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Ucrânia pode ser primeiro país em guerra a se tornar candidato da UE

Sob a presidência da França, o Conselho Europeu se reúne nesta quinta-feira (23) para se pronunciar sobre a candidatura da Ucrânia à União Europeia. Os líderes do bloco também vão debater os impactos da guerra à segurança alimentar no mundo. É sobre esses assuntos que vamos conversar com a nossa correspondente em Bruxelas, Leticia Fonseca-Sourander.

Esta é a primeira vez que a União Europeia abre as suas portas a um país em guerra. Após o sinal verde dos líderes, que deverá ser anunciado neste Conselho Europeu em Bruxelas, a Ucrânia ainda terá um longo caminho para percorrer antes de aderir ao bloco.

Kiev terá que implementar uma série de reformas e medidas em relação ao combate à corrupção, lavagem de dinheiro e liberdade de imprensa até o final do ano.

“Sabemos que os ucranianos estão dispostos a morrer pela perspectiva europeia”, afirmou a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, ao recomendar a candidatura da Ucrânia, na semana passada.

Apesar do parecer favorável da Comissão Europeia ainda há muito trabalho a fazer pelo governo de Kiev, como a modernização da administração pública e o reconhecimento dos direitos fundamentais das minorias.

Segundo o executivo europeu, nos últimos anos a Ucrânia já vinha se aproximando gradualmente do bloco, tendo adotado cerca de 70% das regras, normas e padrões da UE graças a um Acordo de Associação, assinado em 2016.

Com uma população de 41 milhões de habitantes, e um Produto Interno Bruto (PIB) per capita inferior a US$ 4 mil, a Ucrânia é o segundo país mais pobre da Europa, atrás da Moldávia.

Desde a invasão da Rússia, em 24 de fevereiro, as receitas fiscais do país diminuiram mais de 80%, e o PIB caiu para metade. Segundo as estimativas do FMI, a Ucrânia precisa de US$ 5 bilhões de assistência financeira a cada mês só para manter o Estado funcionando.

Processo de adesão pode demorar anos

Nos processos anteriores, nenhum dos países candidatos estavam prontos para aderir à União Europeia no dia em que iniciaram as negociações. Na verdade, o processo é bastante longo e tem várias etapas.

A União Europeia tem de negociar em várias áreas políticas diferentes, complexas e muito técnicas. Bruxelas pode decidir abrandar ou acelerar as negociações até certo ponto, se quiser incluir a Ucrânia. Nas negociações de adesão com a Turquia e com os países dos Balcãs, por exemplo, o protocolo tem durado muitos anos.

Outro ponto importante é que as negociações podem ser congeladas caso haja retrocesso político.

Em entrevista ao canal Euronews, o especialista em expansão do bloco, Richard Youngs, do think tank Carnegie Europe, disse que “a questão é saber se a União Europeia pode exercer influência suficiente para garantir que a Ucrânia seja robusta, do ponto de vista institucional, e totalmente democrática no momento em que estiver pronta para se juntar ao bloco europeu”.

Segundo ele, “o fato da Ucrânia não estar pronta agora não é razão para não iniciar o processo de adesão e tentar garantir que esse protocolo aconteça o mais rápido possível”.

O Conselho Europeu desta quinta-feira irá ainda discutir a adesão da Moldávia e da Geórgia. Líderes da Sérvia, Albânia e República da Macedônia do Norte também estão em Bruxelas para avançar na integração da região com a UE.

Guerra na Ucrânia provoca fome no mundo

Na agenda dos líderes europeus, estão as últimas evoluções em relação à invasão da Rússia na Ucrânia, incluindo os impactos na crise global de segurança alimentar. A Organização da ONU para a Alimentação e a Agricultura (FAO) tem alertado para os efeitos devastadores da guerra.

A Ucrânia é a principal fornecedora de cereais no mundo e o conflito pode levar milhões de pessoas no continente africano para ainda mais perto da fome. A invasão russa também aumentou os preços de grãos, óleos de cozinha, combustível e fertilizantes em todo o mundo.

No início da semana, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, afirmou que Moscou é a único responsável pela escassez de cereais e grãos na África e que o continente é “refém” de uma guerra iniciada por Vladimir Putin.

Fonte: RFI

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