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Lula assume compromisso com evangélicos

Deutsche Welle – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) divulgou nesta quarta-feira (19/10) uma Carta Compromisso com os Evangélicos, no qual delineia sua posição sobre temas importantes para esse setor do eleitorado, como o papel da família, a interrupção da gravidez e a liberdade de culto.

O objetivo da campanha petista é reduzir resistências ao seu nome nesse estrato da população, no qual a campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL) tem larga vantagem e vem investindo para ampliá-la com retórica moralista.

Pesquisa Datafolha realizada em 17 a 19 de outubro apontou que Bolsonaro tem 66% das intenções de votos entre os evangélicos, contra 28% de Lula. Já entre os católicos, Lula fica à frente com 58%, contra 37% de Bolsonaro.

Enquanto Lula divulgava a sua carta em um evento com representantes de Igrejas que apoiam sua candidatura, em São Paulo, a primeira-dama Michelle Bolsonaro subia ao altar de um templo evangélico, também na capital paulista, e dizia que o PT, chamado por ela de “partido das trevas”, teria como objetivo minar a atuação de Igrejas.

Outros oradores no evento com a primeira-dama afirmaram que Lula defenderia a legalização do aborto e a liberação das drogas. Michelle, que é evangélica, tornou-se figura crucial da campanha de Bolsonaro para dialogar com esse segmento e amenizar a rejeição do presidente entre as mulheres.

Compromissos de Lula

Na carta, o petista afirma que o país passa por um período em que há um “triste escândalo do uso da fé para fins eleitorais”, no qual “mentiras” passaram a ser usadas com o objetivo de provocar medo nas pessoas e “afastá-las do apoio a uma candidatura que justamente mais as defende”.

Lula diz ter “compromisso com a liberdade de culto e de religião” e promete que em seu eventual futuro governo não haverá “interferência política na prática da fé”. Ele afirma ainda que adotará políticas públicas para “fortalecer as famílias para que os nossos jovens sejam mantidos longe das drogas”.

O petista também diz que as escolas devem apoiar os pais na educação dos filhos, “respeitando os valores das famílias, sem a interferência do Estado”. Lula afirma ainda que é “pessoalmente contra o aborto” e que esse não é um tema a ser decidido pelo presidente da República, mas pelo Congresso.

O petista cita ainda que, nos oito anos que governou o país, sancionou uma alteração no Código Civil que permitiu que igrejas tivessem personalidade jurídica e editou o decreto que criou o dia para a Marcha para Jesus e o Dia Nacional dos Evangélicos.

Em diversos pontos do documento, Lula enfatiza aspectos sociais e econômicos para fazer frente à chamada pauta moral. “De nada adianta se dizer defensor da família e ao mesmo tempo destruí-la pela miséria, pelo desemprego, pelo corte das políticas sociais e de moradia popular”, afirma.

Lula já havia realizado um evento para o público evangélico no primeiro turno da campanha, em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Na ocasião, o petista tentou colar em Bolsonaro a imagem de que ele seria contrário aos valores cristãos por, segundo Lula, difundir o ódio e posturas violentas.

Rejeição ao PT

Em análise publicada na DW, o cientista político Victor Araújo, pesquisador da Universidade de Zurique, analisou a trajetória do voto evangélico no PT no primeiro turno de eleições presidenciais.

A legenda conseguiu ampliar sua votação nesse segmento de 2002, quando 24,3% desse segmento declarou voto no PT, para 2006, quando essa taxa chegou a 53%. Na eleição de 2010, houve leve queda, para 44,4%, que se acentuou em 2014, quando foi de 28,5%, e 2018, de apenas 11,2%.

Araújo avalia que dois eventos ajudaram a interromper a aliança eleitoral entre evangélicos e o PT que durou até o pleito de 2010. Primeiro, o projeto da chamada lei anti-homofobia, apresentado pela então deputada federal Iara Bernardi (PT-SP), que tinha como objetivo criminalizar a homofobia no país, mas foi interpretado como uma tentativa de criminalizar a prática pastoral – pastores temeram que pudessem ser presos ao se posicionar contra a homossexualidade nos cultos evangélicos.

O outro foi a lei número 12.285/2013, que dispunha sobre o atendimento obrigatório e integração de vítimas de violência sexual. Várias das lideranças evangélicas entenderam que oferecer a pílula do dia seguinte a vítimas de violência sexual seria uma tentativa disfarçada de legalizar o aborto no Brasil.

Bolsonaro também vem trabalhando há bastante tempo para manter alta a rejeição do PT nesse segmento. Em julho, ele afirmou na Marcha para Jesus em São Paulo, o maior evento evangélico do país: “Nós [cristãos] somos a maioria do país, a maioria do bem. E nessa guerra do bem contra o mal, o bem vencerá mais uma vez”, em referência ao seu adversário.

Bolsonaro foi à sua primeira marcha em 2018, ainda como candidato à Presidência e sem ter convencido os grandes líderes evangélicos do país, que só aderiram à sua campanha mais tarde. Em 2019, ele se tornou o primeiro presidente da República a participar do evento.

Fonte: DW Brasil – bl (ots)

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