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Reeleição de Daniel Noboa consolida autoritarismo neoliberal no Equador

O resultado, no entanto, está longe de ser unânime

A reeleição de Daniel Noboa neste domingo (13) marca um novo capítulo sombrio para o Equador, de acordo com analistas internacionais. Com 55,8% dos votos válidos, segundo a apuração de 90% das urnas, o jovem bilionário de direita garantiu mais quatro anos no poder. O resultado, no entanto, está longe de ser unânime: a candidata de esquerda Luisa González, que obteve 44,1% dos votos, não reconheceu a derrota e denunciou fraude eleitoral.

As acusações são sérias. Segundo González, Noboa utilizou o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) e o Tribunal Contencioso Eleitoral (TCE) como ferramentas de campanha. A cereja do bolo foi o decreto de estado de exceção, baixado às vésperas da votação, que suspendeu direitos civis básicos como a inviolabilidade de domicílio e de correspondência em oito províncias. Em 22 cidades, houve toque de recolher.

“Não reconhecemos os resultados. Noboa atropelou a democracia”, disse a candidata, que também promete pedir recontagem dos votos. O presidente eleito respondeu sem demonstrar preocupação: “O Equador já escolheu um caminho diferente”, afirmou, se referindo ao que ele chama de um projeto de progresso. Mas, na prática, o que está em jogo é a consolidação de uma agenda neoliberal, autoritária e elitista, como opinam especialistas de ciência política.

Quatro anos de repressão e retrocessos?

Desde que assumiu em 2023, após a renúncia de Guillermo Lasso para evitar um impeachment, Noboa se escorou no uso das Forças Armadas nas ruas e no discurso de “guerra contra o crime”. Mesmo com plebiscito e decretos de emergência, o resultado foi trágico: violência em alta, recordes de homicídios (45 por 100 mil habitantes), massacres em presídios e hospitais públicos em colapso.

A promessa para o novo mandato é mais do mesmo, com agravantes: construção de mais presídios de segurança máxima, militarização da segurança pública e até uma proposta para reintroduzir bases militares estrangeiras no país — medida que vai contra a Constituição de 2008 e só pode ser aprovada via referendo.

No campo econômico, a agenda é clara: privatizações, desregulamentações e favorecimento ao capital privado. O país, que enfrenta apagões de até 14 horas diárias desde o fim de 2024, aprovou uma lei que permite investimentos privados no setor elétrico, apesar da Constituição reservar essa gestão ao Estado. Uma brecha legal a favor dos grandes empresários — como o próprio Noboa, herdeiro do império das bananas no Equador.

Um país à deriva

Enquanto o governo fala em “energia limpa” e “futuro digno”, a realidade é de desabastecimento, precariedade e aumento da pobreza. A proposta de geração de energias renováveis não tradicionais, por exemplo, ainda não veio acompanhada de qualquer plano concreto. Fala-se em sustentabilidade, mas age-se com oportunismo.

A bandeira anticorrupção também parece mais uma cortina de fumaça. Noboa lançou um Plano Nacional de Integridade Pública e Combate à Corrupção, mas a atuação do próprio governo nas eleições levanta dúvidas sobre o verdadeiro compromisso com a transparência.

A oposição já se articula. Wilson Barba, dirigente do movimento Revolução Cidadã, resume o sentimento de boa parte da população: “Noboa representa a continuidade de um bilionário no poder, defendendo os próprios interesses. Estamos voltando ao domínio absoluto dos grandes empresários”.

A democracia em risco

Mais do que uma eleição, o que se viu no Equador foi uma demonstração do enfraquecimento das instituições e do avanço de práticas autoritárias disfarçadas de governabilidade. A manipulação de instrumentos eleitorais, a repressão disfarçada de segurança e a concentração de poder nas mãos de um setor econômico privilegiado colocam em xeque os pilares democráticos do país.

Se a história recente do Equador ensina algo, é que governos autoritários, mesmo sob o verniz da legalidade, acabam custando caro ao povo. E este novo mandato de Daniel Noboa pode ser o mais caro de todos.

Edição: Damata Lucas – Imagem: X

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