
O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos), subiu o tom contra a condução fiscal do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em publicação feita nesta segunda-feira (26/5) nas redes sociais, Motta mandou um recado direto ao Palácio do Planalto: “O Brasil não precisa de mais impostos. Precisa de menos desperdício.”
A crítica ocorre em meio à crescente tensão entre o Congresso e a equipe econômica, especialmente após a polêmica envolvendo o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Na última semana, o governo publicou um decreto alterando a cobrança do tributo, o que gerou insegurança no mercado e fez a Bolsa cair. Diante da repercussão negativa, o Executivo recuou no dia seguinte e manteve a isenção para fundos no exterior.
Apesar de manter o tom institucional, Hugo Motta deixou claro seu descontentamento com a gestão das contas públicas. “O Executivo não pode gastar sem freio e depois passar o volante para o Congresso segurar. Quem gasta mais do que arrecada não é vítima, é autor”, escreveu ele no X (antigo Twitter), em mensagem que repercutiu entre parlamentares da base e da oposição.
Ainda assim, o presidente da Câmara fez questão de lembrar que o Parlamento tem sido colaborativo com o país. “A Câmara dos Deputados é parceira do Brasil e seguirá trabalhando para aprovar medidas de interesse nacional”, afirmou.
Crise fiscal expõe atritos entre Planalto e Congresso
A declaração de Motta acontece em um momento delicado para a equipe econômica, que tenta equilibrar as contas diante da frustração de receitas e da dificuldade de aprovar medidas no Legislativo. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem atribuído ao Congresso a responsabilidade por não avançar com propostas de compensação à desoneração da folha de pagamento de diversos setores. Já a ministra do Planejamento, Simone Tebet, criticou o engavetamento de uma PEC que ampliava os poderes do Executivo para cortar gastos obrigatórios.
Diante do impasse, o governo anunciou o bloqueio de R$ 31,3 bilhões em despesas previstas no Orçamento de 2025, em uma tentativa de cumprir o novo arcabouço fiscal. Desse total, R$ 10,6 bilhões foram congelados para respeitar o teto de gastos, enquanto R$ 20,7 bilhões foram contingenciados como esforço para atingir a meta de déficit zero — que ainda permite um rombo de até R$ 31 bilhões.
O movimento do Planalto acirra o embate com o Legislativo, que resiste a propostas de aumento da carga tributária e cobra do Executivo maior responsabilidade com o uso dos recursos públicos. Nos bastidores, líderes da Câmara vêm pressionando o governo a conter gastos e cortar privilégios antes de propor novos tributos ou taxações sobre investimentos.
A fala de Hugo Motta reflete o clima de insatisfação que predomina entre parlamentares, mesmo os mais próximos da base aliada. O recado está dado: o Congresso não aceitará passivamente ser responsabilizado pelos desequilíbrios fiscais de um governo que, segundo seus críticos, tem gasto além do que arrecada.
Edição: Damata Lucas – Imagem: Mário Agra