Ex-aliado de Bolsonaro, o deputado Waldir Soares de Oliveira (PSL-GO), o delegado Waldir, declarou que a eleição do colega Arthur Lira (PP-AL) à presidência da Câmara foi impulsionada por emendas do chamado orçamento secreto. Segundo ele, os deputados que votaram em Lira puderam destinar R$ 10 milhões em emendas orçamentárias secretas para prefeituras. A revelação foi feita em conversas com o site The Intercept Brasil.
Lira foi alçado ao comando da Câmara em fevereiro. Com o apoio do Planalto, obteve 302 votos, bem mais que os 145 amealhados por seu principal adversário, o deputado Baleia Rossi (MDB-SP). Waldir conta que ele próprio recebeu a oferta. Mas só obteve a liberação de R$ 450 mil. Atribuiu o bloqueio do restante a uma “retaliação” do governo.
Quando Bolsonaro rompeu com o PSL, no final do ano passado, Waldir era o líder da bancada do partido na Câmara. Numa reunião interna, chamou o presidente da República de “vagabundo”. Prometeu “implodir” o governo. Os comentários vazaram. Ganharam as manchetes. Daí o bloqueio das emendas. “Sou um dos lobos maus do governo”, disse Waldir. “Eles acham que sou um lobo mau do governo.”
A prática de trocar votos pela liberação de emendas orçamentárias é antiga. Trata-se do velho toma-lá-dá-cá. Bolsonaro rendeu-se ao mecanismo já no primeiro ano de governo. Segundo Waldir, o governo liberou R$ 20 milhões em emendas para os deputados que votaram a favor da reforma da Previdência.
O que distingue o orçamento secreto é que os beneficiários recebem uma cota extra de emendas, permanecendo no anonimato. O relator do Orçamento da União se encarrega de subscrever as emendas. E os presidentes da Câmara e do Senado promovem o rateio, organizando a fila.
Criado na época em que a Câmara era presidida por Rodrigo Maia, o orçamento paralelo deu a Arthur Lira uma aparência de primeiro-ministro. “Ele é quem carrega o governo”, declarou Waldir. “Quem manda no governo hoje é o Lira. Não é o Bolsonaro, é o Lira.” Procurado, Lira não comentou as declarações de Waldir.
Neste ano de 2021, coube a Lira organizar a distribuição de R$ 11 bilhões em emendas secretas. Outros R$ 5,8 bilhões foram destinados ao Senado. Segundo Waldir, caberia ao presidente da Casa, senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), promover o rateio. Na verdade, Pacheco delegou a tarefa ao assessor Alexandre Silveira, que é suplente do senador Antônio Anastasia, também filiado ao PSD mineiro.
Por decisão do Supremo Tribunal Federal, o pagamento das emendas secretas está suspenso. A Corte determinou que sejam divulgados os nomes dos parlamentares brindados no escurinho com verbas públicas em 2020 e neste ano. Na última sexta-feira, a Polícia Federal requisitou autorização da Suprema Corte para investigar as emendas secretas.
Fonte: UOL/JS