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Fuga na Ucrânia tem trânsito, filas no mercado e em caixas eletrônicos

Horas após o presidente russo Vladimir Putin autorizar uma invasão na Ucrânia, milhares de moradores começaram a deixar a capital Kiev. Longas filas de carros foram registradas nesta manhã em estradas, supermercados, postos de gasolina e também em caixas eletrônicos.

Durante a manhã, as primeiras sirenes de alerta tocaram por vários minutos nos alto-falantes da capital. Naquela madrugada, por volta das 4h30, explosões rasgaram o céu de Kiev pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial.

Segundo cálculos da União Europeia, mais de um milhão de pessoas podem chegar a essas nações nos próximos dias. Polônia, Romênia e Hungria já anunciaram planos para receber os ucranianos de maneira emergencial.

 

 

“Deve-se notar que atualmente não há restrições à saída de cidadãos ucranianos para o exterior”, afirmou o Serviço de Guarda de Fronteiras em nota, sugerindo que o governo da Ucrânia pode impedir a saída de cidadãos da cidade.

Uma parte da população busca refúgio em estações do metrô. Nesta manhã, também foram registradas longas filas para saque de dinheiro em caixas eletrônicos —o Banco Central da Ucrânia limitou hoje o saque diário em dinheiro a 100 mil hryvnias (cerca de R$ 17,1 mil). O saque em moeda estrangeira está suspenso.

Em entrevista à GloboNews, Oleg Kukhtinov, um morador de Kiev, contou que acordou cedo para ir ao mercado, abastecer o carro e sacar dinheiro. “Por enquanto, vamos ficar aqui. A gente não quer nem comer, só pensa nisso [invasão russa] e em proteger a família, amigos”.

Sobre o clima em Kiev, ele afirmou: “Não posso dizer que as pessoas ficam em total pânico porque já somos acostumados a esse tipo de situação”.

24.fev.22 - Pessoas fazem fila em um caixa eletrônico depois que o presidente russo, Vladimir Putin, autorizou uma operação militar no leste da Ucrânia, em Lviv - PAVLO PALAMARCHUK/REUTERS - PAVLO PALAMARCHUK/REUTERS

Moradores de Kiev acordam com barulho de bombas

Uma hora depois do despertar em pânico, ninguém tinha informações sobre a origem ou os alvos das explosões na capital e em arredores. Sem esperar, os moradores de Kiev iniciaram a fuga.

“Acordei com o barulho das bombas, fiz as malas e saí correndo”, disse Maria Kashkoska, de 29 anos, abaixada em uma estação do metrô, onde encontrou refúgio, à AFP.

Abalada, a empresária afirmou que está “preparada para qualquer eventualidade”.

As avenidas começaram a registrar trânsito intenso ainda de madrugada. Carros com famílias inteiras tentavam deixar a cidade e seguir para a região oeste, ou para áreas rurais, longe da fronteira com a Rússia.

A frente leste é a região com bombardeios mais intensos, mas nenhuma região da Ucrânia parece estar a salvo.

No outro extremo do país, na cidade costeira de Odessa e inclusive em Lviv, a cidade do oeste para onde Estados Unidos e outros países transferiram embaixadas, as sirenes, que anunciam a necessidade procurar abrigo de maneira urgente, também tocaram a cada 15 minutos.

“Mantenham a calma!”, escreveu no Twitter o ministro da Defesa, Oleksiy Reznikov.

“Se possível, fiquem em casa. A situação está sob controle. Sua tranquilidade e sua confiança nas Forças Armadas ucranianas é a melhor ajuda neste momento”, completou em uma mensagem à população.

Do lado de fora da estação de metrô da Praça Maidan, no centro de Kiev, uma mulher tentava silenciar os gritos do próprio gato, que ela acabou colocando em uma mochila.

“Temos que salvar nossas vidas, e esperamos que o metrô seja suficientemente seguro, pois é subterrâneo”, disse Ksenia Mitchenka, antes de entrar correndo no metrô, à AFP.

Muitas famílias chegaram à entrada da estação com malas e sacolas, com os olhos grudados nos telefones celulares. Os agentes abriram as catracas e indicavam o caminho. No final das intermináveis escadas rolantes, vários grupos de pessoas estavam sentados no chão.

“Vamos ficar aqui, é mais seguro”, explicou uma jovem, que não quis revelar o nome e que levava na mala os documentos, carregadores e muito dinheiro. “O essencial”, segundo ela, para fugir em tempos de guerra.

