Êxodo em Gaza chega a 810 mil pessoas
A Agência da ONU de Assistência aos Refugiados Palestinos, Unrwa, afirmou nesta segunda-feira que o êxodo continua em Gaza com mais de 810 mil pessoas fugindo de Rafah nas últimas duas semanas.
De acordo com a agência, a cada vez que famílias são deslocadas, as suas vidas correm “sério risco” e elas são obrigadas a deixar tudo para trás em busca de segurança.
Progresso ameaçado
A Unrwa ressalta que não há nenhuma zona segura em Gaza e as pessoas estão se abrigando em qualquer lugar que podem, incluindo nas instalações danificadas da agência no norte do enclave. No entanto, a região enfrenta mais uma ordem de evacuação, que está forçando novos deslocamentos.
O subsecretário-geral da ONU para os Assuntos Humanitários, Martin Griffiths, lembrou que “mais de 35 mil palestinos foram mortos nestes sete meses, e muitos mais ficaram feridos”.
Ele ressaltou que centenas de milhares de pessoas foram deslocadas, muitas delas em série, “à procura de segurança onde existe pouca segurança e onde a fome e a ameaça de doenças continuam aumentando”. Griffiths destacou a preocupação com “o rumo que a operação Rafah irá tomar”.
O Programa Mundial de Alimentos, PMA, declarou estar preocupado com o fato das recentes ordens de evacuação, e a esperada escalada dos combates, colocarem em risco o acesso à passagem de Erez Ocidental, ameaçando o progresso alcançado para levar mais ajuda ao norte de Gaza.
Sem passagem segura
O Conselho de Segurança realiza nesta segunda-feira uma sessão informativa que se concentrará na situação em Rafah. A reunião foi solicitada por Argélia e a Eslovênia. Representantes do Departamento de Assuntos Políticos e de Construção da Paz, Dppa, e do Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários, Ocha, devem participar do debate.
No final de semana, o comissário-geral da Unrwa, Philippe Lazzarini, disse em suas redes sociais que “mais uma vez, quase metade da população de Rafah está na estrada”.
Ele disse que, após ordens de evacuação exigindo que as pessoas fugissem para as chamadas zonas seguras, a população se dirigiu principalmente para as áreas intermediárias de Gaza e Khan Younis, inclusive para edifícios destruídos.
Áreas sem condições de abrigar deslocados
O chefe da Unrwa afirmou que “quando as pessoas se deslocam, ficam expostas, sem passagem segura ou proteção” e a cada deslocamento “têm que começar do zero, tudo de novo.”
Lazzarini disse que as áreas para onde as pessoas fugiram não têm abastecimento de água potável ou instalações sanitárias. Ele citou o exemplo de Al-Mawassi, descrevendo o local como “uma terra agrícola arenosa de 14 quilômetros quadrados, onde as pessoas são deixadas ao ar livre, com poucos ou nenhum edifício ou estrada”.
A cidade, localizada na costa sul de Gaza, “não tem as condições mínimas para prestar assistência humanitária de emergência de forma segura e digna”, disse ele.
O comissário-geral ressaltou que mais de 400 mil pessoas viviam em Al-Mawassi antes da recente escalada, mas agora a região está “lotada e não pode absorver mais pessoas”, o que também acontece em Deir al Balah.
Passagens fechadas
Lazzarini declarou que “a alegação de que as pessoas em Gaza podem deslocar-se para zonas ‘seguras’ ou ‘humanitárias’ é falsa e que cada vez que isso acontece, a vida de civis é colocada “em sério risco”. Segundo ele, em Gaza “nenhum lugar é seguro e ninguém está seguro”.
A situação está novamente se agravando pela falta de ajuda e de insumos humanitários básicos. Entretanto, as principais passagens para Gaza permanecem fechadas ou não são seguras, pois estão localizadas perto ou em zonas de combate.
Lazzarini também destacou a necessidade crítica de combustível, que é essencial para a distribuição da ajuda. Ele disse que apenas 33 caminhões de ajuda chegaram ao sul de Gaza desde 6 de maio, o que representa “uma gota no meio das crescentes necessidades humanitárias e do deslocamento em massa”.
Para o líder da Unrwa, embora os relatos sobre os primeiros carregamentos que chegaram pela nova doca flutuante sejam satisfatórios, “as rotas terrestres continuam sendo o método de entrega de ajuda mais viável, eficaz, eficiente e seguro”.
Fonte: ONU News – Imagem: Unicef/Eyad El Baba