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Bolsonaro reafirma desejo de disputar eleições de 2026, apesar da inelegibilidade

Impasse jurídico e disputa por liderança na direita moldam cenário político

Mesmo inelegível até 2031 por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a afirmar, nesta quarta-feira (14), que seguirá com sua pré-candidatura à Presidência da República “até o último segundo”. A declaração foi feita durante entrevista ao portal UOL, onde também sugeriu que governadores aliados questionem publicamente sua inelegibilidade.

“Eu gostaria que os governadores falassem: ‘O Bolsonaro está inelegível por quê?’. Se eu for condenado, acabou. Até pela minha idade, acabou. Espero que não aconteça”, disse o ex-mandatário. Aos 69 anos, Bolsonaro enfrenta não apenas os efeitos das condenações no TSE, mas também uma série de investigações criminais que podem definir de forma definitiva seu futuro político.

Inelegibilidade e condenações

O TSE declarou Bolsonaro inelegível em 2023, em duas ações distintas. A primeira, por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação, após uma reunião com embaixadores em julho de 2022, na qual atacou o sistema eleitoral brasileiro sem apresentar provas. A segunda, por abuso de poder político e econômico nas comemorações do 7 de setembro de 2022, transformadas em palanque eleitoral em plena campanha.

Além dessas condenações, Bolsonaro é investigado no Supremo Tribunal Federal (STF) por suspeita de envolvimento na tentativa de golpe de Estado após a derrota nas eleições de 2022. O avanço dessas investigações pode resultar em consequências ainda mais graves, inclusive penais, o que inviabilizaria qualquer projeto político.

Disputa interna e o futuro da direita

Apesar das barreiras jurídicas, Bolsonaro mantém sua influência sobre uma parte expressiva do eleitorado e da classe política conservadora. Sua fala nesta semana reflete não apenas um ato de resistência pessoal, mas também uma tentativa de manter o controle simbólico sobre a direita brasileira — hoje fragmentada entre figuras como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e o ex-presidente Michel Temer, que busca construir uma alternativa moderada para 2026.

Tarcísio, tido como nome mais viável à sucessão dentro do campo bolsonarista, tem evitado se colocar como presidenciável, reiterando seu projeto de reeleição ao governo de São Paulo. “Tenho uma dívida de gratidão com o Bolsonaro”, costuma dizer o governador. Bolsonaro, por sua vez, elogia o ex-ministro da Infraestrutura, mas destaca que Tarcísio ainda precisa “aprender a engolir sapo”, referindo-se à experiência política.

Michel Temer, embora discretamente, tenta se posicionar como articulador de uma direita mais moderada, sem a presença do ex-presidente ou de seus seguidores mais radicais. Essa movimentação escancara a divisão interna do campo conservador, que, sem um nome unificador e viável juridicamente, pode enfrentar dificuldades em 2026.

O desafio do bolsonarismo sem Bolsonaro

A insistência do ex-presidente em manter-se como referência eleitoral, mesmo diante das decisões judiciais, pressiona seus aliados e embaralha o tabuleiro político da direita. Sem uma definição clara sobre sua elegibilidade até 2026, o bolsonarismo vive um impasse: ou encontra um novo nome que represente seu legado, ou arrisca chegar às urnas sem liderança consolidada.

A movimentação de Bolsonaro, portanto, deve ser lida menos como uma promessa de candidatura e mais como uma estratégia de sobrevivência política. Ao manter viva a ideia de retorno, ele tenta conservar capital eleitoral, evitar o esvaziamento de sua base e influenciar as escolhas da direita em um cenário ainda incerto.

Por Damta Lucas – Imagem: 

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