Invasão russa

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, ordenou nesta madrugada um ataque contra a Ucrânia. Explosões foram registradas em diversas cidades fora das áreas separatistas do Donbass.

O momento é o mais grave da intensa crise que atinge as duas nações desde 2014, quando os russos anexaram a Crimeia e o conflito separatista se instaurou em áreas de Donetsk e Lugansk.

Em um pronunciamento televisivo, o mandatário afirmou que estava “protegendo” os separatistas, mas o próprio Exército confirmou que os ataques estavam sendo feitos contra bases e locais administrados por Kiev.

Embaixada brasileira orienta brasileiros a deixarem a Ucrânia

A Embaixada do Brasil na Ucrânia orientou os brasileiros a deixar o país europeu imediatamente após a invasão russa iniciada na madrugada de hoje. A exceção seria para moradores da capital Kiev, que devem procurar um local seguro.

Ao menos 58 pessoas morreram e outras 20 se feriram após o avanço das tropas russas no sudeste e no sul da Ucrânia, segundo a Polícia Nacional e o Serviço de Guarda de Fronteiras. O exército ucraniano informou ter matado cerca de 50 ocupantes russos perto de Shchastia, no leste do país.

A embaixada estima a presença de cerca de 500 brasileiros na Ucrânia entre estudantes, executivos de multinacionais e familiares de ucranianos. Em comunicado, a representação diz que a situação ainda é “relativamente estável” na maior parte do país ao citar os ataques a alvos militares.

Contudo, recomenda a saída imediata para quem não estiver na capital, onde há registros de trânsito caótico e filas para abastecer veículos em postos de combustível ou retirar dinheiro em caixas eletrônicos.

A Embaixada recomenda que brasileiros que possam deslocar-se por meios próprios para outros países ao oeste da Ucrânia que o façam tão logo possível, após informarem-se sobre a situação de segurança local”Trecho do comunicado, enviado em um grupo do Telegram para brasileiros na Ucrânia

“Aos brasileiros em Kiev, a recomendação das autoridades ucranianas, no momento, é não sair, tendo em conta grandes engarrafamentos nas saídas da cidade. Os brasileiros que buscarem deixar a cidade nesse momento devem contar com grandes dificuldades. Solicita-se aguardar novas instruções da embaixada.”

 

 

A orientação para quem não puder deixar o país em segurança é de manter distância de “bases militares, instalações responsáveis pelo fornecimento de energia e internet e áreas responsáveis pela produção de energia elétrica”.

A embaixada também recomenda que brasileiros na margem esquerda do rio Dnipro, no leste do país, sem condições para seguir viagem ao oeste de maneira segura se desloquem para Kiev e estabeleçam contato com o plantão consultar.

Jogadores brasileiros que atuam no Shakhtar Donetsk e no Dínamo de Kiev publicaram um vídeo em suas redes sociais pedindo ajuda ao governo brasileiro para deixarem o país.

 

 

Biden condena ataque; Putin ameaça quem tentar intervir

Em comunicado da Casa Branca enviado à imprensa no início da madrugada de hoje, Joe Biden, presidente dos Estados Unidos, disse que a operação militar russa na Ucrânia foi “um ataque injustificado” e que trará “uma perda catastrófica de vidas e sofrimento humano”.

“A Rússia sozinha é responsável pela morte e destruição que este ataque trará, e os Estados Unidos e seus aliados e parceiros responderão de forma unida e decisiva. O mundo responsabilizará a Rússia”, completou.

Em um pronunciamento transmitido em cadeia nacional ontem à noite, o presidente russo Vladimir Putin disse ter autorizado aquilo que definiu como “operação militar especial” da Rússia no leste da Ucrânia e mandou recado para aqueles que tentarem intervir: “A Rússia responderá imediatamente e você terá consequências que nunca teve antes em sua história”.

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, anunciou hoje em um discurso à nação o rompimento das relações diplomáticas com Moscou. Zelensky também adotou lei marcial em todo o território ucraniano, pedindo para que os cidadãos continuem calmos.

A adoção da lei marcial consiste em uma medida que altera as regras de funcionamento de um país, deixando de lado as leis civis e colocando em vigor leis militares.

Mais cedo, o presidente disse que tentou fazer uma ligação para conversar com Vladimir Putin, mas não teve sucesso.

O secretário-geral da Otan (Organização do Tratado do Atlântico), Jens Stoltenberg, afirmou em entrevista coletiva hoje que o bloco não vai enviar tropas à Ucrânia. O diplomata disse ainda que a Rússia vai pagar um “alto preço político e econômico”.

Com informações de AFP, ANSA e UOL

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