O ex-ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello já admitiu informalmente ao comandante do Exército, general Paulo Sérgio, que errou ao participar da manifestação política ao lado do presidente Jair Bolsonaro, no Rio de Janeiro, no domingo.
Apesar disso, por conta da tramitação e da legalidade do processo interno, segundo militares ouvidos pela coluna, o general deverá formalizar suas explicações ao comando que, só depois deste procedimento, decidirá o futuro do ex-ministro na Força.
“Só haverá uma decisão depois de ouvir o Pazuello. É o rito das questões disciplinares, não se pune sem oferecer o direito de defesa”, afirmou um general quatro estrelas.
Ontem à noite, em um grupo de mensagens que reúne generais quatro estrelas, muitos atualmente do Alto Comando, a reação era de “forte indignação” pela atitude de Pazuello.
Era praticamente consenso que o Exército tem que adotar uma “punição exemplar”, já que a participação de um general da ativa em ato político pode abrir um precedente muito perigoso, nas palavras dos militares.
De acordo com o artigo 45 do Estatuto Militar, oficiais da ativa não podem participar de atos políticos.
“Imagina se no ano que vem coronéis da ativa resolvem começar a subir em palanques. Isso não pode acontecer”, avalia um militar de alta patente.
A cobrança agora é que para que o comandante “cumpra seu dever” dada a gravidade da situação, que “ultrapassou todos os limites”.
Além da passagem para a reserva, desejo antigo dos militares, há ainda quem defenda que o ex-ministro receba, no mínimo, algum tipo de advertência. A expectativa é que uma decisão final sobre Pazuello seja tomada entre amanhã e quarta-feira.
“Jurisprudência”
Alguns generais lembram que “por muito menos” o atual vice-presidente Hamilton Mourão foi transferido de posto em 2017. Na ocasião, Mourão se manifestou sobre intervenção militar, mas mesmo pressionado o então comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, retirou o posto de Mourão, mas não aplicou outra punição.
Nesta segunda-feira, Mourão afirmou que Pazuello sabe que cometeu um erro e provavelmente será punido.
Ameaça de prisão
Apesar de cautelosos, alguns militares afirmam que Pazuello deveria inclusive ser alertado de que poderia ser preso pelo Exército.
Essa alternativa é vista como última opção caso Pazuello resista a ir para a reserva. Segundo uma fonte do Ministério da Defesa, seria muito ruim para o comandante ter que dar ordem de prisão a um general, mas há pressão para que a possibilidade seja colocada na mesa, se necessário.
Sem suporte na CPI
Diante do clima tenso, com alguns generais “enfurecidos”, a cúpula do Exército diz que não cabe a Força se preocupar com o futuro do general na CPI.
Apesar disso, alguns militares relatam alívio se Pazuello for para a reserva e avisam: ele perderá o suporte do Exército.
Senadores prometem uma nova convocação de Pazuello após a participação de ontem.
Conflito com Planalto
Entre militares da ativa e da reserva que não fazem parte do governo, a avaliação é de que Pazuello, ao reforçar seu apoio ao presidente Jair Bolsonaro, tenta contar com o suporte do governo para livrá-lo de punições.
Para uma fonte do Ministério da Defesa, essa estratégia ajuda apenas Bolsonaro, que tem se esforçado para tentar algum tipo de racha na instituição.
Mesmo com o general infringindo o artigo do Estatuto Militar, como presidente da República, Bolsonaro pode reverter a punição dada pelo Comandante.
Justamente por isso, entre os generais quatro estrelas a ordem é seguir o trâmite legal, estudar bem a estratégia de punição para evitar que o comando acabe ficando desmoralizado.
Generais dizem ainda que o momento é de reforçar que não há “meu Exército”, como gosta de dizer o presidente, e sim uma instituição de Estado.
(Com Uol)