Rubio sinaliza recuo dos EUA na mediação da guerra na Ucrânia, e promessa de Trump perde força
Durante a campanha presidencial, Trump se colocou como o único líder capaz de acabar com a guerra

A promessa do presidente Donald Trump de colocar fim à guerra entre Rússia e Ucrânia por meio da mediação direta dos Estados Unidos começa a enfrentar seus primeiros testes — e dá sinais de recuo. O secretário de Estado, Marco Rubio, afirmou na última quinta-feira (17) que os EUA deixarão de mediar os esforços de paz em poucos dias, caso não vejam sinais claros de que um acordo é possível. A fala, feita após uma reunião em Paris com representantes da União Europeia, Ucrânia e líderes ocidentais, lança incertezas sobre o futuro do envolvimento americano em um dos conflitos mais sensíveis do cenário internacional.
Rubio foi direto: “Não lidaremos com isso por meses. Precisamos determinar muito rapidamente — e estou falando de uma questão de dias — se isso poderá ser feito nas próximas semanas. Se sim, nós participamos. Se não, temos outras prioridades”. A frase, ao mesmo tempo em que soa prática, levanta dúvidas sobre a seriedade e o compromisso dos Estados Unidos com o processo de paz que prometeram liderar.
Durante a campanha presidencial, Trump se colocou como o único líder capaz de acabar com a guerra entre Moscou e Kiev. Seu discurso encontrou eco em parte da população americana e internacional, cansada do prolongamento do conflito e das incertezas geopolíticas. Mas agora, ao primeiro sinal de impasse, a postura norte-americana revela-se hesitante, colocando em xeque a capacidade de Washington em sustentar sua influência diplomática com firmeza e consistência.
De acordo com Rubio, o presidente Trump continua interessado em alcançar um acordo, mas tem “muitas outras prioridades” e está “preparado para seguir em frente” caso o processo não avance. A fala, ainda que diplomática, carrega um tom de impaciência que contrasta com a responsabilidade de liderar uma solução duradoura para uma guerra que já causou milhares de mortes e deslocamentos.
Para muitos analistas, a declaração soa como uma ameaça velada — e não é a primeira vez que isso acontece. O atual presidente norte-americano tem colecionado episódios de idas e vindas em decisões de política externa, o que alimenta uma crescente desconfiança global sobre a previsibilidade e a estabilidade da liderança dos EUA. Do recuo em sanções ao apoio oscilante a aliados históricos, Trump tem demonstrado um estilo autoritário, por vezes errático, que conflita com o papel de mediador imparcial e confiável que os EUA historicamente tentaram exercer no cenário mundial.
Além disso, o discurso de que a guerra “não é dos Estados Unidos” enfraquece a narrativa de potência responsável e deixa um vácuo geopolítico que pode ser ocupado por outras nações com interesses menos pacíficos. No tabuleiro da diplomacia internacional, desistir de uma mediação — ainda mais depois de prometer resultados rápidos — pode ter efeitos colaterais não só na credibilidade americana, mas também na estabilidade global.
O mundo observava com expectativa a iniciativa de Trump. Agora, começa a observar com ceticismo sua continuidade. A pergunta que fica: seria essa mais uma promessa grandiosa feita ao calor do discurso político, mas sem compromisso real com a complexidade do cenário? Se os Estados Unidos se retirarem tão cedo do processo, talvez a resposta já esteja dada.
Por Damata Lucas – Imagem: Oficial / Senado EUA