Há quase 40 anos no poder, os tucanos de Teresina afirmam que vão fazer, nesse segundo turno das eleições, a campanha da comparação. A população não entende bem esse tipo de comparação, se em todo esse período não houve outro modelo de gestão no Palácio da Cidade, a não ser o do PSDB. Se for para comparar com o Governo do Estado, fica algo sem noção, porque são dois níveis distintos de poder e, ainda assim, as grande obras da cidade foram realizadas por gestores que ocuparam o Palácio de Karnak.
Ao longo de três décadas, a gestão da Prefeitura de Teresina passou praticamente por três mãos: Francisco Gerardo, que com a morte de Wall Ferraz assumiu o poder; Firmino Filho e Sílvio Mendes, todos tucanos. Só o Firmino está no poder há 16 anos. Não há modelos para comparação, porque não houve alternância de poder.
Na verdade, algo explodiu em meio à zona de conforto dos tucanos em Teresina nessa reta final da campanha passando agora para o segundo turno. De repente, o PSDB se dá conta de que, depois de 34 anos, está com seu poder realmente ameaçado na capital, e logo por um candidato, Dr. Pessoa, do MDB, que não tem o peso político gigantesco que sempre teve o tucanato nessas três décadas de comando, e que agora contam até o com senador Ciro Nogueira, progressista de destaque na lista da Operação Lava Jato, do Ministério Público Federal.
O atual prefeito Firmino Filho (PSDB) escolheu Kleber Montezuma, ex-secretário de Educação, para lhe substituir. Há aquela lenda de que o prefeito de quatro mandatos elegeria até um poste, pelo poder que detém ramificado em todos os quadrantes da cidade através de seus cabos eleitorais: as chamadas lideranças comunitárias.
Mas parece que este ano, esse instrumento de poder está sendo superado por outra força: a insatisfação popular. É o que mostra pesquisa do Ibope nacional, assinalando que Teresina é uma das 15 capitais do Brasil em que a população não quer mais a continuidade da gestão. Quer mudanças muitas ou em sua totalidade, como acentua o levantamento.
O candidato do MDB, Dr. Pessoa, já vinha sendo líder absoluto de intenção de votos em todas as pesquisas realizadas desde o ano passado. Mas isso não preocupava os tucanos, porque sempre tiveram poder de fogo na reta final das campanhas, muitas vezes, como agora, utilizando-se de uma estratégia considerada criminosa: obras de pequeno porte às vésperas das eleições em ruas da periferia para dar discurso às suas lideranças no convencimento do voto da população. Mas este ano aconteceu algo inesperado: chuvas fora de época acabaram por carregar grande parte de asfaltos jogados de qualquer jeito em ruas e ruelas. Houve alagamentos e transtornos, porque são obras sem planejamento técnico confiável, sem plano de drenagem. Apenas para segurar o voto.
Um vereador, então candidato a reeleição, descaradamente, em reunião com moradores e a presença do prefeito Firmino Filho e seu candidato, Kleber Montezuma, chegou a pedir asfaltamento de ruas em bairro da zona Sul para que ele pudesse ter os votos que precisava para se reeleger e eleger o postulante tucano ao Palácio da Cidade.
O fato é que temos pela frente, e pela primeira vez, uma situação inesperada para os tucanos, que têm em suas fileiras algo em torno de nove partidos, incluindo o de Ciro Nogueira, presidente nacional do Progressistas, o “poderoso”. Dr. Pessoa só tem três, e agora pode reunir em torno de si todas as forças de oposição, atendendo a um chamado popular por mudanças.
Tucano é problema
Muitos problemas contribuem para essa que poderá ser a grande derrocada do PSDB no Piauí. Uma gestão truculenta, arrogante, que não ouve o povo em suas reais necessidades. É como se fosse uma família meio acomodada, depois de tanto tempo no comando, e que acaba adotando vícios muitas vezes inaceitáveis na gestão pública, porque acha que pode fazer o que bem entende.
Em toda campanha, os tucanos dizem sempre que têm um bilhão de reais para investir na cidade e gerar emprego e renda. Se fôssemos somar cada bilhão, Teresina seria uma cidade bem estruturada, sem problemas, por exemplo, de saneamento. Mas tucanos têm sido e têm trazido só problemas.
Há 30 anos, os teresinenses convivem com os mesmos problemas de falta de infraestrutura. Cada chuva representa um drama para a população, tanto de áreas nobres como da periferia. Na área da saúde, a população reclama de uma tal regulação que lhe deixa esperando eternamente por uma consulta, realização de exames e retorno. Teresina é hoje, e de muito antes da pandemia, a cidade do desemprego. Temos uma prefeitura que trava investimentos de quem quer criar seu próprio negócio. Tucano é problema.
Estamos aí com quase um ano inteiro de greve dos professores da rede municipal de ensino. Firmino Filho mandou zerar contracheques e suspender atendimento em saúde da categoria grevista, mesmo sendo o movimento considerado legal. Kleber Montezuma, em entrevista a um canal de televisão, deu a entender que, em assumindo, não vai dialogar com a entidade que representa os trabalhadores municipais.
Kleber Montezuma, como um ventríloquo, agora chama o seu oponente para a briga, para o debate. Ora, não há mais o que se debater com quem está no poder há quase 40 anos, e a cidade está parada no tempo, com alta mortalidade infantil, alta taxa de desemprego, educação feita para arrancar dinheiro do FUNDEB; déficit habitacional de mais de 40 mil moradias, saúde de péssima qualidade e desumana, transporte público desintegrado. O Orçamento Público serve mais grupos econômicos do que ao povo, funcionalismo mal tratado, baixos salários e sistema de gestão opressor. O que debater?
Kleber Montezuma e Firmino Filho agora afirmam que nesse segundo turno vão fazer comparações entre a Prefeitura de Teresina e o Governo do Estado. A população não entende bem esse tipo de comparação. A comparação devia ser feita entre as próprias gestões tucanas que sempre estiveram no poder. E se assim for, o resultado será o mesmo: problemas, frustração.
A população cansou de uma gestão cansada, que agora tenta comparar a si mesma, porque ficou no passado e perdeu horizontes.
Redação