
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez um pronunciamento em rede nacional de TV que foi além das comemorações tradicionais em relação ao Dia do Trabalhador: ele abordou, pela primeira vez, naquela ocasião, 30 de abril, o esquema de descontos ilegais aplicados contra aposentados e pensionistas do INSS, que veio à tona após uma operação conjunta da Polícia Federal (PF) e da Controladoria-Geral da União (CGU). O esquema, que teria movimentado cerca de R$ 6,3 bilhões entre 2019 e 2024, envolve entidades sindicais que cobravam indevidamente valores de beneficiários.
“Determinei à Advocacia-Geral da União que as associações que praticaram cobranças ilegais sejam processadas e obrigadas a ressarcir as pessoas que foram lesadas”, declarou Lula no pronunciamento. O discurso presidencial buscou sinalizar ação e controle diante de uma situação que abalou a cúpula do INSS: Alessandro Stefanutto caiu da presidência da autarquia, junto com outros diretores, enquanto Gilberto Waller Júnior, procurador federal ligado à AGU, foi nomeado rapidamente para o cargo.
A decisão de Lula, no entanto, gerou desconforto político dentro do próprio governo. O ministro da Previdência Social, Carlos Lupi (PDT), não participou da escolha do novo presidente do INSS e foi comunicado apenas pela ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann. O episódio incomodou não apenas Lupi, mas também o PDT, partido que chefia a pasta e que conta com representação expressiva no Congresso: 17 deputados e 3 senadores. Nos bastidores, aliados avaliam que Lupi dificilmente continuará no governo se não tiver autonomia real para fazer indicações e tomar decisões.
A crise ganhou contornos ainda mais agudos após uma pesquisa do instituto AtlasIntel, divulgada no dia 1º de maio, apontar que 85,3% dos entrevistados defendem que Lula demita Lupi. Apenas 8,7% acham que o ministro deve permanecer no cargo, enquanto 6% não souberam ou preferiram não opinar.
No Congresso, a oposição se move rapidamente. Na Câmara, o deputado Coronel Chrisóstomo (PL-RO) protocolou o pedido de abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o caso. O requerimento já ultrapassou as 170 assinaturas necessárias, com destaque para o apoio maciço do PL, além de legendas como União Brasil, PP, Republicanos, MDB e PSD.
Paralelamente, senadores oposicionistas articulam uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI), que envolveria Câmara e Senado. O líder da oposição no Senado, Rogério Marinho (PL-RN), garantiu que as 27 assinaturas na Casa já foram reunidas e que, na próxima semana, pretendem alcançar os 171 apoios necessários entre os deputados para viabilizar a CPMI.
O caso INSS tornou-se, assim, um teste político não apenas para a capacidade de Lula administrar crises internas, mas também para medir a força de partidos aliados e da oposição no Congresso. Mais do que identificar os responsáveis pelo desvio bilionário, os desdobramentos dessa crise poderão redefinir o equilíbrio de forças dentro do governo e influenciar negociações futuras no Parlamento.
Por Damata Lucas – Imagem: Marcelo Camargo