“Democracia imperfeita”, o Brasil viverá um momento de tensão em suas instituições em 2022. O alerta é da Economist Intelligence Unit (EIU) que, nesta quinta-feira, publica seu índice de democracias no mundo e destaca uma erosão global dos regimes democráticos.
Segundo a entidade, o Brasil ocupou em 2021 apenas a 47ª colocação entre as democracias no mundo e é classificado como um sistema “imperfeito”. Na América Latina, o país está na sexta posição.
“Os populistas iliberais da América Latina continuaram a corroer as instituições da democracia em 2021”, aponta. “O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, exigiu a demissão de dois membros da Suprema Corte após uma investigação sobre alegações de que grupos pró-Bolsonaro estavam espalhando “notícias falsas”. Ele também questionou a integridade do sistema de votação eletrônica do Brasil, apesar de não haver evidência de fraude eleitoral”, destaca o informe.
“Bolsonaro chegou ao ponto de dizer que iria ignorar os resultados das eleições presidenciais e legislativas de 2022 – comentários que mais tarde ele retraiu. É provável que Bolsonaro continue a atacar as instituições democráticas e minar a confiança na integridade eleitoral antes das eleições de outubro de 2022, especialmente porque as pesquisas mostram que ele está atualmente atrás de um ex-presidente de esquerda, Luiz Inácio Lula da Silva“, aponta.
No ranking, porém, outros países sofreram uma queda ainda maior, reposicionando o Brasil duas posições acima de 2020. Mas, em termos de pontuação, a qualidade da democracia sofreu em 2021 e continuou a cair. A EIU aponta que o Brasil somou 6,86 pontos, a menor taxa desde 2006 e uma queda em comparação a 2020.
Bolsonaro, de fato, contribuiu para uma queda inédita da América Latina no ranking. A região sofreu um “grande revés” em 2021. “A mudança na pontuação da região em 2021 foi o maior declínio anual experimentado por qualquer região desde o início do Índice de Democracia em 2006”, disse.
“A região também estabeleceu um recorde invejável em 2021 de ter o maior número de países a ter registrado rebaixamentos de dois dígitos, com sete países caindo no ranking entre dez e 20 lugares, e vários outros declinando por oito lugares”, disse.
“A pontuação da região em todas as categorias do índice piorou em 2021, liderada por um forte declínio na pontuação da cultura política. Isto reflete o descontentamento do público com a forma como os governos lidam com a pandemia do coronavírus, o que amplificou uma tendência pré-existente de crescente ceticismo sobre a capacidade dos governos democráticos de abordar os problemas da região e de crescente tolerância à governança autoritária”, alertam.
De acordo com a entidade, o “compromisso cada vez mais fraco da América Latina com uma cultura política democrática deu espaço para o crescimento de populistas iliberais, como Jair Bolsonaro no Brasil, Andrés Manuel López Obrador no México e Nayib Bukele em El Salvador, além de fomentar regimes autoritários na Nicarágua e Venezuela”.
A pontuação média regional da América Latina caiu por um sexto ano consecutivo, de 6,09 em 2020 para 5,83 em 2021. “Esta não foi apenas a queda mais acentuada registrada no índice por qualquer região do mundo em 2021, foi a maior queda registrada por qualquer região desde que lançamos o Índice de Democracia”, revelou.
Menos da metade do mundo vive em democracias
O estudo também revela que os padrões democráticos em todo o mundo caíram em 2021, em meio à pandemia e ao crescente apoio ao autoritarismo. Hoje, apenas uma parcela de 45% da população mundial vive em regimes democráticos. Em 2020, a taxa era de 49%.
O índice anual, que mede o estado da democracia global, registrou sua maior queda desde 2010 e estabeleceu “outro recorde sombrio” para a pior pontuação global desde que o índice foi produzido pela primeira vez em 2006.
Apenas 6,4% da população mundial residem em uma “democracia plena”. Enquanto isso, mais de um terço da população mundial vive sob um regime autoritário, uma grande parte do qual se encontra na China.
“A China não se tornou mais democrática por ter se tornado mais rica. Pelo contrário, ela se tornou menos livre”, disse a EIU.
A liderança global é da Noruega, Nova Zelândia e Finlândia, enquanto os três últimos países são Coreia do Norte, Mianmar e Afeganistão.
Fonte: UOL/Jamil Chade