A taxa de reprovação a Jair Bolsonaro (PL) entre as pessoas que recebem o Auxílio Brasil levou o núcleo da campanha do presidente a estabelecer como prioridade medidas para melhorar a avaliação do mandatário nesse grupo.
A estratégia traçada nas últimas semanas será intensificar a marca do programa em inserções na televisão e em outdoors nas regiões mais críticas.
Aliados de Bolsonaro identificaram que no Nordeste e em Minas Gerais, principalmente, a marca do Bolsa Família ainda é muito forte.
Além disso, integrantes do PL afirmam que pesquisas encomendadas pelo partido também mostram que uma faixa dos que recebem o benefício não atrela o pagamento dos R$ 400 ao governo federal, mas sim a gestões estaduais e municipais.
Envolvidos na campanha bolsonarista dizem ainda haver uma parcela de beneficiários que percebeu redução nos valores pagos pelo governo, que chegaram a R$ 600 na época do auxílio emergencial.
O auxílio emergencial foi criado em março de 2020, durante a pandemia de Covid-19, para atender principalmente trabalhadores informais e beneficiários do Bolsa Família durante a fase de isolamento social.
Depois de mais de um ano e meio em vigor, o programa —que, no pico, atendeu mais de 60 milhões de pessoas— terminou no final de 2021. Ele foi seguido pelo Auxílio Brasil, substituto do Bolsa Família.
Para aliados do presidente, a transição entre os programas não foi bem executada. Apesar de o governo pagar um valor médio mais alto e ter ampliado o número de beneficiários, são observados problemas como o fato de a maior parte do público usar ainda o cartão do Bolsa Família para sacar os recursos.
Somente os novos beneficiários teriam o novo cartão, segundo relatos. Aliados de Bolsonaro culpam a Caixa Econômica Federal pela lentidão em emitir os novos modelos. Procurado, o banco não informou quantos já fizeram a transição.
Na TV, a campanha aposta em destacar o programa em 40 peças nacionais e 40 estaduais —nas quais o presidente também deve aparecer. Elas serão veiculadas em junho.
A primeira inserção ficou pronta na última semana e chegou a ser aprovada pelo núcleo de campanha do presidente. Após o jornal O Globo divulgar antecipadamente o conteúdo do vídeo na última quarta-feira (20), aliados avaliaram que foi perdido o elemento surpresa das inserções e cogitavam uma mudança no material.
A mensagem de exaltar o programa social e focar o Nordeste na peça é clara. Determinado trecho diz: “Quando fizemos o auxílio de, no mínimo, R$ 400, foi pensando na vida”, em referência ao auxílio emergencial.
A aposta é se contrapor à associação do governo Bolsonaro com a morte, por causa da pandemia –cuja gestão foi criticada por diferentes setores da sociedade. Mais de 660 mil pessoas morreram no país devido à Covid-19.
Uma das principais levas de propagandas regionais, voltadas à Bahia, será gravada a partir desta semana.
A Bahia tem o maior número de beneficiários do Auxílio Brasil, mais de 2 milhões, e tem como candidato ao governo o ex-ministro João Roma (Cidadania), cuja pasta foi responsável por criar o novo programa.
O desenho da propaganda prevê dizer logo no início que Roma foi responsável, juntamente com Bolsonaro, por viabilizar o pagamento de R$ 400 a 18 milhões de famílias.
A avaliação na cúpula da campanha de Bolsonaro é que as propagandas na televisão serão determinantes tanto para o presidente quanto para os adversários e que elas terão mais peso do que as redes sociais nesta eleição.
Isso porque a TV aberta atingiria justamente um público de classes mais baixas e é uma plataforma pouco explorada atualmente pelo presidente, que tem forte atuação nas redes.
Além de investir na televisão, o PL já colocou na rua outdoors com a imagem do presidente, dizendo ter sido ele o criador do auxílio de R$ 400.
As peças, que chamam para filiação ao partido na tentativa de fugir do rótulo de propaganda antecipada, foram questionadas no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) pelo PT.
O material foi colocado em Minas Gerais e em estados do Nordeste, onde a campanha identificou que beneficiários ainda não acompanharam a mudança no Bolsa Família.
Quase metade (47%) dos recursos destinados ao Auxílio Brasil vão para o Nordeste. Há também mais de 1,4 milhão de pessoas em Minas Gerais que recebem os recursos do programa.
De acordo com pesquisa Datafolha, Bolsonaro continua em segundo lugar em intenções de voto, atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), cuja gestão criou e implementou o programa social de transferência de renda.
O chefe do Executivo tem 26% das intenções de voto, contra 43% do petista. Integrantes da campanha dizem ter a expectativa de que Bolsonaro inverta de posição até o meio do ano, em especial depois das inserções de TV.
O levantamento também mostrou que, no grupo dos que recebem o benefício de R$ 400, Bolsonaro tem avaliação pior que a do conjunto da população brasileira. Apenas 19% consideram seu governo ótimo ou bom neste segmento, contra 25% do total.
Da mesma forma, 62% dos que contam com essa política social dizem que jamais votariam no atual presidente, sete pontos percentuais acima do patamar geral.
Como justificativa para o mau desempenho, aliados lembram que o programa criado pelo PT ficou em vigor durante 17 anos e tem um recall grande, difícil de ser esquecido diante do Auxílio Brasil.
Segundo dados do Datafolha, Lula tem até 59% de intenções de voto entre quem recebe o auxílio, acima do índice de 43% que tem entre a população no geral.
A rejeição a Lula entre os que recebem o benefício também é menor. Enquanto 37% da população diz que não votaria no petista de jeito nenhum, essa taxa cai a 25% no segmento que recebe o Auxílio Brasil.
Fonte: Folha de São Paulo
Colaborou Fábio Pupo