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Putin autoriza filmes de guerra para doutrinar jovens em escolas da Rússia

Crianças russas a partir dos seis anos passarão a assistir filmes de guerra nas escolas, incluindo imagens da ocupação russa na Crimeia e reportagens ocidentais, a fim de criticar a perspectiva ocidental da guerra na Ucrânia — chamada pelo Kremlin de “operação militar especial” — e endossar “patriotismo” entre os mais jovens.

Segundo documentos obtidos pelo jornal The New York Times, uma das aulas prevê que declarações do presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, sejam utilizadas como exemplos de “falsificações” que podem ser disseminadas na sociedade russa.

Um questionário de verdadeiro ou falso aplicado após as aulas diz que “uma das medidas efetivas do conflito híbrido é a promoção de agentes de influência na população local” — ao qual a alternativa correta é “verdadeiro”.

Os planos fazem parte de uma lei sancionada pelo presidente da Rússia, Vladimir Putin, na última semana: ela cria um “projeto patriótico” para crianças nas escolas, com aulas que vão desde explicações russas sobre a situação geopolítica atual até a criação de um movimento juvenil patriótico semelhante aos existentes na União Soviética.

Autoridades russas disseram que Putin será convidado a chefiar o conselho supervisor do movimento, que buscará defender os esforços do governo para aumentar os valores patrióticos e russos entre crianças e jovens.

Na antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), as crianças aprendiam os valores soviéticos por meio de três organizações juvenis principais — os Pequenos Outubristas, os Jovens Pioneiros e o Komsomol.

A nova organização será aberta a todas as crianças a partir dos seis anos e será financiada pelo Estado, com início previsto em setembro.

A intenção, segundo o texto da lei, será “criar uma política unificada para a educação de crianças e jovens, em instituições educativas, sistematizar o trabalho de todas as organizações, comunidades e clubes infantis, ampliar os seus resultados, consolidar e intensificar o apoio aos menores”.

As aulas de história russa também deverão incluir novos tópicos, segundo um decreto também publicado pelo Ministério da Educação no mês de junho. Entre eles, aulas de “renascimento da Rússia como potência no século 21”, “reunificação com a Crimeia” e “operação militar especial na Ucrânia”.

Em um curso online oferecido para professores pelo Ministério, um funcionário de alto escalão do Kremlin, Aleksandr Kharichev, disse que “o patriotismo deveria ser o valor dominante do povo”.

Professores que falaram com a reportagem do The New York Times afirmaram que muitos profissionais se recusaram a implementar as aulas devido ao teor de propaganda. Apesar de serem proibidos de contra-argumentar em sala de aula, a solução encontrada por alguns é de ignorar as novas diretrizes e não mudar o currículo escolar.

“Você só precisa encontrar a força moral para não promover o mal”, disse um dirigente de uma escola privada em Novosibirsk, capital da região da Sibéria.

Uol com informações da RFI

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