A alta recente do dólar e as incertezas em torno da inflação e da economia global fizeram o Banco Central (BC) aumentar o ritmo de alta dos juros. Por unanimidade, o Comitê de Política Monetária (Copom) aumentou a taxa Selic, juros básicos da economia, em 1 ponto percentual, para 12,25% ao ano. A decisão surpreendeu o mercado financeiro, que esperava uma elevação de 0,75 ponto.
Em comunicado, o Copom atribuiu a elevação acima do previsto às incertezas externas e aos ruídos provocados pelo pacote fiscal do governo. O órgão informou que elevará a taxa Selic em 1 ponto percentual nas próximas duas reuniões, em janeiro e março, caso os cenários se confirmem. Os próximos encontros serão comandados pelo futuro presidente do BC, Gabriel Galípolo.
“O comitê tem acompanhado com atenção como os desenvolvimentos recentes da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros. A percepção dos agentes econômicos sobre o recente anúncio fiscal afetou, de forma relevante, os preços de ativos e as expectativas dos agentes, especialmente o prêmio de risco, as expectativas de inflação e a taxa de câmbio. Avaliou-se que tais impactos contribuem para uma dinâmica inflacionária mais adversa”, destacou o comunicado.
Essa foi a terceira alta seguida da Selic. A taxa retornou ao nível de dezembro do ano passado, quando estava em 12,25% ao ano. A alta consolida um ciclo de contração na política monetária.
A alta consolida um ciclo de contração na política monetária. Após passar um ano em 13,75% ao ano, entre agosto de 2022 e agosto de 2023, a taxa teve seis cortes de 0,5 ponto e um corte de 0,25 ponto, entre agosto do ano passado e maio deste ano. Nas reuniões, de junho e julho, o Copom decidiu manter a taxa em 10,5% ao ano, começando a aumentar a Selic na reunião de setembro, quando a taxa subiu 0,25 ponto, e novembro, quando subiu 0,5 ponto.
Inflação
A Selic é o principal instrumento do Banco Central para manter sob controle a inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Em novembro, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado a inflação oficial, caiu para 0,39%. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a desaceleração foi puxada pela bandeira verde nas contas de luz e pela queda nos combustíveis, mas o preço dos alimentos, principalmente da carne, e das passagens aéreas continuou a subir.
Com o resultado, o indicador acumula alta de 4,87% em 12 meses, acima do teto da meta deste ano. Para 2024, o Conselho Monetário Nacional (CMN) fixou meta de inflação de 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual. O IPCA, portanto, não podia superar 4,5% nem ficar abaixo de 1,5% neste ano.
No último Relatório de Inflação, divulgado no fim de setembro pelo Banco Central, a autoridade monetária elevou para 4,31% a previsão para o IPCA em 2024, mas a estimativa pode subir ainda mais mudar por causa da alta do dólar e do impacto da seca prolongada sobre os preços. O próximo relatório será divulgado no fim de dezembro.
As previsões do mercado estão mais pessimistas. De acordo com o boletim Focus, pesquisa semanal com instituições financeiras divulgada pelo BC, a inflação oficial deverá fechar o ano em 4,84%, acima do teto da meta. Há um mês, as estimativas do mercado estavam em 4,71%.
O comunicado do Copom trouxe as expectativas atualizadas do Banco Central sobre a inflação. A autoridade monetária prevê que o IPCA chegará a 4,9% em 2024 (acima do teto da meta), 4,5% em 2025 e 4% no acumulado em 12 meses no fim do segundo trimestre em 2026. Isso porque o Banco Central trabalha com o que chama de “horizonte ampliado”, considerando o cenário para a inflação em até 18 meses.
O Banco Central aumentou as estimativas de inflação. Na reunião anterior, de novembro, o Copom previa IPCA de 4,6% em 2024, de 3,9% em 2025 e de 3,6% no acumulado em 12 meses no fim do primeiro trimestre em 2026
Crédito mais caro
O mercado projeta crescimento maior. Segundo a última edição do boletim Focus, os analistas econômicos preveem expansão de 3,39% do PIB em 2024.
O número foi revisado após o crescimento de 0,9% no Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre.
A taxa básica de juros é usada nas negociações de títulos públicos no Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic) e serve de referência para as demais taxas de juros da economia. Ao reajustá-la para cima, o Banco Central segura o excesso de demanda que pressiona os preços, porque juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança.
Ao reduzir os juros básicos, o Copom barateia o crédito e incentiva a produção e o consumo, mas enfraquece o controle da inflação. Para cortar a Selic, a autoridade monetária precisa estar segura de que os preços estão sob controle e não correm risco de subir.
Reação do CNDI
Em reunião realizada ainda na noite desta quarta-feira (11), o Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI), presidido pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, aprovou uma “moção crítica” contra a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central de aumentar a taxa básica de juros (Selic) em 1 ponto percentual. Com o reajuste, a Selic atinge o patamar de 12,25% ao ano, o que gerou preocupação entre membros do conselho, formado por representantes de 20 ministérios, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e de 21 entidades da sociedade civil.
Impactos na economia nacional
De acordo com o CNDI, a elevação da Selic representa um entrave ao crescimento econômico, à geração de empregos e ao estímulo ao investimento produtivo. Em um cenário ainda marcado pelos desafios pós-pandemia e pela desaceleração global, o aumento dos juros agrava as dificuldades enfrentadas por empresas e trabalhadores no país.
O vice-presidente Geraldo Alckmin utilizou suas redes sociais para reforçar a crítica à medida adotada pelo Banco Central. “O Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI) acaba de publicar moção crítica à elevação de um ponto percentual da taxa Selic pelo Banco Central, que prejudica o crescimento, o investimento produtivo e a geração de emprego e renda no Brasil”, afirmou.
Decisão do Copom e justificativas
O Copom justificou a decisão destacando o cenário desafiador no âmbito internacional, especialmente devido à conjuntura econômica nos Estados Unidos, que gera incertezas quanto à desaceleração e à desinflação global. No âmbito doméstico, o Banco Central citou o dinamismo dos indicadores de atividade econômica e mercado de trabalho, bem como a inflação acima da meta.
O comunicado do Comitê também sinalizou a possibilidade de novos aumentos na Selic em futuras reuniões, caso o cenário inflacionário permaneça adverso.
Juros reais no Brasil
Com a nova Selic, o Brasil passou a ocupar o segundo lugar no ranking global de juros reais, com uma taxa de 9,48%, atrás apenas da Turquia, que lidera com 13,33%. O índice é calculado pela diferença entre a taxa nominal de juros e a inflação projetada para os próximos 12 meses.
Reações à elevação da Selic
A decisão do Copom gerou imediata repercussão nas redes sociais. O deputado federal Rogério Correia (PT-MG) criticou a medida, chamando-a de “sabotagem”. “Aumento de 1 p.p. na taxa básica de juros é esculacho. Não tem outro nome: isso é SABOTAGEM. Bons indicativos em diversas áreas e uma Selic que já está alta o suficiente. Vender dólar para regular o câmbio que é bom, nada. SABOTAGEM! Só puxam o Brasil pra trás”, declarou o parlamentar.
Contexto e desafios futuros
A elevação da Selic ocorre em um momento de intensos debates sobre o papel da política monetária no desenvolvimento econômico do país. Com a inflação ainda acima da meta e os desafios impostos pela conjuntura internacional, o Banco Central sinaliza a continuidade de uma postura conservadora, enquanto setores do governo e da sociedade civil pressionam por medidas que impulsionem o crescimento e o emprego. O desfecho dessas disputas será determinante para os rumos da economia brasileira nos próximos meses.