
Ainda que legalmente impedido de disputar cargos públicos, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a se apresentar como principal liderança da direita com vistas às eleições presidenciais de 2026. Em entrevista ao SBT, concedida diretamente da UTI do hospital DF Star, em Brasília, onde se recupera de uma cirurgia abdominal, Bolsonaro reafirmou sua convicção de que permanece sendo o único nome com apelo popular suficiente para representar seu campo político.
“A população não quer outro nome da direita que não seja Jair Messias Bolsonaro e ponto final”, declarou o ex-presidente, evidenciando mais uma vez sua estratégia de centralizar o debate político em torno da sua figura, mesmo diante das barreiras jurídicas que enfrenta.
Embora tenha reconhecido a existência de bons quadros no campo conservador, Bolsonaro fez questão de minimizar a competitividade de possíveis aliados ou sucessores. “Cada um dentro do seu partido tem que cavar seu espaço. Tem que começar a rodar o Brasil e fazer o seu trabalho para ganhar simpatia e confiança da população”, afirmou, sugerindo que, apesar das articulações em curso, nenhum outro nome seria capaz de ocupar seu lugar.
A fala ocorre em meio à internação do ex-presidente, que passou por um delicado procedimento cirúrgico no último dia 11 de abril — mais um reflexo dos efeitos da facada sofrida durante a campanha de 2018. Mesmo hospitalizado, Bolsonaro manteve sua presença no debate político, aproveitando a entrevista para atacar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a quem chamou de “nome ainda pior” caso venha a disputar novamente a Presidência.
Bolsonaro também criticou o processo judicial em que se tornou réu por incitação e tentativa de golpe de Estado no contexto dos atos de 8 de janeiro de 2023, que culminaram na invasão e depredação das sedes dos Três Poderes em Brasília. Para ele, o julgamento é “político” e não técnico, reforçando a narrativa de perseguição judicial que ele e seus apoiadores frequentemente utilizam para se defender das acusações.
O ex-presidente foi declarado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em junho de 2023, por 5 votos a 2. A condenação teve como base uma reunião com embaixadores estrangeiros realizada em julho de 2022, quando Bolsonaro ainda era pré-candidato à reeleição. No encontro, transmitido pela TV Brasil e amplamente divulgado em suas redes sociais, o então presidente atacou sem provas o sistema eleitoral brasileiro e questionou a integridade das urnas eletrônicas — declarações que foram classificadas pela corte como abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação públicos.
A decisão do TSE teve repercussões significativas: não apenas impediu Bolsonaro de concorrer em futuras eleições até 2030, como também estabeleceu um marco simbólico na resposta institucional às ameaças contra o sistema democrático. Ainda assim, o ex-presidente segue atuando como liderança influente na política brasileira, com um grupo de apoiadores fiéis e uma base parlamentar expressiva, especialmente no Congresso.
Com a proximidade do calendário eleitoral de 2026, o campo da direita vive um dilema: sem Bolsonaro nas urnas, qual será o nome capaz de manter unido o eleitorado conservador? Figuras como Tarcísio de Freitas (governador de SP), Romeu Zema (MG) e Michelle Bolsonaro são frequentemente citadas como possíveis alternativas, mas nenhuma delas, até agora, conseguiu assumir plenamente o protagonismo deixado por Bolsonaro.
O cenário segue indefinido. E mesmo fora das urnas, o ex-presidente parece determinado a manter-se no centro da disputa — seja como cabo eleitoral, articulador de bastidores ou, como ele mesmo insiste em sugerir, como eventual candidato caso consiga reverter sua inelegibilidade.
Redação Damata Lucas – Imagem: Rede Social Instagram