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Em estádio cheio, Putin discursa sobre guerra: ‘Nunca tivemos tanta força’

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, discursou hoje em um estádio lotado em Moscou, capital russa, sobre a guerra na Ucrânia: “Nunca tivemos tanta força”. O pronunciamento marca o oitavo aniversário da anexação da península Crimeia pela Rússia, que ocorreu em 2014. Após o discurso, uma banda começou a tocar e os russos presentes nas arquibancadas começaram a gritar o nome do país.

Putin também exaltou o que seu país chama de “operação especial” para combater pessoas definidas como nacionalistas perigosos em território ucraniano. Hoje, o conflito entrou no 23º dia, com novos registros de ataques pela Ucrânia, inclusive no oeste do país.

“Nós vemos como está sendo heroica a ação dos nossos militares nessa operação. Eles estão sendo como um irmão de verdade, protegendo o outro contra balas com o próprio corpo”, disse Putin a milhares de pessoas com bandeiras da Rússia, fazendo cânticos nacionalistas e exibindo a letra “Z” no estádio Luzhniki. A letra passou a ser estampada em equipamentos das Forças Armadas russas e virou símbolo dos apoiadores da guerra.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, discursa em estádio lotado em Moscou - RIA Novosti Host Photo Agency/Ramil Sitdikov via Reuters - RIA Novosti Host Photo Agency/Ramil Sitdikov via Reuters
Discurso de Putin em estádio cheio marca o oitavo aniversário da anexação da Crimeia

Imagem: RIA Novosti Host Photo Agency/Ramil Sitdikov via Reuters

A guerra completou hoje 23 dias, após Putin enviar, em 24 de fevereiro, dezenas de milhares de soldados para a Ucrânia em um esforço para destruir as capacidades militares do país vizinho.

As forças ucranianas montaram uma acirrada resistência e o Ocidente impôs pesadas sanções à Rússia na tentativa de forçá-la a retirar suas tropas da Ucrânia.

Com um tom triunfalista, Putin também disse ter salvado a Crimeia da “degradação e do abandono” e que a população da península “colocou um obstáculo ao nacionalismo e ao nazismo que continuam existindo no Donbass”, região de maioria étnica russa no leste da Ucrânia que Moscou tenta conquistar.

“Foram vítimas de ataques aéreos [na Crimeia], e nós chamamos isso de genocídio. Evitar isso é o objetivo da nossa operação militar”, acrescentou o presidente, em referência à invasão à Ucrânia.

A Rússia exige a desmilitarização da Ucrânia, o compromisso de o país não entrar para a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e o reconhecimento da anexação da Crimeia e da soberania do Donbass.

Ataques em Kiev e Lviv

A guerra entre a Rússia e a Ucrânia chegou ao 23º dia com novos ataques a áreas residenciais da capital Kiev e a uma área próxima ao aeroporto de Lviv, perto da fronteira com a Polônia.

O Ministério da Defesa da Ucrânia disse que a Rússia tem apelado para “medidas extremas” após perder recursos e pessoal na guerra. “Eles estão realizando uma mobilização secreta”, disse, em comunicado, hoje, citando a atração de “voluntários” e também de “mercenários” da Síria.

Os russos, por sua vez, dizem estar “apertando o cerco” a Mariupol — cidade no sul da Ucrânia que teve 80% de suas residências destruídas e alvo de constantes ataques — com o apoio de separatistas do leste ucraniano.

Brasil não vai “dançar ao som dos Estados Unidos”, diz Lavrov

O ministro de Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, disse hoje que o Brasil não vai “dançar ao som dos Estados Unidos”. A declaração, segundo a agência de notícias russa Tass, foi dada em entrevista ao veículo de comunicação RT, ligado ao governo russo.

Na fala, Lavrov reclamava de sanções aplicadas pelos americanos e pela Europa contra a Rússia em razão da guerra que o país promove contra a Ucrânia.

A Tass escreveu que Lavrov declarou que “vários países, incluindo China, Índia, Brasil, México, não dançarão ao som dos Estados Unidos”. O ministro havia apontado que “a Europa praticamente parou de tentar defender sua independência diante dos Estados Unidos”, segundo relato da agência. Para ele, a pressão das sanções sobre o governo do presidente russo, Vladimir Putin, continuará, mas a Rússia está acostumada com isso —a Ucrânia, inclusive, está discutindo novas sanções à Rússia com a União Europeia.

Há jogadores que nunca concordarão com a existência de uma ‘aldeia global’ sob a liderança de um ‘xerife’ da América –são China, Índia, Brasil, México. Tio Sam vai dizer para eles fazerem isso
Sergei Lavrov, ministro das Relações Exteriores da Rússia

O presidente Jair Bolsonaro (PL) visitou Putin poucos dias antes de o russo iniciar a invasão ao território ucraniano. O Brasil tem se colocado neutro no conflito entre Rússia e Ucrânia. Na quarta-feira (16), modificou sua posição nas votações do sistema da ONU (Organização das Nações Unidas) e optou por se abster em uma resolução contra a Rússia. Esta semana, o Brasil também optou por não se somar a uma aliança contra a Rússia na OMC (Organização Mundial do Comércio).

“Deve-se dizer que a Rússia não é de forma alguma um dos países que estaria pronto para saudá-la”, acrescentou Lavrov.

