
O ex-presidente Jair Bolsonaro participou neste domingo de uma manifestação em Brasília que reuniu apoiadores e parlamentares aliados, com pedidos de anistia para os envolvidos na tentativa de golpe em 2022. O ato foi organizado pelo pastor Silas Malafaia e contou também com a presença da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e de mais de uma dezena de parlamentares próximos ao ex-presidente.
Mesmo ainda em recuperação de uma internação hospitalar de três semanas — após uma cirurgia no intestino — Bolsonaro decidiu comparecer ao evento apenas três dias após receber alta. Sua presença foi bastante destacada pelos organizadores e apoiadores, que o aplaudiram enquanto ele subia ao palco montado no Eixo Monumental.
Durante seu discurso, Bolsonaro defendeu que a anistia é uma prerrogativa exclusiva do Parlamento. “Anistia é um ato privativo do Legislativo, é a casa do povo que decide”, afirmou o ex-presidente, que também criticou o que classificou como perseguição política contra seus apoiadores.
Os manifestantes ocuparam cerca de duas faixas do Eixo Monumental e, em sua maioria, vestiam camisetas da seleção brasileira e carregavam faixas pedindo anistia para os condenados e investigados pelos atos antidemocráticos de 2022. Até o momento, a Polícia Militar não divulgou uma estimativa oficial de público presente.
Decisão do STF
Na última semana, a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu tornar réus Jair Bolsonaro e mais 20 aliados, sob a acusação de tentativa de golpe de Estado. Os cinco ministros do colegiado votaram por aceitar a denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR), que apontou a atuação do ex-presidente e de seu núcleo próximo na elaboração e execução de um plano para subverter o resultado das eleições presidenciais de 2022.
Segundo o STF, há indícios consistentes de que Bolsonaro e os aliados participaram de uma “tentativa deliberada de ruptura institucional”, incluindo articulações com militares, disseminação de desinformação e estímulo a atos golpistas. O relator do caso, ministro Alexandre de Moraes, afirmou que a gravidade das acusações exige resposta firme da Justiça para proteger a ordem democrática.
Reação da oposição
A oposição ao governo atual, por sua vez, argumenta que os processos contra Bolsonaro e seus apoiadores configuram perseguição política e tentativa de silenciar a direita no Brasil. Parlamentares aliados e líderes conservadores têm dito que a anistia seria um gesto necessário para pacificar o país e reconstruir a unidade nacional.
Por outro lado, a cúpula do Congresso Nacional, liderada pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, e pelo presidente da Câmara, Arthur Lira, já se manifestou publicamente contra qualquer iniciativa de anistia a condenados ou investigados por atos antidemocráticos. Para os líderes do Legislativo, aprovar uma medida desse tipo significaria fragilizar as instituições e enviar uma mensagem equivocada à sociedade.
O tema deve permanecer no centro do debate político nos próximos meses, com impacto direto não apenas no futuro de Bolsonaro e seus aliados, mas também no clima institucional entre os Poderes.
Por Damata Lucas – Imagem: Joédson Alves/Agência/Brasil