
Em meio ao debate nacional sobre os desdobramentos do 8 de Janeiro, uma voz do governo Lula ganha destaque por abordar com nuances o papel do Supremo Tribunal Federal nas condenações dos envolvidos: Silvio Costa Filho, ministro de Portos e Aeroportos e um dos nomes mais bem avaliados da Esplanada.
Ao contrário do discurso estridente de muitos de seus pares — inclusive dentro de seu próprio partido, o Republicanos — Costa Filho adotou uma postura rara: reconheceu a gravidade do atentado à democracia, mas apontou possíveis excessos na forma como a Justiça tem tratado os réus. Para ele, muitos foram levados ao movimento mais por afinidade ideológica ou confusão política do que por plena consciência do que estavam cometendo. Isso, é claro, não isenta ninguém de responsabilidade, mas abre espaço para refletirmos sobre a proporcionalidade das penas aplicadas.
O ministro não defende anistia — ao contrário, afirma que essa não é uma pauta da sociedade nem deve ser o foco do Congresso. A diferença de sua abordagem está no apelo à serenidade do STF. Costa Filho não propõe impunidade, mas ponderação. Não sugere esquecimento, mas revisão — o que, em um Estado Democrático de Direito, é uma demanda legítima.
Enquanto figuras como Tarcísio de Freitas ainda flertam com a negação dos fatos e se abraçam à narrativa revisionista de Bolsonaro, o ministro de Lula reconhece que houve sim tentativa de golpe. E diz mais: os autos mostram orquestração. Esse reconhecimento, vindo de alguém do Republicanos, é um divisor de águas no discurso institucional sobre o episódio.
A fala de Costa Filho também lança um olhar pragmático sobre a política: segundo ele, o Congresso não tem força para aprovar a anistia. E talvez essa seja, de fato, a medida do atual momento político — o país parece ter amadurecido o suficiente para não aceitar, de forma indiscriminada, a banalização de crimes contra a democracia.
Mais do que um comentário pontual, as declarações do ministro revelam o que pode ser o início de um discurso mais equilibrado no debate nacional. Um discurso que não confunde crítica à dosimetria da pena com endosso ao golpismo, e que busca preservar o prestígio das instituições sem abrir mão da responsabilidade.
É esse tipo de postura que, em momentos de polarização aguda, ajuda a reconstruir pontes e a reafirmar valores fundamentais. Não se trata de perdoar o que não deve ser perdoado, mas de garantir que o rigor da lei não se transforme em instrumento de vingança ou em novo combustível para o extremismo.
Edição JP – Imagem: José Cruz/Agência Brasil