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Governo Lula enfrenta crise de popularidade com fraudes no INSS

Mas o problema começou ainda durante gestão de governo anterior

O governo Lula vive um momento delicado após o escândalo de fraudes no INSS, que já começa a impactar sua popularidade, conforme apontam pesquisas recentes. No entanto, uma análise mais aprofundada revela que as raízes do problema remontam ao governo anterior, quando irregularidades se proliferaram sem qualquer ação efetiva para combatê-las. Agora, a administração atual tem o desafio de reverter a crise, mas também a oportunidade de mostrar que, pela primeira vez, o esquema está sendo de fato investigado.

A crise de imagem e os erros na gestão

O cientista político Cristiano Noronha, da Arko Advice, avalia que o governo tem cometido falhas na condução da crise, reagindo tardiamente e mudando de posição em decisões importantes, como o apoio à CPI do INSS. Essa hesitação tem custado caro: pesquisas de opinião mostram que a desaprovação do presidente Lula, que vinha recuando, voltou a crescer.

Noronha alerta que, além do desgaste político, o governo pode enfrentar o afastamento de aliados do “centrão”, crucial para a base de apoio. Além disso, a CPI pode ofuscar eventuais boas notícias em um ano eleitoral, criando um cenário ainda mais desafiador.

A herança maldita de Bolsonaro: fraudes que se agravaram sem controle

O que pouco se discute, porém, é que as fraudes no INSS não são novidade – e se agravaram justamente no governo Bolsonaro, quando nenhuma medida eficaz foi tomada para estancá-las. Dados do próprio Ministério da Previdência mostram que:

  • Em 2022, último ano de Bolsonaro no poder, o número de benefícios irregulares identificados superou 100 mil, com indícios de fraude em mais de R$ 3 bilhões em pagamentos.

  • A Controladoria-Geral da União (CGU) apontou que, entre 2019 e 2022, houve um aumento de 47% nos processos de investigação de fraudes, mas sem punições significativas.

  • Nenhuma operação de grande porte foi deflagrada na época para desarticular esquemas criminosos, que só começaram a ser alvo de apurações mais rigorosas a partir de 2023, com a chegada do governo Lula.

Ou seja: o problema já existia, mas foi ignorado. Agora, com a CPI e as investigações em curso, o governo atual tem a chance (e o ônus) de mostrar que, pela primeira vez, o Estado está agindo para combater o esquema.

A Conafer e o esquema que Bolsonaro ignorou

O caso da Conafer (Confederação Nacional de Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares Rurais) é emblemático. A entidade desviou R$ 277 millhões de aposentadorias em 2024 contra R$ 40 milhões em 2019. Agiu à luz do dia durante a pandemia, quando o INSS fechou as portas sob gestão bolsonarista. Veja o que as investigações já revelaram:

  • Em 2021, o MPDFT e a PCDF já haviam descoberto 256 mil beneficiários com descontos ilegais;

  • A Conafer adicionou 73 mil filiações em plena pandemia (610 por dia!), sem que o INSS interviesse;

  • Justiça do DF negou operação contra a entidade em 2021, e o caso só foi retomado pela PF em 2024.

Ou seja: o esquema cresceu exponencialmente enquanto o governo federal assistia passivamente. A PF só agiu agora porque a CGU (sob Lula) priorizou o caso.

O risco da narrativa simplista

A oposição quer vender a ideia de que “tudo piorou com Lula”, mas os números da Conafer mostram o contrário: o auge do esquema foi 2020-2022, e só agora as investigações avançam. Se o governo não corrigir a narrativa, pagará por um crime que não cometeu – e deixará impune quem realmente permitiu o estrago.

Há caminho para a recuperação?

Apesar do cenário turbulento, o governo ainda pode reverter a situação negativa. Algumas ações podem ajudar:

  1. Transparência nas investigações – Mostrar à população que as fraudes estão sendo apuradas e punidas, destacando que o problema foi herdado, mas só agora está sendo enfrentado.

  2. Aceleração de medidas contra corrupção – Reforçar a atuação da CGU e da Polícia Federal para demonstrar eficiência no combate aos crimes.

  3. Comunicação clara – Evitar mudanças de discurso e explicar que, sem as investigações atuais, o esquema continuaria impune.

Se o governo conseguir alinhar uma narrativa consistente – mostrando que assumiu o problema deixado pelo anterior e está agindo para resolvê-lo –, pode transformar a crise em uma oportunidade de recuperar confiança. O desafio é grande, mas a omissão do passado pode ser justamente o argumento que falta para justificar as dificuldades do presente.

Por Damata Lucas – Imagem: Marcelo Camargo/Agência Brasil

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