
Em um momento em que o mundo vive sob o impacto de decisões econômicas imprevisíveis, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva usou seu espaço no 100º Encontro Internacional da Indústria da Construção (Enic), em São Paulo, para soltar o verbo. Sem meias palavras, Lula apontou o dedo para o novo tarifaço imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e disse, com todas as letras: “não vai dar certo”.
A crítica de Lula vai além da política externa. Ela é, na verdade, um alerta. Um chamado ao bom senso em tempos de protecionismo crescente e lideranças que parecem cada vez mais inclinadas a agir sozinhas, ignorando as complexidades de um mundo globalizado. E Lula, que já viu esse filme antes, sabe onde isso pode acabar.
“Ninguém pega um transatlântico carregado e faz as coisas que estão acontecendo”, disparou o presidente brasileiro, em referência às ações de Trump.
A metáfora é certeira. O transatlântico é o mundo — pesado, complexo, interligado. E tentar dar um “cavalo de pau” nesse cenário, como Lula descreveu, pode causar não só ondas, mas tsunamis geopolíticos e econômicos.
Na semana passada, Trump surpreendeu o planeta ao anunciar uma bateria de tarifas contra países como Brasil, China, membros da União Europeia e Japão. A medida, que despertou críticas até de aliados improváveis como Elon Musk, parece mais uma cartada impulsiva do que uma estratégia consolidada. Resultado: a resposta veio à altura. A China não apenas retaliou com uma tarifa de 34%, como provocou nova ameaça dos EUA — desta vez, com um imposto de 50% se Pequim não recuar até hoje à tarde.
Guerra de tarifas ou guerra de egos?
O que está em jogo não é apenas uma guerra tarifária — é uma disputa de narrativas, de hegemonias e, sobretudo, de egos. Trump, ao insistir na via do confronto, tenta se posicionar como o xerife da economia mundial. Mas esquece que, no tabuleiro global, os outros jogadores não são meros figurantes. E a reação internacional, com a União Europeia e a China assumindo uma postura firme, mostra que o jogo é mais complexo do que o republicano talvez imagine.
Lula, por sua vez, traz uma voz de moderação e realismo. Defensor do multilateralismo e do diálogo entre as nações, o presidente brasileiro propõe um caminho que parece óbvio, mas que muitos líderes têm ignorado: o da cooperação.
“A coisa mais importante hoje é o multilateralismo”, reforçou Lula. “É preciso combater o protecionismo.”
Brasil entre gigantes
Para o Brasil, o cenário exige mais do que posicionamento: exige estratégia. O país não pode se dar ao luxo de seguir o fluxo de impulsos internacionais. Precisa manter o equilíbrio, como Lula bem frisou, e tomar decisões com base na sua realidade.
Em um mundo onde o inesperado virou rotina, o discurso de Lula soa como um raro respiro racional. Enquanto Trump aposta na força bruta das tarifas, o presidente brasileiro propõe o diálogo como arma de reconstrução. E em tempos tão polarizados, talvez seja essa a única saída viável.
Porque o multilateralismo pode até não ser manchete de jornal como um tarifaço, mas é ele que sustenta os pilares do comércio, da paz e do progresso compartilhado.
Redação Damata Lucas – Imagem: Ricardo Stuckert