
“Nós vamos continuar andando o mundo porque temos o que oferecer. Quem tem que vender as coisas do Brasil é o Brasil. É o Brasil que tem que mostrar suas qualidades e as coisas que acha que o mundo tem que comprar”. A declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva neste sábado (29/3), durante entrevista coletiva de imprensa antes de decolar de Hanói com destino ao Brasil, resume a perspectiva do Governo Federal em torno das escalas realizadas no Japão e no Vietnã em visitas de Estado nesta semana: um país ciente de suas qualidades, que aposta no livre-comércio e no multilateralismo e respeita a necessidade de acordos concretos e consistentes com os parceiros internacionais.
Resultados como a venda de 15 jatos da Embraer à All Nippon Airways (ANA) e a abertura do mercado do Vietnã à carne produzida no Brasil são apontados pelo presidente como indicadores deste conceito, assim como o reforço à indústria nacional, à cultura, ao papel de protagonismo do país na transição energética e à sinalização de um país conectado com as principais discussões geopolíticas. Nas conversas com chefes de Estado e autoridades dos países com quem trata, Lula afirmou que tem aproveitado para “vender” os eventos estratégicos que o Brasil vai sediar em 2025, como a Cúpula do BRICS e a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30).
“Estamos mostrando que não há nada melhor para um país como o Brasil do que apostar no multilateralismo. Somos favoráveis ao livre-comércio, não queremos protecionismo. Fazer a COP no coração da Amazônia é chamar o mundo à razão sobre o significado da Amazônia. Todo mundo dá palpite sobre a Amazônia, mas pouca gente conhece, e a gente quer mostrar ela do jeito que é. E eu não tenho dúvida que vamos fazer a melhor edição do BRICS já feita”, frisou o presidente.
Multilateralismo e livre-comércio
“Eu faço questão de dizer em todo lugar que vou que o país não é melhor do que ninguém, mas não é pior do que ninguém. E faço questão de mostrar esse Brasil novo, que não tem ódio, não é negacionista, tem respeito aos parceiros de todos os países e de que estamos mostrando que não há nada melhor para um país como o Brasil do que apostar no multilateralismo. Somos favoráveis ao livre-comércio, não queremos protecionismo. A gente quer vender as coisas boas que o país produz em qualquer país do mundo. O Brasil não está isolado no planeta Terra, a gente está ligado por terra e por mar e pelo ar, todo mundo respira o mesmo ar, todo mundo utiliza o mesmo mar, e todo mundo tem menos terra do que água, então achamos que uma boa parceria entre os países é muito importante”.
COP30
“Eu digo sempre para as pessoas: não fiquem olhando a nossa COP como se a gente estivesse em Paris, Nova Iorque ou Londres. Olhem como se a gente estivesse na cidade de Belém, no Pará, com todos os problemas que temos. Fazer uma COP no coração da Amazônia é chamar o mundo à razão sobre o significado da Amazônia. Todo mundo fala da Amazônia, mas pouca gente conhece, e a gente quer mostrar ela do jeito que é, para as pessoas compreenderem que para manter a floresta em pé é preciso que haja financiamento dos países ricos que já depredaram e degradaram o mundo”.
Compromisso
“Já mandei carta a muitos países convidando para a COP30. Quero que participem as pessoas mais importantes, porque muitas vezes os países ricos não estão levando a sério a questão climática. O protocolo de Kyoto nunca foi cumprido. O Acordo de Paris muitos estão negando. No caso do Brasil, vamos levar a sério. É por isso que não dependemos de ninguém para assumir o compromisso de que até 2030 a gente vai ter desmatamento zero. É por isso que a gente está assumindo o compromisso de que, embora a gente tenha uma empresa como a Petrobras, estamos apostando na transição energética, porque achamos que, quanto mais a gente tiver produção de energia limpa, mais chance a gente tem de ir diminuindo o uso de combustível fóssil”.
Vietnã – Mercosul
“É importante a gente entender que podemos ser uma porta de entrada para o Vietnã na América Latina e na América do Sul. Para nós, é importante tentar levar o Vietnã para o acordo com o Mercosul. É importante que o Vietnã seja uma porta de entrada para o Brasil na ASEAN (Associação de Nações do Sudeste Asiático). Só isso já valia a pena eu ter feito a visita. E também porque temos concordância com o Vietnã no multilateralismo e na necessidade de melhorar a governança das Nações Unidas. Nós concordamos que a Nações Unidas, hoje, não representa mais aquilo que ela representou em 1945, depois da Segunda Guerra Mundial”.
Carne, aviões e comércio
“O Japão e o Vietnã são mercados importantes para a carne brasileira. A carne brasileira melhorou na quantidade e melhorou na qualidade. Portanto, hoje, a gente não deve para ninguém qualidade. Mas não é apenas isso, nós queremos vender tudo aquilo que for inteligência que o Brasil possa oferecer. Estamos discutindo a necessidade de fazer com que a Embraer possa vender aviões aqui. Alguns não, uma perspectiva de 50 aviões. O Vietnã pode ser um ponto de partida para que aviões da Embraer de 150 passageiros possam ter acesso ao mercado extremamente importante do ponto de vista político e do ponto de vista econômico (da ASEAN). Nós queremos que as empresas brasileiras voltem a construir o mundo. O Brasil tem que competir. E, se depender de mim, as empresas brasileiras voltam a construir pontes, estradas, rodovias, ferrovias, hidrelétricas mundo afora”.
Japão
“O Brasil tem uma relação desde 1908 com o Japão, são 130 anos de relação diplomática. Já tivemos 17 bilhões de fluxo de comércio exterior. Por que caiu para 11? Nós temos que descobrir o porquê. Então esse é o papel do Presidente da República: além de cuidar dos interesses internos do Brasil, cuidar dos interesses internos cuidando dos interesses externos, porque os interesses externos podem facilitar a entrada de dólares para o Brasil, para indústria brasileira, a agricultura brasileira”.
Tarifas norte-americanas
“O Brasil vai tentar negociar ao máximo. Todas as palavras que estão no nosso dicionário de negociação nós iremos utilizar. Mas nós não teremos nenhuma preocupação de recorrer à OMC (Organização Mundial do Comércio), que é o lugar onde todos os problemas comerciais deveriam ser resolvidos. Se não for resolvido, temos o direito de impor reciprocidade aos Estados Unidos. É simples assim. Não tem nenhuma dificuldade”.
Fonte: Agência Gov – Imagem: Ricardo Stuckert