A cada 20 segundos uma adolescente se torna mãe na América Latina e no Caribe
Cerca de 1,6 milhão de meninas dão à luz um bebê, todo ano, num custo total de US$ 15,3 bilhões

A América Latina e o Caribe estão enfrentando um desafio de maternidade precoce. A cada 20 segundos, uma adolescente dá à luz a uma criança na região. Em 15 países, o custo é de US$ 15,3 bilhões por ano.
Em média, isso representa 1% do Produto Interno Bruto, PIB, nessas nações. Mas o valor triplica em dois países da lista: Suriname e Panamá.
Resultados precários e trajetória afetada
Os dados constam de um um relatório apresentado neste mês da mulher pelo Fundo de População das Nações Unidas, Unfpa.
O estudo “O preço da desigualdade: As consequências socioeconômicas da gravidez em adolescentes e maternidade precoce na América Latina e no Caribe explica que o problema afeta profundamente a trajetória de vida dos adolescentes.
Um desafio que prejudica ainda o desenvolvimento psicosocial deles e leva a resultados precários em matéria de saúde para mães e bebês.
Apesar de o Estado pagar um custo considerável pela gravidez na adolescência, 88,2% da carga financeira é arcada pelos próprios adolescentes de 10 a 19 anos.
Tanto para as despesas de saúde relacionadas à gravidez na adolescência como para a potencial perda de receitas fiscais, o Estado assume 1,8 bilhão de dólares, por ano.
Sonhos destruídos, oportunidades perdidas
A diretora regional do Unfpa afirma que “as vidas das adolescentes são interrompidas e os sonhos destruídos sob o peso da maternidade precoce”.
Susana Sottoli lembra que, nessa idade, essas meninas deveriam estar nas salas de aula, conquistando o mundo, e não presas num ciclo de pobreza, desigualdade e oportunidades perdidas.
O relatório consolida resultados de diversos estudos realizados pela agência da ONU entre 2019 e 2024 em países como: Argentina, Bolívia, Colômbia, Costa Rica, Equador, El Salvador, Guatemala, Guiana, Honduras, México, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana e Suriname.

Gravidez na adolescência: causa e consequência da desigualdade
A gravidez na adolescência aparece como “um grito de alarme sobre uma crise silenciosa que mina o futuro da América Latina e do Caribe”.
Para a agência da ONU, a causa e consequência da desigualdade perpetuam o ciclo de pobreza e limitam as oportunidades socioeconômicas para mulheres jovens e suas famílias, em comparação com aquelas que se tornaram mães já adultas.
A gravidez na adolescência está altamente ligada a uniões precoces e à violência sexual, especialmente em menores de 15 anos.
Meninas que tiveram seu primeiro filho nessa idade têm menos estudo do que as que foram mães com 20 anos ou mais.
Nesse caso, ter filho depois dos 20 aumenta em até três vezes a chance de se obter um grau universitário. E isso terá consequências na hora de entrar no mercado de trabalho com salários até três vezes maior.
Adolescentes pobres, negras e indígenas
Adolescentes mais pobres e que vivem em áreas rurais, com menor grau de instrução, indígenas, afrodescendentes têm maiores taxas de gravidez indesejada. No caso de adolescentes negras, a probabilidade é de 50% a mais que outros grupos.
O Unfpa afirma que o ritmo de redução das taxas de fecunidade diminuiu durante a pandemia da Covid19.
A América Latina e o Caribe concentram a segunda maior taxa do mundo em fecundidade de adolescentes atrás apenas da África Subsaariana.
A agência da ONU pede que os governos deem prioridade à prevenção da gravidez na adolescência investindo em estratégias.
Ao todo, 35 entidades regionais incluindo de governos e sociedade civil, setor privado e bancos multilaterais estão cooperando no Movimento de Gravidezes Zero de Adolescentes.
Motor para políticas públicas
A iniciativa quer se converter no motor da região para que o tema seja parte das ações de desenvolvimento, promovendo opções de financiamento, gerando dados e evidências para políticas públicas e programas.
Alguns países têm mostrado resultados na redução de até 50% da taxa de fecundidade na adolescência em curto espaço de tempo.
As medidas com mais resposta são:
- Estratégias nacionais de redução da gravidez em adolescentes com participação de todos os setores e níveis do Estado e da sociedade civil.
- Garantir o acesso à informação sobre serviços de saúde sexual e reprodutiva de qualidade, incluindo métodos contraceptivos e modernos de larga duração.
- Criar legislações que proíbam o matrimônio infantil e uniões maritais precoces.
- Promover a participação e a autonomia das adolescentes.
- Assegurar o acesso à educação integral sobre sexualidade.
- Entre as ações de maior impacto, a priorização de investimentos em comunidades com maior grau de vulnerabilidade figura como a mais importante.
O Unfpa acredita que investir US$ 1,8 bilhão pode ajudar a reduzir a taxa de fecundidade em 36% até o próximo ano nessas comunidades.
A agência da ONU lembra que para cada dólar, empregado na prevenção da gravidez na adolescência, existe um retorno de US$ 15 e até US$ 40 dependendo do país.
Fonte e Imagem: ONU News