GeralInternacionalPolítica

Índia e Paquistão anunciam cessar-fogo em meio a escalada global de tensões

A trégua ocorre em um cenário internacional já marcado por múltiplos focos de tensão

Nova Délhi/Islamabad — Índia e Paquistão concordaram neste sábado (10) com um cessar-fogo “completo e imediato”, após uma semana de intensos confrontos na disputada região da Caxemira, que deixaram pelo menos 49 civis mortos. A trégua, anunciada inicialmente pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, será seguida por uma nova rodada de negociações na segunda-feira (12).

“O Paquistão sempre lutou pela paz e segurança na região, sem comprometer sua soberania e integridade territorial”, afirmou o ministro das Relações Exteriores do país, Ishaq Dar, em publicação no X. O espaço aéreo paquistanês, fechado durante os confrontos, foi reaberto neste sábado.

Trump comemorou o acordo: “Após uma longa noite de negociações mediadas pelos Estados Unidos, tenho o prazer de anunciar que a Índia e o Paquistão concordaram com um CESSAR-FOGO COMPLETO E IMEDIATO. Parabéns a ambos os países por usarem o bom senso e grande inteligência”, escreveu no Truth Social.

A trégua ocorre em um cenário internacional já marcado por múltiplos focos de tensão. A guerra na Ucrânia entra em seu quarto ano sem perspectiva de solução negociada; no Oriente Médio, os combates entre Israel e Hamas se intensificaram novamente nas últimas semanas; e no Mar Vermelho, ataques de rebeldes houthis contra navios comerciais elevaram os riscos para o comércio global.

Um conflito histórico reacendido

O estopim do atual surto de violência entre Índia e Paquistão foi um atentado em 22 de abril na cidade turística de Pahalgam, na Caxemira indiana, que matou 26 pessoas — a maioria hindus. O governo indiano responsabilizou o grupo jihadista Lashkar-e-Taiba (LeT), baseado no Paquistão e classificado como terrorista pela ONU.

Na sequência, houve bombardeios de ambos os lados, com o exército indiano destruindo supostos “acampamentos terroristas” e o Paquistão derrubando cinco caças indianos, segundo suas Forças Armadas. Até sexta-feira (9), os confrontos haviam deixado 36 civis mortos do lado paquistanês e 13 do lado indiano.

A Caxemira, de maioria muçulmana, está dividida entre os dois países desde 1947, quando a Índia e o Paquistão conquistaram a independência do Reino Unido. O território segue sendo o centro de disputas territoriais e de insurgências armadas que pedem independência ou anexação ao Paquistão.

Risco regional e apelos globais

Com Índia e Paquistão entre os nove países do mundo com armas nucleares, a escalada do conflito gerou grande preocupação internacional. Estados Unidos, União Europeia, Rússia, Reino Unido e França fizeram apelos por moderação.

“O mundo não pode se permitir um confronto militar entre Índia e Paquistão”, alertou Stéphane Dujarric, porta-voz do secretário-geral da ONU, António Guterres. O Reino Unido ofereceu sua mediação para facilitar o diálogo entre os vizinhos.

Especialistas, no entanto, avaliam que, apesar do uso de retórica inflamável por líderes como o premiê paquistanês Shehbaz Sharif — que prometeu “vingança até a última gota de sangue” —, a chance de o conflito evoluir para um confronto nuclear é baixa, dado o entendimento entre as potências de que tal cenário seria catastrófico para ambos os lados e para a região.

Um mundo sob pressão

O cessar-fogo entre Índia e Paquistão é um raro lampejo de contenção em um momento em que o sistema internacional enfrenta múltiplas crises simultâneas. A guerra na Ucrânia continua a remodelar alianças na Europa e a pressionar os recursos da OTAN; no Oriente Médio, a violência entre Israel e Hamas reacendeu discussões globais sobre a paz na região; enquanto no Indo-Pacífico, a tensão entre China e Taiwan mantém os Estados Unidos em alerta.

“Estamos vivendo uma era de turbulência global, em que cada novo conflito amplia o risco de um efeito dominó”, avalia a analista de relações internacionais Sarah Mehta. “A trégua na Caxemira deve ser vista não apenas como um alívio regional, mas como uma oportunidade de reafirmar o papel da diplomacia em um mundo cada vez mais polarizado.”

Com a reunião prevista para segunda-feira, os olhos do mundo continuam voltados para Nova Délhi e Islamabad — na esperança de que o cessar-fogo possa ser o primeiro passo para um caminho mais duradouro de paz.

Edição: Damata Lucas – Imagem: Wikipedia

Relacionados

Botão Voltar ao topo