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Em primeiro dia de novo governo em Israel, Netanyahu se recusa a apertar a mão do sucessor

SÃO PAULO e JERUSALÉM | AFP e REUTERS – Um dia depois de perder o cargo de primeiro-ministro após 12 anos no comando de Israel, Binyamin Netanyahu mostrou que não deve facilitar a vida do novo governo ao se recusar a participar de uma cerimônia que marcaria a transferência de poder nesta segunda-feira (14).

O veterano político também não aceitou cumprimentar nem tirar foto com seu sucessor no cargo, o ultradireitista Naftali Bennett — que lidera uma ampla coalizão formada por oito partidos, incluindo uma sigla árabe e duas agremiações à esquerda.

Logo após ser eleito pelo Parlamento como premiê no domingo (13), Bennett tomou posse oficialmente no cargo. De acordo com a tradição, porém, uma cerimônia pública deveria acontecer nesta segunda para marcar a passagem de bastão, com Netanyahu simbolicamente entregando o cargo ao sucessor.

Como o ex-premiê não quis participar, o novo governo se encontrou apenas com o presidente Reuven Rivlin. Segundo a imprensa local, Netanyahu e Bennett se reuniram a portas fechadas por 30 minutos para acertar detalhes da transição e não devem ter nenhum outro tipo de encontro para tratar do assunto.

Além do próprio Netanyahu, alguns de seus antigos ministros também se recusaram a participar das cerimônias de posse nas pastas que estavam marcadas para esta segunda.

Em outro sinal das tensões no país, o agora ex-premiê —que passa a chefiar a oposição— se encontrou com os líderes dos partidos que ainda o apoiam e pediu ajuda para “resgatar o Estado e o povo de Israel” o mais rapidamente possível. “[O novo governo] pode ser derrubado se trabalharmos juntos e tivermos uma disciplina ferrenha. Se brigarmos, não vamos conseguir”, afirmou Netanyahu após a reunião, que aconteceu depois de sua rápida conversa com o sucessor.

O ex-primeiro-ministro afirmou ainda que a nova coalizão é baseada apenas em “fraudes, ódio e na busca pelo poder” e que ela é muito heterogênea para dar estabilidade ao país.

Israel vivia havia mais de dois anos uma crise política, período no qual foram realizadas quatro eleições. Todos os pleitos, porém, terminaram com resultados inconclusivos, sem que nenhum partido ou bloco tivesse maioria no Parlamento —o que permitiu a Netanyahu seguir no cargo de maneira interina. Assim, ele se tornou o mais duradouro premiê da história de Israel.

Grande parte da população, e dos próprios deputados, culpava Bibi —como o ex-premiê é conhecido— pela situação, já que sua figura polarizadora dificultava as negociações para a formação de um novo governo.

A solução encontrada foi unir em um mesmo bloco todos os partidos que se opõem a Netanyahu e, assim, conquistar a maioria no Parlamento, que tem 120 cadeiras. Foi isso que ocorreu no domingo, quando a Casa aprovou o novo governo com 60 votos a favor e 59 contrários.

Pelo arranjo, Bennett, que lidera a sigla de direita radical Yamina, deve ser o primeiro-ministro pelos próximos dois anos. Depois desse período, quem assume o cargo é o agora ministro das Relações Exteriores, Yair Lapid, que chefia a legenda de centro Yesh Atid, a maior sigla da coalizão.

Agora, o maior desafio do novo governo é manter o bloco funcionando apesar das desavenças políticas internas. Bennett, por exemplo, já foi assessor de Netanyahu e é ideologicamente muito mais próximo dele do que de alguns de seus novos parceiros, como o partido de esquerda Meretz e a sigla conservadora Ra’am —a primeira agremiação árabe a fazer parte oficialmente de um governo na história de Israel.

O primeiro grande desafio do premiê, aliás, deve ocorrer já nesta terça (15), quando está marcada uma marcha de grupos da direita nacionalista em Jerusalém. O ato foi autorizado pelo governo de Netanyahu e nesta segunda recebeu consentimento do novo ministro de Segurança Pública, o trabalhista Omer Barlev.

O temor é que o evento leve a um novo aumento de animosidade entre judeus e palestinos, já que a passeata deve passar por Jerusalém Oriental, inclusive chegando às proximidades da Esplanada das Mesquitas —os organizadores pediram autorização para que a manifestação entre no local, mas a polícia ainda não disse se vai permitir que isso aconteça.

O acesso que os muçulmanos têm ao local foi o estopim do conflito que eclodiu no mês passado entre palestinos e o Exército israelense, que durou 11 dias e terminou em um cessar-fogo precário.

Os palestinos reivindicam a região de Jerusalém Oriental, onde está a Esplanada das Mesquitas, como capital de seu futuro Estado, enquanto Israel considera que a cidade é indivisível e deve permanecer sob seu controle. “Isso é uma provocação à nossa população e uma agressão contra nossa Jerusalém e nossos locais sagrados”, afirmou o premiê da Autoridade Palestina, Mohammad Shtayyeh, nesta segunda.

O grupo radical Hamas, que controla a Faixa de Gaza e liderou o conflito recente contra Israel, afirmou que vai adotar represálias caso o evento ocorra conforme planejado.

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