Com 13 candidatos, eleições na Venezuela prometem ser as mais disputadas dos últimos tempos
A disputa pela presidência da Venezuela neste ano terá 13 candidatos. Se em número de concorrentes essa é uma das edições mais povoadas dos últimos anos, em termos de disputa eleitoral a corrida marcada para 28 de julho pode ser a mais difícil para Nicolás Maduro desde a primeira que ele participou, em 2013.
Isso porque, ao contrário do pleito mais recente, de 2018, os adversários de Maduro não devem boicotar a votação.
“A oposição média parece que não está de acordo com a abstenção porque lembra do que aconteceu em 2018. O chamado de abstenção pode não ter o mesmo efeito. Teria influência, mas não vai arrastar o mesmo número de pessoas. Nenhum candidato bateu na mesa pela abstenção. Isso dá legitimidade”, disse o sociólogo venezuelano Ociel López ao Brasil de Fato.
Para suceder Chávez há 11 anos, Maduro venceu a eleição com Henrique Capriles por apenas 1,39 pontos percentuais. Desta vez, a briga pelos votos já começou e os candidatos começaram a disputar a escolha dos eleitores, tanto na direita, quanto na esquerda.
“As [eleições] de 2013 foram disputadas de maneira surpreendente, mas essas vão ser mais disputadas, sem dúvida, pelo jogo eleitoral que está dado. De 21 milhões de eleitores, vão votar 13 ou 14 milhões pelas questões de migração e abstenção. Maduro conta com o voto da sua base, que diminuiu.”
“Então a disputa hoje não é só entre esquerda e direita. Maduro também vai ter que buscar votos”, afirmou.
Para Maduro, o cálculo é mais simples: ele tem uma certa margem de votos garantida e precisa reconquistar os chavistas que deixaram de o apoiar nos últimos tempos.
Segundo Ociel López, cerca de 13 milhões de votos estarão em disputa esse ano. Desses, Maduro tem uma margem de 5 a 6 milhões consolidados e precisará buscar mais 2 milhões para sacramentar a vitória sem depender de combinações.
A questão Corina
Já na direita, o xadrez eleitoral está em movimento. Desde a inabilitação no meio do ano passado de María Corina Machado, o principal nome da oposição, os partidos políticos deste campo passaram a buscar em marcha lenta um novo candidato. Ela está impedida de ocupar cargos públicos por 15 anos por irregularidades na declaração de bens enquanto era deputada, mas insistiu na sua candidatura até a abertura das inscrições. Quando começou o registro eleitoral, a busca da direita acelerou.
::O que está acontecendo na Venezuela?::
María Corina confirmou que passaria a bola para a professora Corina Yoris, uma até então desconhecida na política venezuelana. Mas ela não pôde se registrar, por dois motivos:
Primeiro porque apenas representantes dos partidos políticos podem inscrever candidaturas, segundo a lei eleitoral. Portanto, a própria candidata não poderia fazer o registro, como tentou.
Segundo porque seu partido, Vente Venezuela, está em situação irregular. A organização não fez o recadastramento eleitoral no prazo correto e por isso não pode inscrever candidaturas.
Restou a opção de fazer alianças para tentar buscar o registro. María Corina recorreu à coalizão da qual o seu partido faz parte, a Plataforma Unitária que, no entanto, escolheu outro candidato, o ex-embaixador Edmundo González Urrutia. Ela tentou ainda o apoio do governador de Zulia e histórico opositor do chavismo, Manuel Rosales, para tentar fechar acordo. Sem sucesso.
Com o fechamento do prazo para inscrição, Rosales entrou oficialmente na disputa, se registrou e iniciou uma queda de braço com María Corina. Ela descartou apoiar o governador de Zulia e disse que “o regime escolheu seu candidato”. Afirmou também que “traições e decepções se tornam lições” sem explicar a quem fazia referência.
Rosales respondeu afirmando que abriria mão de sua candidatura se a oposição encontrasse algum outro candidato que estivesse habilitado.
Disputa de votos na oposição
A briga interna colocou aos eleitores de oposição uma divisão que será difícil de ser resolvida. Sem unidade, Rosales e outros 11 candidatos brigam pela preferência do eleitor venezuelano de direita.
Para Ociel López, a popularidade de María Corina na disputa pela candidatura vai prejudicar a direita. “Maria Corina tem uma quantidade tremenda de votos, ela seria um risco para o chavismo em uma eleição nacional. Se mantiver essa disputa, ela pode prejudicar Rosales porque pode tirar votos do governador de Zulia e colocar sério risco a campanha dele”, disse.
Segundo o sociólogo, a posição que Maria Corina vai adotar a partir de agora pode balizar os rumos da eleição. Se decidir apoiar Rosales, ele se coloca como a principal força da oposição. Se apoiar outro candidato, a direita ficará dividida e Maduro pode vencer o pleito com os votos que já tem garantido de sua base de apoio.
