.
Prazo curto
Por outro lado, fora dos microfones, parlamentares fazem questão de enfatizar à CNN que a trégua tem período contado, que será curto e vai depender das próximas movimentações do petista.
A ideia do prazo curto também é entendida pelo cientista político Creomar de Souza.
“Me parece que a oportunidade criada pelo consenso existe. A questão é a durabilidade dele. Isso quer dizer: por quanto tempo a vontade de enfrentar um inimigo comum suplanta interesses paroquiais?”, questiona Creomar.
Ainda segundo ele, a capacidade do Executivo de manter o caminho das ações em uma direção que agrade ou, ao menos não desagregue os atores que até aqui estão na mesma página, vai determinar o tempo exato dessa trégua política.
Ou seja, até onde Lula conseguirá combater as tentativas golpistas por parte de uma parcela pequena da população sem irritar, por exemplo, o presidente da Câmara dos Deputados e antigo aliado de Jair Bolsonaro, Arthur Lira (PP-AL)?
Um parlamentar do PT ouvido pela CNN questiona até onde o presidente da República conseguirá punir os responsáveis pelos atos criminosos sem desagradar ainda mais as Forças Armadas.
Dentro do PT, o entendimento é que paralelamente às ações do governo Lula para manter o Estado Democrático de Direito e os Poderes unidos, ações para a população em geral, em especial aos pobres, precisam começar a serem estudadas.
Um dos principais assessores do presidente diz que passado o quebra-quebra do dia 8, em poucos dias, o eleitor já estaria mais preocupado em saber se o governo está trabalhando para melhorar a moradia, garantir comida na mesa, aumentar o salário-mínimo.
Esse interlocutor petista ainda pontuou que a recente fala do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de que nem mesmo o aumento prometido de R$ 18 no salário-mínimo deve ocorrer, dificulta a imagem positiva de Lula entre os seus.
“Na hora do vamos ver, é essa população que segura o PT no poder, que vota e que vai pra rua nos defender”, completa.
Fonte: CNN/Lucas Neves/Enquadrar/Estadão Conteúdo