Crescem temores de que o Líbano se torne uma nova Gaza
Com mais de 1 milhão de pessoas sujeitas a evacuações forçadas, crescem as necessidades humanitárias
Nesta terça-feira, agentes humanitários da ONU no Líbano descreveram o enorme desafio de tentar alcançar cerca de 1,2 milhão de pessoas que fugiram dos pesados bombardeios israelenses e das ordens de evacuação. Muitas delas temem que o que ocorreu em Gaza também possa acontecer com elas.
Em Beirute, o diretor do Programa Mundial de Alimentos, PMA, no Líbano disse que “é impossível atender às necessidades de mais de um milhão de pessoas que foram repentinamente desenraizadas, deslocadas e desapropriadas sem a entrada de recursos adicionais”.
Evacuação forçada
Matthew Hollingworth relatou “casos horríveis de avisos de evacuação forçada sendo emitidos com poucas horas para as pessoas se prepararem e partirem”. Segundo ele, o país não estava preparado para uma situação como essa, por causa de todos os desafios que enfrentou nos últimos anos.
Uma semana após a ONU lançar um apelo de US$ 426 milhões para ajudar os afetados pela crise no Líbano, as contribuições atingiram pouco mais de 12%, ou US$ 51,4 milhões.
Após a pandemia de Covid-19 e a explosão no porto de Beirute em 2020, os níveis de pobreza aumentaram no país, que tem lutado para acolher mais de um milhão de refugiados sírios, em meio a uma longa crise política.
Com o intenso bombardeio israelense em Beirute e no sul do Líbano, os sete distritos nas áreas que fazem fronteira com Israel e os subúrbios ao sul da capital libanesa foram esvaziados de “centenas de milhares de pessoas”.
De acordo com Hollingworth “muitas dessas cidades, vilas e subúrbios agora não são nada mais do que escombros”.
Sofrimento para civis de ambos os lados
Nesta terça-feira, foram relatados também novos disparos de foguetes na cidade de Haifa, no norte de Israel, pelo Hezbollah. O grupo armado vem disparando foguetes no norte de Israel desde o início da guerra em Gaza, deslocando dezenas de milhares de israelenses.
Em declaração conjunta a coordenadora especial da ONU para o Líbano, Jeanine Hennis, e o comandante da Força da Unifil, tenente-general Aroldo Lázaro, disseram que “civis de ambos os lados da Linha Azul carecem de segurança e estabilidade”.
Eles afirmaram que as trocas de tiros quase diárias transformaram-se numa “campanha militar implacável cujo impacto humanitário é nada menos que catastrófico”.
Com os constantes bombardeios israelenses se tornando rotina no Líbano, e o Hezbollah a lançando foguetes e mísseis contra Israel, muitas pessoas estão pagando um “preço inimaginável”, adionou a declaração conjunta.
Abrigos lotados
Tendo em vista a violência em Gaza, Líbano e na região, o porta-voz do Escritório de Direitos Humanos da ONU, Jeremy Laurence, disse que os civis continuam a pagar “o preço final, seja com hospitais sendo fechados, um milhão de pessoas deslocadas, civis mortos, escolas impactadas”.
De acordo com ele, a devastação é “inacreditável para todas as pessoas no Líbano, assim como em Gaza”.
Mais de 200 mil pessoas agora vivem em 973 abrigos formais localizados dentro de Beirute e no norte do país, de acordo com o PMA.
Cerca de 773 deles “estão absolutamente lotados”, explicou Hollingworth, acrescentando que as pessoas no sul decidiram se mudar não apenas porque suas terras e casas foram destruídas, mas porque perderam “família, amigos e comunidades e estão com um medo extremo do que vem a seguir”.