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Debate: antibolsonarismo domina no Twitter; ataque a jornalista repercute

Uma análise com base no conteúdo compartilhado no Twitter durante o primeiro debate televisivo entre os candidatos e candidatas à Presidência da República, no domingo (28/8), aponta que a “bolha” antibolsonarista no Twitter movimentou mais tráfego de mensagens que aquela que apoia o presidente Jair Bolsonaro (PL). Em média, a bolha antibolsonarista movimentou 43% das mensagens relacionadas ao debate enquanto o grupo que apoia Bolsonaro movimentou 15%. O restante das interações (42%) aconteceu fora das bolhas vinculadas aos candidatos.

A análise foi feita por Fábio Malini, coordenador do Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura (Labic) da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES).

O estudo monitorou termos, hashtags e usuários que tuitaram durante o debate que reuniu, além de Bolsonaro, os seguintes candidatos: Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Ciro Gomes (PDT), Simone Tebet (MDB), Soraya Thronicke (União Brasil) e Felipe Dávila (Novo).

Esse tipo de análise mostra, principalmente, a intensidade e a amplitude da disseminação de mensagens de conteúdo político dentro e fora de bolhas em redes sociais como o Twitter.

O debate foi promovido por um grupo de veículos integrado pela TV Bandeirantes, UOL, Folha de S. Paulo e TV Cultura.

O monitoramento contabilizou 680 mil tuítes relacionados ao debate ao longo da transmissão. Esses tuítes foram postados por 244.827 usuários.

Na parte superior do gráfico, é possível ver uma mancha integrada pelas cores lilás, azul, vermelho e verde.

Gráfico produzido pelo pesquisador Fábio Malini que mostra o fluxo e a intensidade de interações no Twitter durante o debate entre candidatos e candidatas à Presidência da República

FABIO MALINI – Gráfico mostra o fluxo e a intensidade de interações no Twitter durante o debate

Segundo Malini, essa é a bolha de interações antibolsonarista. Ela é composta por usuários que replicaram mensagens contra Bolsonaro e a favor de candidatos que se opõem a ele como Lula ou Ciro Gomes.

“A conclusão é que as mensagens antibolsonaristas dominaram a conversação durante o debate”, explicou Fábio Malini.

O pesquisador afirma que, nos últimos meses, o debate político no Twitter tem se dado entre três grandes grupos formados por usuários vinculados a Lula, a Bolsonaro e um terceiro grupo composto por usuários ligados à indústria do entretenimento.

“Essa é uma bolha que está fora da política, mas acompanha bastante os eventos relacionados às eleições. No gráfico, ela está em azul e ela se soma ao grupo antibolsonarista, por isso ela fica colada ao chamado ‘lulismo’, que está em lilás”, explicou Malini. Entre os usuários de destaque nessa bolha composta por artistas está o humorista Gregório Duvivier e o ator e apresentador Paulo Vieira.

O estudo não forneceu os dados segregados sobre as interações relacionadas a todos os candidatos.

Segundo o pesquisador, no entanto, as interações relacionadas ao ex-presidente Lula se mantiveram na média do esperado para um evento como um debate.

“Lula cumpriu tabela. Ele foi muito mencionado, mas não teve tanta centralidade no debate dentro do Twitter”, disse o pesquisador.

Na parte verde à esquerda do gráfico estão as interações relacionadas a Ciro Gomes. Ao analisar o teor delas, o pesquisador afirma que o candidato do PDT foi bastante citado, mas suas falas teriam sido mais difundidas fora de sua bolha do que dentro.

“A bolha pró-Ciro alcançou em torno de 2% dessas interações, mas o termo ‘Ciro’ foi mencionado 72.647 vezes. Ou seja, suas falas acabaram sendo mais processadas nas outras bolhas do que na sua própria”, disse o pesquisador.

A candidata Simone Tebet, elogiada por analistas políticos após o debate, não chegou a “criar uma comunidade” de interações no Twitter, segundo Malini.

“Simone Tebet não chega a criar comunidade, mas a fala da senadora acabou se espalhando pelas outras bolhas seja para criticar ou para elogiar”, afirma.

Lula, Bolsonaro e mulheres: termos mais mencionados

O levantamento feito por Malini também mensurou os 15 termos mais mencionados relacionados ao debate. O ranking não se limita a computar apenas os nomes ou apelidos dos candidatos.

Segundo ele, Jair Bolsonaro lidera o ranking com 174.782 menções. Em segundo vem Lula, com 127.820. Logo atrás dele está a candidata Soraya Thronicke, com 112.585. Ciro ficou em quinto lugar com 72.647 menções. Os termos “Simone” e “Tebet” totalizaram, juntos, 101.393 citações.

O ranking de termos mais mencionados aponta ainda para um dos pontos que mais chamaram atenção durante o debate: o ataque feito por Bolsonaro à jornalista Vera Magalhães.

Em uma pergunta a Ciro Gomes sobre a disseminação de desinformação sobre vacinas, Vera citou Bolsonaro como responsável por esse tipo de prática. Ao tomar a palavra, Bolsonaro criticou a jornalista.

“Você não pode tomar partido em um debate como esse, fazer acusações mentirosas a meu respeito. Você é uma vergonha para o jornalismo brasileiro”, disse Bolsonaro.

Ao longo do debate, candidatos como Ciro Gomes, Lula, Soraya Thronicke, Simone Tebet e Lula demonstraram solidariedade em relação à jornalista.

Na avaliação de Malini, esse episódio acabou tendo centralidade nas interações captadas no Twitter.

“A gente vai ver a presença do nome da jornalista Vera Magalhães, ‘mulheres’ e ‘tchutcuhca’, que são palavras que o centro do debate acabou derivando para isso. O debate que repercute nas redes acabou sendo sobre a temática feminina”, disse Malini.

Os termos “Vera” e “Magalhães” totalizaram 110.966 interações. Além disso, o termo “mulheres” teve 35.369 menções. Outro termo relacionado ao episódio foi “tchutchuca”, com 38.453 interações. A palavra foi usada por Soraya Thronicke ao criticar Bolsonaro pelas críticas à jornalista.

“Eu vejo o que aconteceu com a Vera. Eu realmente fico extremamente chateada. Quando homens são ‘tchutchuca’ com outros homens, mas vem pra cima da gente sendo ‘tigrão’. Eu fico extremamente incomodada”, disse.

Malini diz que os dados coletados mostram que apesar de parte significativa das conversações ter se dado fora grupos ligados aos campos bolsonarismo ou antibolsonarismo, o Twitter brasileiro teria se transformado em uma “bolha” em que o tráfego produzido durante eventos como um debate acaba sendo gerado e repercutido por usuários que já têm uma presença intensa na rede e ligada à cena política.

“O cenário do Twitter brasileiro mostra um crescimento do sentimento antibolsonarista, mas as figuras que ganham proeminência fazem parte do chamado mainstream da política tradicional. Acaba que o Twitter se tornou uma grande bolha política”, avaliou o pesquisador.

Fonte: BBC News

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