Para ele, “os Estados Unidos estão lutando por um mundo unipolar”. “Não será uma ‘aldeia global’, será uma ‘aldeia americana’, talvez um salão americano onde todos dançam ao som dos mais fortes.”

“Se você olhar para o número de países que impuseram sanções contra a Rússia, verá que a maioria daqueles que se opuseram a nós o fizeram sob forte pressão, sob chantagem”, disse Lavrov

Segundo o relato da agência, para Lavrov, a Rússia “está pronta para cooperar com aqueles que estão prontos para agir com base no respeito mútuo”.

Guerra entra no 23º dia

Nesta sexta-feira (18), um ataque com mísseis atingiu uma área próxima ao aeroporto de Lviv, cidade ucraniana 550 quilômetros a oeste de Kiev, já próxima à fronteira com a Polônia —que recebeu mais de 2 milhões de refugiados ucranianos. Hoje, a ONU disse que há uma diminuição no ritmo da saída da população da Ucrânia, mas também alertou para a ameaça da fome no país.

Na capital Kiev, ao menos uma pessoa morreu em um ataque que atingiu um prédio residencial, segundo o serviço de emergências da Ucrânia.

Enquanto o conflito ainda acontece, lideranças internacionais tentam interceder para o seu fim. Hoje, os presidentes de Estados Unidos e China irão conversar sobre a guerra.

Aliada da Rússia, a China diz respeitar “soberania e integridade territorial de todos“; o governo chinês, porém, foi criticado pela Ucrânia por se mostrar contra o envio de armas ao país. Já o presidente americano, Joe Biden, foi alvo de críticas por parte do governo russo.

Em conversa com o governo alemão, Putin disse que a Ucrânia estaria travando as negociações de paz —em discurso hoje, o presidente disse que os russos nunca tiveram tanta força. A Alemanha fez um apelo por um cessar-fogo imediato.

 

Mapa Rússia invade a Ucrânia - 26.02.2022 - Arte/UOL - Arte/UOL
Imagem: Arte/UOL

 

Mísseis em Lviv

O prefeito de Lviv, Andriy Sadovyi, disse que uma fábrica de reparos de aeronaves que fica perto do aeroporto da cidade foi destruída pelo ataque, mas o terminal não foi atingido. Sadovyi afirmou ainda nas redes sociais que o trabalho na fábrica havia parado antes que os mísseis atingissem o local e não houve relatos de vítimas.

Segundo o Comando Aéreo “Oeste” da Força Aérea da Ucrânia, seis mísseis de cruzeiro foram lançados, “provavelmente, do Mar Negro”. “Dois mísseis foram destruídos por mísseis antiaéreos do Comando Aéreo Oeste”, diz comunicado do órgão. O Mar Negro está a cerca de 800 quilômetros de Lviv.

Chefe da administração militar regional de Lviv, Maksym Kozytsky disse que uma pessoa ficou ferida no ataque.

Prédio na capital

Em Kiev, “restos de foguete” causaram um incêndio em um prédio residencial de cinco andares no bairro de Podilskyi, segundo o serviço de emergências da Ucrânia.

Cerca de 98 pessoas foram evacuadas. O serviço relata ao menos uma morte e quatro feridos.

“Medidas extremas”

O Ministério da Defesa da Ucrânia disse hoje que a Rússia tem apelado para “medidas extremas” após perder recursos e pessoal na guerra. “Eles estão realizando uma mobilização secreta”, disse, em comunicado, hoje, citando a atração de “voluntários” e também de “mercenários” da Síria.

Os russos, por sua vez, dizem estar “apertando o cerco” a Mariupol —cidade que teve 80% de suas residências destruídas e tem sido alvo de constantes ataques— com o apoio de separatistas do leste ucraniano.

O Ministério da Defesa da Ucrânia diz que os russos estão “tentando criar uma imagem positiva distribuindo alimentos para a população civil”.

“Ao mesmo tempo, eles estão ativamente procurando e detendo ativistas pró-ucranianos, funcionários públicos, membros da Operação Antiterrorista/Operação de Forças Conjuntas e membros de suas famílias, bem como outros cidadãos que possam organizar resistência à ocupação.”

Já o Ministério da Defesa da Rússia diz que conseguiu “libertar” cerca de 90% do território da “República Popular de Lugansk”, área separatista do leste ucraniano, e que tem avançado em Donetsk.

Na região de Lugansk, o governo ucraniano indicou que “mais de 20 instalações residenciais e de infraestrutura foram destruídas durante a noite em Sieverodonetsk e Rubezhnoye”. Já o chefe da Administração Militar Regional de Donetsk, Pavlo Kyrylenko, disse que, nesta sexta, os russos lançaram um ataque com mísseis em Kramatorsk, cidade da região.

“Eles atingiram um prédio residencial e um prédio administrativo”, informou, relatando ao menos duas mortes e seus feridos. “Os russos são incapazes de travar uma guerra honesta entre os exércitos. Então, continuam a bombardear civis.” Na região de Donetsk, a Rússia estabeleceu uma zona de exclusão aérea sobre Donbass.

Em Mariupol, a Rússia diz que “unidades da República Popular de Donetsk, com o apoio das Forças Armadas Russas, estão apertando o cerco e lutando contra os nacionalistas no centro da cidade”. A cidade portuária está em uma das rotas de corredores de evacuação anunciadas pelo governo ucraniano nesta sexta.

UOL, com Reuters, AFP, Ansa e EFE

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