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Crise política e tensão com Irã marcam Israel, que lembra o Dia do Holocausto

Israel lembra, hoje, o Dia do Holocausto em uma semana marcada por uma profunda crise política e uma crescente tensão com o Irã. O governo não admite nem nega oficialmente um envolvimento no ataque de terça-feira (6) contra o navio de carga Saviz, que estava no Mar Vermelho, na costa da Eritreia. O navio, que teria ligações com a Guarda Revolucionária do Irã, foi atingido por minas acopladas a seu casco.

Um porta-voz de Teerã admitiu o ataque, mas afirmou que o cargueiro foi atingido apenas levemente e que não há feridos. Ele também disse que o navio patrulhava a costa para afugentar piratas marítimos, apesar da suspeita de que seu propósito seria, na verdade, espionagem para a Guarda Revolucionária.

Apesar da tradicional estratégia de silêncio de Israel nesses casos, o envolvimento do país tem sido apontado por muitos. Segundo o jornal americano The New York Times, por exemplo, o governo israelense teria notificado os Estados Unidos antes do ataque.

Nos últimos dois dias, autoridades em Israel têm comentado o assunto, mas sem admitir abertamente qualquer envolvimento. Benny Gantz, o atual ministro da Defesa e primeiro-ministro alternativo do país, disse que não discutiria o assunto, mas que “o Estado de Israel continua a se defender”.
Guerra de baixa intensidade

Há alguns anos, Israel e Irã travam uma espécie de “guerra de baixa intensidade” nos mares do Oriente Médio. Mas, recentemente, uma série de incidentes no Mar Vermelho, no Mar Mediterrâneo e no Golfo Pérsico tem aumentado a tensão.

Para alguns, em Israel, o momento do ataque ao cargueiro iraniano não foi acidental. Ele aconteceu no mesmo dia em que os Estados Unidos e o Irã voltaram a negociar um acordo.

As negociações acontecem depois que, em 2018, o ex-presidente americano, Donald Trump, retirou seu país do chamado Plano de Ação Integral Conjunto (JCPOA, na sigla em inglês).O plano é um acordo entre potências mundiais e Irã, assinado em 2015, para evitar que o país desenvolva armas nucleares. Mas, logo após tomar posse em Washington, o novo presidente americano, Joe Biden, retomou os contatos bilaterais com Teerã.

As negociações, no entanto, não agradam em nada o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, a maior voz mundial contra o regime dos aiatolás do Irã. Netanyahu afirmou que, se os Estados Unidos voltarem ao JCPOA, Israel não os apoiará, já que, segundo ele, Teerã apenas engana o mundo com palavras enquanto desenvolve um “plano nuclear que é uma ameaça existencial a Israel e à segurança de todo o mundo”.

Avanço no desenvolvimento de bombas atômicas

Na quarta-feira (07), em discurso no começo do Dia do Holocausto em Israel – que termina na noite de hoje – Netanyahu voltou a dizer o acordo de 2015 “permitiu um avanço no desenvolvimento de um arsenal de bombas atômicas”.

O chamado Yom HaShoá, o Dia do Holocausto local, é sempre lembrado com um minuto de silêncio em homenagem aos seis milhões de judeus mortos durante o regime nazista. Uma sirene soa por todo o país e a grande maioria das pessoas costuma ficar de pé com a cabeça baixa, em respeito. Carros param em ruas e estradas e os passageiros e motoristas costumam sair dos veículos para prestar a homenagem.

Tudo isso acontece enquanto Netanyahu enfrenta uma crise política e, ao mesmo tempo, é julgado nos tribunais por corrupção. O premiê passa por um momento crucial em sua carreira. Há 12 anos consecutivos no poder, ele tenta formar um governo viável após quatro eleições parlamentares em apenas dois anos com resultados incertos e sem nenhum grande vencedor.

Seu partido, o conservador Likud, foi o mais votado no mais recente pleito, em 23 de março, recebendo 30 das 120 cadeiras no Knesset, o Parlamento em Jerusalém. Mas esse número está longe das 61 cadeiras que ele precisa para formar uma coalizão.

Por ter recebido mais votos do que outros líderes de partidos, Netanyahu recebeu primeiro a incumbência de tentar formar um governo. Ele tem quatro semanas para isso, mas todos os analistas políticos acham que será muito difícil. Pode ser que Israel tenha que voltar às urnas em alguns meses, caso nem o primeiro-ministro nem seus rivais políticos consigam, posteriormente, costurar uma coalizão.

Réu em processo por corrupção e herói da vacinação

Ao mesmo tempo, Netanyahu também é réu em um processo por corrupção cujo julgamento foi retomado esta semana. Neste estágio do julgamento, a acusação apresenta testemunhas de que ele teria negociado favores políticos e econômicos com o dono de um grande site de notícias em troca de cobertura jornalística favorável. Mas o julgamento pode durar anos.

Enquanto isso, Netanyahu tenta se manter no poder. Um dos seus trunfos é o avançado do programa de vacinação em Israel. O primeiro-ministro tem sido visto como o arquiteto da história de sucesso de Israel no combate ao coronavírus. Com mais de 65% dos moradores do país já vacinados, os números só caem. A vida está praticamente de volta ao normal e a economia começa a se reaquecer.

Se, em janeiro, eram registrados mais de 10 mil casos e cerca de 50 mortes por dia, agora o número de infectados diário despencou para cerca de 300, com poucas ou até nenhuma morte. Muitos hospitais já fecharam seus departamentos de Covid-19. O comitê nacional que trata do assunto está pensando em suspender, inclusive, a obrigatoriedade do uso de máscaras em locais abertos, nos próximos dias.

Ninguém duvida que o envolvimento direto do primeiro-ministro na compra rápida de vacinas foi a chave para isso. Mas, apesar disso, Netanyahu ainda é muito criticado em outros aspectos, tanto que, recentemente, perdeu o apoio até mesmo de políticos de direita, o que dificulta a formação de um governo, agora. (Com Uol)

Redação Jogo do Poder

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