Liz Truss renuncia ao cargo de premiê do Reino Unido
Deutsche Welle – A primeira-ministra do Reino Unido, Liz Truss, anunciou nesta quinta-feira (20/10) sua renúncia ao cargo, apenas seis semanas após assumi-lo e na esteira de um programa econômico que abalou o mercado e dividiu o Partido Conservador.
Com Truss, três premiês britânicos já renunciaram ao cargo desde que o Reino Unido votou por sair da União Europeia. Antes dela desistiram os também conservadores Theresa May (2016-2019) e Boris Johnson (2019-2022).
Em pronunciamento diante do Número 10 da Downing Street, Truss reconheceu não poder cumprir as promessas que fez quando estava concorrendo à liderança conservadora. A eleição de um novo líder do partido para substituir Truss, a pessoa a ocupar o cargo de premiê por menos tempo na história do Reino Unido, deverá ser concluída dentro da próxima semana.
A primeira-ministra enfrentou duras críticas principalmente por anunciar um pacote econômico focado na redução de impostos, que afundou a libra e fez os índices de aprovação dela e os do Partido Conservador despencarem.
“Assumi o cargo em um momento de grande instabilidade econômica e internacional. Famílias e empresas estavam preocupadas em como pagar suas contas, a guerra ilegal de Putin na Ucrânia ameaça a segurança de todo o nosso continente, e nosso país tem sido prejudicado há muito tempo pelo baixo crescimento econômico”, disse.
“Definimos uma meta para uma economia de baixo imposto e alto crescimento que tiraria proveito das liberdades do Brexit”, declarou. “Reconheço que, dada a situação, não posso cumprir o mandato para o qual fui eleita pelo Partido Conservador.”
A renúncia de Truss abre a disputa pela liderança do Partido Conservador e pelo cargo de premiê. Entre os cotados estão Rishi Sunak (segundo colocado na disputa anterior, que elegeu Truss), Penny Mordaunt (um ex-ministro da Defesa) e também o ex-premiê Boris Johnson, antecessor de Truss que continua sendo muito popular dentro do partido.
O novo chanceler, Jeremy Hunt, descartou participar da disputa. Sunak é popular entre parlamentares conservadores, mas os membros do partido preferem Johnson. Lideranças do Partido Conservador disseram que a escolha de um novo líder deverá estar concluída em no máximo uma semana. A próxima eleição no Reino Unido está marcada para daqui a dois anos.
A trajetória política
Liz Truss assumiu o cargo de primeira-ministra do Reino Unido no dia 6 de setembro, quase dois meses após a renúncia de Boris Johnson, em 7 de julho. Em uma eleição entre os conservadores, ela foi declarada a nova líder do partido com 57,4% dos votos.
Em um país governado pelo Partido Conservador nos últimos 12 anos, a parlamentar sobreviveu às crises internas e trilhou um rápido crescimento na carreira política, ocupando a chefia de diferentes ministérios: Justiça, Finanças, Comércio Internacional e, mais recentemente, do Exterior.
Enquanto vários de seus colegas sofreram desavenças e intrigas dentro do partido, ela sobreviveu até mesmo à onda de demissões após a queda de Theresa May, que deixou a chefia do governo britânico em maio de 2019.
Considerada leal e trabalhadora, Truss também saiu vitoriosa na última grande reforma ministerial de Boris Johnson, a quem apoiou até o final do mandato.
Principalmente quando era ministra do Exterior, trabalhou sua imagem em redes sociais como Twitter e Instagram. Postou fotos na Praça Vermelha, em Moscou, e em visita a tropas britânicas na Estônia.
Quando adversários questionaram sua competência – a exemplo da confusão que ela fez entre Mar Báltico e Mar Negro –, respondeu com fotos de sua visita à Ucrânia e jurou que faria frente a Vladimir Putin, algo que, para o Partido Conservador, é mais importante do que deslizes ocasionais de retórica.
Passado “ignorado”
Filha de uma enfermeira e de um professor de matemática, Truss teve uma criação mais voltada até mesmo para o lado esquerdo do espectro político. Levada a protestos antinucleares, por exemplo, resolveu dar um basta nesse passado, o que também se aplicou em relação ao seu início na política, no Partido Liberal, quando era estudante – um fato que ela tachou de “pecado juvenil”.
Truss agiu com igual indiferença em relação à sua transição de uma postura pró-União Europeia antes do referendo que levou ao Brexit, em 2016, para uma fervorosa defesa da saída do Reino Unido do bloco europeu.
Nos últimos anos, a parlamentar moveu-se consistentemente mais à direita, apresentando-se como uma firme defensora da doutrina conservadora.
Ao assumir o posto de premiê britânica, via-se como uma sucessora de Margaret Thatcher, que colocou a economia britânica no caminho do crescimento na década de 1980 por meio de medidas drásticas e polêmicas que incluíram privatizações e desregulamentações. Thatcher, no entanto, permaneceu durante 11 anos no poder.
DW Brasil – gb/lf/as (Reuters, DW, ots)