Protestos no Cazaquistão deixaram 225 mortos; demissões no setor da energia revelam luta pelo poder
Os violentos protestos da semana passada no Cazaquistão, que começaram sob a forma de manifestações pacíficas contra o aumento dos preços do gás e dos combustíveis, deixaram 225 mortos, segundo um levantamento divulgado neste sábado (15) pela Procuradoria-geral do país. Na cúpula do poder, familiares do ex-líder autocrata Nursultan Nazarbayev, detestado pelos manifestantes, foram afastados de cargos que ocupavam em grandes empresas de energia.
Os violentos protestos da semana passada no Cazaquistão, que começaram sob a forma de manifestações pacíficas contra o aumento dos preços do gás e dos combustíveis, deixaram 225 mortos, segundo um levantamento divulgado neste sábado (15) pela Procuradoria-geral do país. Na cúpula do poder, familiares do ex-líder autocrata Nursultan Nazarbayev, detestado pelos manifestantes, foram afastados de cargos que ocupavam em grandes empresas de energia.
O balanço atualizado de vítimas da revolta popular no Cazaquistão é bem maior do que o anunciado anteriormente pelas autoridades. “Durante o estado de emergência, 225 corpos foram recebidos pelos necrotérios, 19 deles de membros das forças de segurança ou militares”, afirmou Serik Shalabaev, representante da Procuradoria-geral deste país da Ásia Central, durante uma coletiva de imprensa. Outros eram “bandidos armados que participaram de ataques terroristas”, acrescentou. “Infelizmente, os civis também se tornaram vítimas de atos terroristas.”
Até agora, a alta cúpula do governo havia reconhecido menos de 50 mortes. Uma contagem mais elevada de 164 mortos, que apareceu em uma conta oficial no aplicativo de mensagens Telegram na semana passada, foi rapidamente retirada.
Asel Artakshinova, porta-voz do Ministério da Saúde, disse que mais de 2.600 pessoas receberam atendimento em hospitais para tratar de ferimentos e que 67 estão internadas em estado grave.
As autoridades cazaques atribuíram a violência a “bandidos” e “terroristas” internacionais que, segundo eles, controlam os protestos. As manifestações começaram na região oeste do país, mas logo tomaram conta de Almaty, a cidade mais populosa do território.
A pedido do presidente Kassym Jomart Tokayev, tropas da Organização do Tratado de Segurança Coletiva, liderada por Moscou, ajudaram a conter a violência. Mas a retirada dos soldados já teve início na quinta-feira (13). Cerca de 12 mil pessoas foram detidas durante a onda de repressão.
Grupos disputam poder
O aumento dos preços do gás e dos combustíveis foi o estopim de uma revolta popular que expôs as deficiências da elite no poder nesta ex-república soviética. Independente desde 1991, após o desmantelamento da ex-URSS, o Cazaquistão foi governado durante três décadas por um líder autocrático, Nursultan Nazarbayev, de 81 anos. Durante este longo período, a população de quase 19 milhões de habitantes não se beneficiou dos recursos gerados pelas enormes reservas de urânio e petróleo, além de outros minérios existentes no solo cazaque. Nazarbayev acabou renunciando em 2019, mas deixou na presidência um herdeiro político, o atual presidente Tokayev.
Porém, após os distúrbios violentos dos últimos dias, nos quais manifestantes derrubaram estátuas de Nazarbayev e denunciaram a continuidade de um sistema corrupto e de riqueza concentrada nas mãos de uma pequena elite, Tokayev começou a tomar distância de seu mentor e acusou Nazarbayev de ter favorecido o surgimento de uma “casta de ricos” no Cazaquistão.
Neste sábado, dois genros do ex-presidente foram expulsos da direção de grandes empresas de energia. Dimach Dossanov deixou a presidência da empresa nacional de transporte de petróleo KazTransOil, e Kairat Charipbaiev, a da companhia de gás QazaqGaz (antiga KazTransGas), declarou o fundo soberano do Cazaquistão em um comunicado.
Analistas interpretam essas demissões como um sinal das lutas pelo poder em curso no país.
Com informações da AFP