As mulheres trabalham, em horas, mais que os homens – apontou o estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). São cerca de quase 7,5 horas a mais que o gênero masculino, tendo em vista, o acúmulo de funções vivido pelas mulheres, como emprego e atividades em seu próprio lar.
Culturalmente, dentro dos lares brasileiro, a dupla jornada da mulher é uma realidade. Isso, muitas vezes, acarreta a dupla jornada da mulher dentro e fora de casa. De acordo com a secretária de Políticas Públicas para Mulheres, isso é vivido por conta do machismo estrutural na nossa sociedade. “Por isso, é tão importante que a gente reflita acerca dos papéis de gênero e entenda a necessidade de ações efetivas para diminuir essa desigualdade”, frisa Karla.
Em contrapartida, mesmo qualificadas, as mulheres possuem mais dificuldade de ingressarem no mercado de trabalho. As condições de chefia, por exemplo, não são uma realidade para boa parte das mulheres. Menos da metade das mulheres ocupam cargo de direção ou gerência do mercado de trabalho, aponta o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
A vida doméstica e dedicação aos filhos ainda é um dos fatores que afasta, precocemente, as mulheres do lar. “Muitas mulheres ainda acreditam que lugar de mulher é apenas em casa”, destaca Karla. “E um dos objetivos da Secretaria da Mulher de Teresina é reforçar os pilares de empoderamento e que ela pode estar disponível para qualquer carreira, independentemente do seu gênero”, conclui Karla
Pensando nisso, a SMPM abriu as inscrições para o Serviço Florescer, que atende às mulheres e suas crianças em situação de vulnerabilidade em todas as unidades florescer. Ao todo, são três unidades: Florescer Norte, Florescer Sudeste e Florescer Salobro, na Zona Rural de Teresina.
O serviço acolhe mulheres e crianças de um a dois anos e 11 meses, bem como, disponibiliza um total de 280 vagas para as crianças. Ao todo, são 100 vagas na unidade da zona Sudeste, 100 na zona rural e 80 vagas na zona Norte. As inscrições já iniciaram e seguem até o preenchimento das vagas. Com o enfoque no gênero feminino, o serviço não tem limite de vagas para mulheres e podem ser realizadas durante todo o ano.
A secretária Karla Berger enfatizou que o serviço tem como objetivo no ano 2022 um maior número de atividades integrativas para mulheres. Um dos objetivos do serviço é a inserção no mercado de trabalho, empoderamento e autonomia financeira.
Um ponto de começo e recomeço
O trabalho desenvolvido no Florescer segue pilares de cidadania e dignidade à mulher de Teresina. Visando o empoderamento financeiro são ofertados cursos como manicure e pedicure, balconista de farmácias e atendimento. Todas as capacitações são realizadas em parceria com a Fundação Wall Ferraz, entre outros.
“São oportunidades que essas mulheres nunca tiveram para além do lar. Elas se empoderam, se enxergam como capazes. É o benefício da qualificação: atribuir poder para elas”, conta Maria Lourdes, a Malu, coordenadora do Florescer Sudeste.
Benildes Machado, uma das mulheres atendidas pelo serviço, reforça o que foi dito pela coordenadora. A dona de casa, que não tem emprego fixo e possui um filho atendido pelo Florescer, se formou como manicure profissional e pretende ter um empreendimento para sua liberdade financeira. “Abracei o curso como todas as amigas atendidas. Olha, é empoderador saber que podemos exercer um trabalho feito com as nossas mãos. Dignifica-me”, conta a mulher.
Outro ponto trabalhado dentro do projeto de aperfeiçoamento do Florescer é a introdução do atendimento psicológico nas unidades. Nas três unidades, as coordenadoras relataram que a terapia foi bem aceita entre as mulheres.
“Saúde mental é um tema de urgência. Na zona Rural, ainda há um estigma sobre apoio psicológico, por ser algo cultural e do machismo, claro. A mulher é construída para ser forte, um pilar da família, que não pode demonstrar ‘fraqueza’. Mas elas receberam muito bem, querem participar e estão assíduas nas sessões, o que mostra que o cuidado não é apenas com o corpo, mas com a mente”, contou a coordenadora do Florescer Salobro, Layse Oliveira Leal.
O Florescer é um ponto de começo. Dentro dos programas, as mulheres criam amizades e vínculos com as atendidas e funcionárias. Grupos de danças, como os realizados pelo Florescer Norte, foram iniciativas das próprias mulheres para estarem cada vez mais conectadas.
Fonte: SMPM