“O apoio de Maria Corina vai depender muito do que quer a embaixada dos EUA, a Casa Branca. Vai esfriar agora, mas depois, com a poeira baixa, ela vai tomar uma decisão. Além de Rosales, ela pode apoiar o candidato da Plataforma Unitária, Edmundo González Urrutia, e fazer com que Rosales perca”, disse.
Se em 2018 a direita não quis participar do pleito, a abstenção não é uma aposta dessa vez. Nem mesmo a própria Maria Corina pediu que seus eleitores deixem de votar. Para López, a participação expressiva deste setor indica que a população quer uma disputa eleitoral e não uma turbulência social.
Os candidatos
Além de Maduro e Rosales, serão outros 11 candidatos disputando as eleições. O último a se inscrever foi Edmundo González Urrutia, ex-embaixador da Venezuela na Argentina e na Argélia. É desconhecido de grande parte dos eleitores e foi inscrito pela Plataforma Unitária.
Luis Eduardo Martínez, da Ação Democrática, é outro candidato que disputará o pleito. Ele é deputado e reitor da Universidade Tecnológica do Centro. Disse que vai “transformar a Venezuela” e prometeu acabar com a reeleição indefinida.
Enrique Márquez será o candidato do Centrados. Ele foi deputado e vice-presidente do CNE. Disse que buscará o voto de “cada venezuelano sem se considerar dono da verdade” e que o país não precisa mais de “dirigentes políticos que perderam a sensibilidade”.
Benjamín Rausseo representará a Confederação Nacional Democrática (Conde). Ele é empresário e humorista e chegou a se inscrever para as eleições de 2006, mas não participou. Apesar da pouca experiência política, disse conhecer o país e afirmou que colocará os educadores no centro do debate venezuelano.
Para Ociel López, Rausseo pode pintar como um candidato antipolítica e estimular o voto dos eleitores que estão descrentes com a política partidária.
O candidato Antonio Ecarri será o representante da Alianza Lápiz. Além de presidente do partido, ele já foi vereador de Chacao e disputou as eleições para a prefeitura de Caracas em 2021. Durante a pré-campanha, disse que seu objetivo será trazer de volta os filhos e netos de venezuelanos que saíram do país, para que a Venezuela volte a “ser um lugar para todos”.
O ex-prefeito de San Cristóbal Daniel Ceballos será o candidato da Aliança Política Renovação e Esperança (Arepa). Ele também foi deputado no Estado de Táchira. Ele disse que será uma “alternativa” para reconstruir o país.
Claudio Fermín foi inscrito pelo partido Soluções pela Venezuela. Ele já foi prefeito de Libertador, deputado federal e disputou as eleições presidenciais de 1993, perdendo para Rafael Caldera com 23% dos votos. Segundo ele, a Venezuela está imersa no conflito e na hostilidade e disse que vai buscar “entendimentos entre os diferentes lados”.
Javier Bertucci será o candidato do El Cambio. Ele é deputado, pastor da Igreja Maranatha Venezuela e fundador do movimento Evangelho Transforma. Foi candidato nas últimas eleições presidenciais, em 2018, recebendo 10,82% dos votos. Disse que vai buscar a “reunificação e a tolerância no país” e que seu governo terá 3 pilares: economia, saúde e educação.
O candidato do Copei será Juan Carlos Alvarado. Ele também é deputado e disse que seu partido, depois de 30 anos, tem uma “candidatura plural” que expressa a vontade do povo venezuelano.
Luis Ratti se apresenta como um candidato independente, mas está inscrito pela Direita Democrática Popular. Se colocou como candidato em 2018, mas também desistiu de participar do pleito. Afirmou que será uma “oposição diferente da que se conhece”.
O deputado José Brito também se inscreveu como representante dos partidos Primeiro Venezuela, Min-Unidade e Unidade Visão Venezuela. Entre seus objetivos estão a “estabilidade política e o desenvolvimento econômico”.
Regras eleitorais
As eleições na Venezuela são realizadas em turno único, portanto quem receber mais votos é eleito. O mandato presidencial dura seis anos.
Os eleitores votam em urnas eletrônicas que imprimem os comprovantes de votações em cédulas. O eleitor confere se o voto foi registrado de forma correta e deposita o comprovante em uma urna para eventual recontagem dos votos. O Conselho Nacional Eleitoral afirma que a Venezuela “é o primeiro país do mundo a adotar esse tipo de mecanismo”. Desde 2004, o pleito é realizado dessa forma.
As eleições de 2024 estão marcadas para 28 de julho. Os eleitores terão de 6h às 18h para votar. A campanha eleitoral será realizada de 4 a 25 de julho.
Fonte: Brasil de Fato, por Lorenzo Santiago – Edição: Rodrigo Durão Coelho – Imagem: Freepik